06/01/2021
A pediatra Mariângela Simão, que é natural de Curitiba e formada pela UFPR, este ano recebeu do CRM-PR a Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico
O entendimento atual da OMS (Organização Mundial da Saúde) é de que a vacina contra a covid-19 é um bem público neste momento e não deve haver discriminação na distribuição, afirmou a diretora responsável pelo acesso a medicamentos da entidade, Mariângela Simão, em entrevista à GloboNews. Natural de Curitiba, ela é formada pela Universidade Federal do Paraná e especialista em pediatria, com mais de 40 anos dedicados à saúde pública. Este ano, recebeu a Medalha de Lucas - Tributo ao Mérito Médico, honraria concedida pelo Conselho de Medicina do Paraná em reconhecimento pelo seu trabalho médico-social.
A declaração ocorre depois de clínicas particulares brasileiras abrirem negociação com um laboratório indiano de vacinas. Mariângela Simão disse que é preciso esperar mais informações sobre a iniciativa, mas salientou que em todo o mundo a aquisição tem sido feita pelos governos.
"A informação com que a OMS trabalha é que a imensa maioria da produção neste momento está comprometida com compras governamentais. A situação do Brasil é bastante peculiar e precisaria verificar melhor a expectativa, quando viria, como seria autorizada", disse.
No último fim de semana, a ABCVAC (Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas) informou que o setor negocia a compra de 5 milhões de doses da Covaxin, imunizante contra a covid-19 fabricado pela farmacêutica indiana Bharat Biotech. A aprovação rápida dessa vacina na Índia tem levantado questionamentos de especialistas.
A Covaxin obteve no sábado (2) recomendação de uso emergencial na Índia, mas os dados sobre a sua eficácia ainda são desconhecidos. A ABCVAC enviou uma delegação ao país para negociar a compra da vacina.
A entidade espera que as doses cheguem ao Brasil em março, mas este calendário depende de aprovações da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Uso emergencial de vacinas
Mariângela Simão ainda destacou na entrevista que existe a expectativa de a OMS autorizar, entre janeiro e fevereiro, o uso emergencial da vacina contra a covid-19 desenvolvida pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, a principal aposta do Ministério da Saúde para imunizar a população brasileira. A aprovação da OMS serve como norte para países que não têm agências reguladoras fortes.
No mesmo período, disse Mariângela, deve haver autorização da vacina contra o coronavírus desenvolvida pela chinesa Sinopharm de Pequim. Até o momento, a OMS autorizou apenas o imunizante da Pfizer, em caráter emergencial. A aprovação possibilita que a Organização pan-americana de Saúde (Opas) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) adquiram doses e distribuam a países.
"(Além da Pfizer), temos vacinas que estão sendo analisadas em fase adiantada. A gente espera que entre janeiro e fevereiro tenha autorização emergencial de outras duas caso os documentos estejam certos", disse Mariângela, que depois confirmou que as duas vacinas em questão eram a da Astrazeneca e da Sinopharm.
Em relação à Coronavac, vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, Mariângela limitou-se a dizer que a OMS aguarda os dados para emitir opiniões. "A Sinovac ainda não apresentou o dossiê completo".
Origem do coronavírus
Mariângela Simão chamou de "paranoia" a teoria de que o novo coronavírus foi criado em laboratório. "A principal hipótese continua sendo a origem animal", lembrou.
Integrantes da OMS estão na China para estudar as origens do microrganismo, mas enfrentam resistências do governo local, fato criticado publicamente pela organização multilateral.