26/11/2009

Visão bioética sobre os rituais da morte

O momento é propício para o aprofundamento das discussões sobre esta temática entre os profissionais, estudantes e por que não também entre pacientes, familiares e cuidadores.




No passado as pessoas agonizavam e morriam no interior de suas casas em um ritual público na presença de vários familiares, inclusive crianças e também dos amigos, que entravam e saíam livremente do quarto para as últimas despedidas antes do velório e as cerimônias religiosas que antecediam o cortejo fúnebre.


Hoje os pacientes em fase terminal, mesmo que não tenham chances de recuperação, podem permanecer internados por longos períodos nas unidades de terapia intensiva. Lá, os familiares julgam estar melhor assistidos, apesar de permanecerem afastados do convívio familiar, com visitas restritas aos horários permitidos pela instituição. Nessas ocasiões é comum poupar o paciente de comentários sobre a gravidade do seu estado de saúde, tendo como princípio de que não é bom que o doente saiba que o seu fim se aproxima.


O despreparo para lidar com as questões relacionadas à morte não são apenas dos familiares, mas também dos profissionais de saúde. Estes, entram e saem dos quartos, dão medicamentos, verificam sinais vitais dos pacientes, mas não conversam com eles sobre a morte e o morrer, mesmo quando se sentem inseguros e ansiosos em partilhar as suas dúvidas. Nestas situações, quando muito, recebem respostas em linguagem técnica não compreensível para a maioria, quando na realidade o que eles desejam naquele momento é obter uma resposta sincera para as suas dúvidas e receber o conforto de uma palavra amiga.


Cuidar dignamente de uma pessoa que está morrendo significa respeitá-la na sua integralidade, com seus medos, pensamentos, sentimentos, valores e esperanças.

Os avanços científicos e tecnológicos das últimas décadas estão a serviço da medicina, porém, eles não podem estar dissociados da humanização na assistência, do alívio da dor e do sofrimento atendendo as suas necessidades de estar próximo de seus entes queridos, receber assistência de uma equipe interdisciplinar e, acima de tudo, que lhe seja garantido o direito de uma morte digna e de não ser submetido a tratamentos fúteis e desnecessários quando as perspectivas reais de recuperação forem nulas.


As questões relacionadas à terminalidade da vida e a limitação de tratamentos de suporte em pacientes com doenças incuráveis e terminais ainda são considerados tabus no Brasil.


Com a finalidade de discutir este tema e suas interfaces com os aspectos éticos e legais, cuidados paliativos em pacientes oncológicos, idosos e crianças, terminalidade na UTI entres outros temas, profissionais e estudantes de diferentes áreas estarão participando da II Jornada Paranaense de Cuidados Paliativos e 3º Encontro de Bioética de Londrina a ser realizado no período de 2 a 4 de dezembro de 2009, no Crystal Palace Hotel em Londrina.


O evento está sendo organizado pelo Núcleo de Estudos em Cuidados Paliativos de Londrina em parceria com a Sociedade Brasileira de Bioética - Regional do Paraná e o Conselho Federal de Medicina.


O momento é propício para o aprofundamento das discussões sobre esta temática entre os profissionais, estudantes e por que não também entre pacientes, familiares e cuidadores? Os organizadores do evento esperam desta forma estar contribuindo para uma melhor qualidade de atendimento aos pacientes portadores de doenças em fase terminal no nosso país.



KIYOMI NAKANISHI YAMADA é especialista em Bioética e membro da Sociedade Brasileira de Bioética -Regional do Paraná, em Londrina


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