11/03/2013
Você precisa mesmo deste exame?
Mais de 20 entidades médicas americanas divulgam lista de testes e tratamentos normalmente prescritos, mas absolutamente
desnecessários
O crescimento na indicação de exames que não contribuem para o sucesso do tratamento levou 26 sociedades médicas americanas
a listar, cada uma, cinco testes e procedimentos dispensáveis na prática clínica. Divulgado na última semana, o levantamento
tem por base estudos provando que avaliações pedidas sem necessidade levam a uma ciranda perigosa: a realização de novos exames
e consultas sem que isso fosse preciso e risco de excesso de tratamento. Além disso, submeter uma pessoa a um exame de imagem
inútil, por exemplo, é expô-la de forma inconsequente e gratuita a uma dose de radiação.
Entre os procedimentos listados há alguns tão comuns que quase todos - médicos, inclusive - acreditam erroneamente serem
indispensáveis para o diagnóstico. Dificilmente alguém com dor nas costas sai do consultório sem a indicação de realizar um
exame de imagem, assim como uma pessoa com queixa de dor de cabeça raramente não é orientada a se submeter a uma eletroencefalografia.
Segundo o documento americano, porém, só deve fazer uma avaliação de imagem paciente com dor nas costas que apresentar os
sintomas por mais de um mês e meio. E quem tem dor de cabeça não precisa fazer eletroencefalografia. O teste não tem utilidade
para descobrir as causas da dor.
A iniciativa americana surge em um momento de intenso debate mundial sobre como usar de forma mais racional os recursos
técnicos disponíveis. A literatura médica registra que o exame clínico é responsável por cerca de 80% do diagnóstico. Os exames
deveriam ser mais pedidos para analisar a gravidade do problema, saber sua localização exata e prover indicações para o tratamento.
No entanto, o que se vê é o contrário: consultas que não duram mais do que cinco minutos e uma lista de exames que ocupa uma
página do receituário. "É comum que o paciente tenha uma consulta de três minutos e saia com exames para fazer em 15 dias",
diz o médico Abrão Cury, presidente da Associação Paulista de Clínica Médica. "Está tudo errado." Uma das provas disso é a
estimativa de que cerca de 35% dos exames laboratoriais não são sequer retirados do laboratório. Ou seja, não fizeram a menor
diferença nem para o paciente nem para o médico.
Foi a má qualidade de consultas que levou a gaúcha Ledi Sabino, 55 anos, a submeter-se a várias ressonâncias magnéticas
para descobrir a origem de uma dor de cabeça. Ela chegou a fazer duas eletroneuromiografias, um exame invasivo para avaliar
as condições dos nervos. "Recusei-me a fazer o terceiro." Até hoje Ledi não descobriu o que causa sua dor.
O número de pedidos de exames é ainda maior para pacientes com doenças crônicas ou graves. "Isso fica evidente em internados
na UTI", diz o médico Rodrigo Biondi, da Associação Brasileira de Medicina Intensiva. "O resultado deve agregar algo que altere
o tratamento, mas não é o que acontece na maioria das vezes." Situação semelhante ocorre na avaliação cardíaca pré-operatória
para cirurgias de baixo risco. "Para muitas operações esses exames são dispensáveis", explica Rui Fernando Ramos, presidente
da regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Cardiologia.
A discussão é particularmente importante porque exames pedidos sem critério podem levar a consequências desastrosas. Um
estudo da Universidade de Newscastle, no Reino Unido, por exemplo, concluiu que crianças que se submetem a muitos exames de
tomografia computadorizada têm três vezes mais risco de desenvolver câncer no cérebro ou leucemia. Por razões como essas,
os especialistas recomendam que o paciente se habitue a questionar seu médico sobre a real necessidade de fazer um exame.
Fonte: IstoÉ