15/10/2007

Visão - Córnea artificial reduzirá tempo em fila

Estima-se que 25 mil brasileiros estejam hoje na fila de espera para um transplante de córnea, 3 mil só no Rio de Janeiro. Por uma média de três anos o paciente aguarda a realização da cirurgia, enquanto sofre com dificuldade de visão, coceira, fotobia, lacrimejamento e outros sintomas. Mas agora uma solução de alta tecnologia pode encurtar esse tempo e ajudar os que não conseguiram sucesso com o implante. Cientistas alemães avançaram no desenvolvimento de uma córnea artificial, que substitui totalmente a humana.

- A nova córnea é feita com um polímero diferente e tem design e propriedades na superfície que trazem chances inéditas de sucesso - comemora Joachim Storsberg, do Instituto Fraunhofer, da Alemanha.

Os cientistas, financiados pela União Européia, estão se preparando para fazer os primeiros testes com humanos no início do ano que vem, depois de sucesso com experiências com coelhos.

- Com essas córneas artificais no mercado brasileiro, com certeza atenderemos um número expressivo de pacientes que aguardam em fila - prevê Miguel Padilha, do conselho consultivo da Sociedade Brasileira de Oftalmologia e vice-presidente do Banco de Olhos do Rio.

Já houve muitas tentativas de se produzir córneas artificiais, sobretudo nos EUA e na Austrália, mas até agora não se atingiu sucesso pleno. Isso se deve principalmente pelas características conflitantes exigidas do material com que a córnea deve ser fabricada:

- Ela precisa apresentar alta afinidade com o olho, para não ter rejeição, e ao mesmo tempo causar uma certa intolerância para que tecido conjuntivo e vasos não cresçam e tornem a córnea opaca, prejudicando a visão - explica Padilha.

A equipe alemã acredita ter encontrado a solução. O polímero é modelado no formato da córnea e recoberto de forma seletiva. Nas bordas, é criada uma película com proteínas que permitem a fixação das células da córnea natural, fixando o implante. A parte central da córnea artificial é recoberta com um polímero hidrofílico, que absorve as lágrimas e mantém a característica original de transparência, não permitindo o crescimento de células.

Outro desafio foi evitar que as proteínas que fazem a fixação das bordas da córnea artificial fossem destruídas no processo de esterilização termal. A solução foi construí-las planas, sem a estrutura tridimensional das grandes proteínas.

Padilha explica que às vezes é preciso usar colírios na base de imunossupressores por um longo período, para evitar a rejeição da córnea artificial. E isso pode acarretar descoloração e opacidade.

- Por isso, os testes com córneas artificiais tem sido restritos às pessoas que apresentam deformidades ou lesões graves da córnea, como as por queimaduras químicas, ou já foram submetidos a um ou dois transplantes sem sucesso - diz o médico. - Portadoras de doenças auto-imunes e aqueles com olho seco severo ou cicatriz derivada de infecções repetidas não são bons candidatos.

A córnea artificial traz uma melhora alta na visão, mas não chega à perfeição. Ainda não se sabe quando o produto estará disponível no mercado brasileiro nem qual será o período de validade do implante.

- As córneas artificiais são uma ótima idéia, mas o objetivo não é substituir totalmente o transplante - opina Andrea Zin, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia.

No Rio, vários oftalmologistas fazem o transplante, disponível na rede pública. Todas as córneas saem do Banco de Olhos e o índice de sucesso da cirurgia é de 90%.

- Precisamos sensibilizar a população para doar mais e encurtar a fila de espera - alerta Padilha.

A córnea fica por cima da íris e serve para proteger e convergir os raios luminosos para a retina, ajudando na focalização dos objetos.


Fonte: Jornal do Brasil

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