22/02/2007
Validação de diplomas em Cuba desagrada
A intenção do governo federal de validar automaticamente os diplomas de medicina emitidos em Cuba gerou uma grande preocupação
entre os médicos brasileiros. O Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Médica Brasileira (AMB) divulgaram ontem
uma nota oficial questionando o Ajuste Complementar ao Acordo de Cooperação Cultural e Educacional. O temor dos profissionais
de saúde é que os formados fora do país não consigam suprir os requisitos técnicos mínimos para oferecer à população um atendimento
médico adequado às necessidades locais.
Outras duas justificativas para a condenação da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é com relação ao domínio
da língua portuguesa pelos médicos estrangeiros e a suposta discriminação com os médicos formados em outros países. Solicitando
que todos os médicos formados fora do Brasil passem por uma avaliação antes de terem seus diplomas validados para atuar como
médicos no país, eles redigiram e encaminharam para o Ministério da Educação (MEC) uma Proposta de Diretizes para a Revalidação
de Títulos de Medicina no Brasil.
Para o CFM, é inadmissível que não seja feita uma avaliação mínima dos conhecimentos técnicos, mesmo que os alunos sejam
oriundos de países como Cuba, onde as escolas de medicina contam com uma excelente reputação. "Não queremos dizer que são
maus profissionais, mas eles são preparados para atender às necessidade da população cubana, além das diferentes estruturas
de ensino dos dois países.
Eles chegam aqui e não conseguem entrar numa residência médica pois as nossas exigências de conhecimento são superiores
às encontradas lá", argumentou o diretor do CFM, Alceu Pimentel.
Atualmente, para um médico formado numa escola estrangeira conseguir exercer a profissão no Brasil, é preciso validar
o diploma através de uma avaliação realizada em uma universidade pública brasileira. Segundo estatística apresentada pelo
CFM, apenas 10% dos médicos formados fora do país conseguem ser aprovados na prova teórica. A polêmica com Cuba trouxe de
volta uma discussão envolvendo uma grande quantidade de estudantes brasileiros que estudam em diversos países da América Latina.
Só na Bolívia são quase três mil estudantes e há uma grande pressão para que os diplomas fornecidos pelas escolas particulares
bolivianas não sejam reconhecidos, já que as próprias universidade públicas daquele país não aceitam alunos transferidos nem
os créditos das matérias cursadas nas unidades particulares. "Os alunos se esforçam e querem exercer a profissão, porém a
preparação deles é muito ruim. Mas isto não coloca Cuba numa situação melhor e por isso devem exigir a covalidação dos diplomas
para estudantes de todos os países", acrescentou Pimentel.
Outro problema grave com a validação automática diz respeito não aos conhecimentos teóricos, mas à própria capacidade
de comunicação entre paciente e médico. No caso dos profissionais estrangeiros, a proficiência na língua portuguesa não seria
testada, o que pode acarretar situações inusitadas, na qual o médico pode não entender a descrição dos sintomas apresentados
durante a consulta clínica no consultório. "Já pensou uma mãe no interior do Nordeste explicando a doença do filho para um
médico que só entende espanhol? Como ele poderia aplicar o conhecimento?", questionou Alceu.
Fonte: Correio da Bahia (BA) - 23/02/2007