03/06/2011
Uso precoce de maconha está associado com piora no funcionamento cerebral
Pesquisa publicada pelo British Journal of Psychiatry avaliou 104 usuários crônicos que iniciaram o consumo da erva
antes dos 15 anos
Os usuários regulares de maconha, que iniciam o uso da droga antes dos 15 anos apresentam pior desempenho em testes que
avaliam funções cerebrais, quando comparados com aqueles que começam mais tarde, de acordo com nova pesquisa publicada na
edição de junho do British Journal of Psychiatry. Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) dizem
que o estudo sugere que o consumo precoce de maconha pode ter efeitos prejudiciais no funcionamento cognitivo das pessoas.
Os pesquisadores avaliaram 104 usuários crônicos de maconha que foram submetidos a uma série de testes neuropsicológicos.
Estes testaram as funções executiva, atenção, capacidade de formar conceitos abstratos, habilidades visuais, motoras e flexibilidade
mental.
Dos 104 usuários crônicos de maconha, 49 começaram a usar a droga antes dos 15 anos de idade (usuários precoce). Os restantes
55 começaram a usar após os 15 anos de idade (usuários de início tardio).
Em média, o grupo de início precoce tinha usado maconha por 10,9 anos - o que equivale a um consumo durante a vida estimado
de 6.790 baseados cada um. O grupo de início tardio tinham usado maconha durante uma média de 8,7 anos - o que equivale a
5.160 baseados cada um. Outras 44 pessoas serviram como grupo de controle, pois não fizeram uso de maconha e também fizeram
os testes cognitivos.
Não houve diferenças de QI ou escolaridade entre os três grupos. No entanto, o grupo de início precoce teve desempenho
significativamente pior do que o grupo de início tardio e do que o grupo controle em tarefas de atenção sustentada, de controle
dos impulsos e relacionadas ao funcionamento executivo. Por exemplo, em um teste de classificação de cartas, o grupo de início
precoce cometeu mais erros que o grupo controle (10 vs 6,44) e completou menos categorias (2,77 vs 3,5). Não houve diferença
significativa no desempenho entre o início tardio e grupos de controle.
Déficit cognitivo
"Detectamos que o início precoce de maconha está relacionado com maiores déficits no funcionamento cognitivo", disse a
pesquisadora Maria Alice Fontes. "Sabemos que a adolescência é um período em que o cérebro parece ser particularmente vulnerável
aos efeitos neurotóxicos da maconha."
De acordo com a pesquisadora, estudos de imagem cerebral mostraram que o cérebro antes dos 15 anos ainda está se desenvolvendo
e amadurecendo, assim a exposição à maconha durante este período pode ser mais prejudicial e levar a menor flexibilidade mental
no futuro. "É possível que as pessoas que começam a usar maconha numa idade mais avançada podem ser capazes de compensar os
seus déficits cognitivos, do que as pessoas que começaram a consumir maconha numa fase anterior do desenvolvimento do cérebro",
afirmou.
Fonte: Inpad/Unifesp.