19/08/2008
Vigilância encontra falsa receita de emagrecedor
Segundo órgão fiscalizador de remédios da cidade de São Paulo, quase 5 mil guias podem ter sido falsificadas para compra
de anorexígenos
Com apenas seis meses de vigência, a receita que torna mais rígido o controle de medicamentos para emagrecer já se tornou
alvo de falsificação no município de São Paulo. Uma via simulando o timbre da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São
Paulo foi usada para tentar comprar anfepramona. A substância, um anorexígeno que é a base de remédios como o Hipofagin, pode
causar surtos psicóticos e hipertensão, se não utilizada adequadamente. As farmácias paulistanas foram avisadas pela Coordenadoria
de Vigilância Sanitária (Covisa) sobre a possibilidade de existirem até 4.999 pedidos falsos feitos com o nome do hospital.
É a primeira fraude identificada na capital desde que a receita começou a valer, em janeiro. O novo modelo
foi adotado justamente para conter o uso indiscriminado de anorexígenos - o País é um dos maiores consumidores desses produtos.
Em São Paulo, eles são o principal motivo de falsificações descobertas pela Covisa, segundo Ricardo Antônio
Lobo, gerente de Produtos e Serviços do órgão. A Secretaria Municipal de Saúde não informou o número de fraudes com o modelo
antigo, que também servia para outros medicamentos.
O objetivo do fraudador era conseguir 60 cápsulas de 60 mg de anfepramona - quantidade adequada para os casos
de tratamento de obesidade - em uma farmácia de manipulação no centro da cidade. O produto, de tarja preta, pode custar cerca
de R$ 20 para quem tem a receita. Na internet, há anúncios de venda sem receita a R$ 80 por 60 cápsulas de 75 mg.
A Covisa levantou a hipótese de que o documento tenha sido forjado com base em uma receita da categoria B,
que era a utilizada até o ano passado para prescrever os anorexígenos e hoje serve apenas para outros medicamentos controlados.
As notificações B2 são administradas pela Covisa, que emite uma determinada numeração específica para um médico
ou um estabelecimento de saúde que a solicita.
A receita usada, 01.300.430, não foi destinada à Santa Casa. O hospital, entretanto, tinha autorização para
usar uma receita com o mesmo número da categoria B, e não B2. O fraudador teria tentado incluir o algarismo 2 para comprar,
com o documento antigo, anfepramona.
"Tentaram clonar, mas ficou grosseiro", diz Lobo. As 4.999 unidades vetadas estão no intervalo de numeração
que consta do pé da receita falsa, de 01.299.501 a 01.304.500. "A gente imagina que pode ter, como precaução, uma falsificação
nesse intervalo. Será que ele falsificou tudo isso? Não temos como saber."
No campo de identificação do médico, consta o carimbo de um clínico-geral que atende obesos e prescreve os
inibidores. Ele pediu para não ser identificado. A assinatura, diz, é falsa. O golpe só foi descoberto, afirma, porque a farmácia
não reconheceu letra e assinatura no pedido e o procurou.
De acordo com José Ruben de Alcântara Bonfim, da coordenação executiva da Sociedade Brasileira de Vigilância
de Medicamentos (Sobravime), os anorexígenos têm efeito pouco duradouro no tratamento para emagrecer. "Se a pessoa parar de
tomar o remédio, volta a engordar", diz. "A chance de dano é superior aos benefícios."
O Brasil é um dos maiores consumidores de anorexígenos do mundo, segundo a Junta Internacional de Fiscalização
de Entorpecentes. Em 2006, o país foi o principal usuário mundial de anfepramona, com 86% do consumo mundial.
Fonte: Estado de São Paulo