25/09/2014
Vander Guimarães
A Rede Cegonha visa implementar uma rede de cuidados para assegurar às mulheres o direito ao planejamento reprodutivo e a atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério (pós-parto). A iniciativa do Ministério da Saúde do Brasil, lançada em 2011, também busca para as crianças o direito ao nascimento seguro e ao crescimento e desenvolvimento saudáveis. Ao propor organizar uma Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil que garanta acesso, acolhimento e resolutividade, o impacto final que se espera das ações é a redução da mortalidade e da morbidade materna e infantil.
Por meio do pacto estabelecido em 2000 com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil traçou como Objetivos do Milênio para 2015 uma diminuição nesses coeficientes de mortalidade. Muito elevados à época e bastante distantes daqueles valores considerados aceitáveis pela OMS, convivíamos então com quase 30 mortes de crianças no primeiro ano de vida para cada grupo de mil nascidas vivas. Já a mortalidade materna estava acima de 80/100 mil nascidos vivos, ou seja, em cada grupo de 100 mil mulheres que tinham filhos vivos, 80 morriam de complicações relacionadas à gestação, parto e puerpério, seja de forma direta ou indireta. A meta a ser alcançada era reduzir esse número para 35/100 mil nascidos vivos.
No que tange à redução da mortalidade infantil, a meta foi atingida, e os dados mais recentes do Ministério da Saúde do Brasil sinalizam para uma taxa de 16 mortes infantis/mil nascidos vivos. Esse coeficiente ainda é diferente dos obtidos em países do Primeiro Mundo (abaixo de 10 mortes/mil nascidos vivos), mas representa um avanço quando comparado aos números de 15 anos atrás.
A pesquisa "Nascer no Brasil: inquérito nacional sobre parto e nascimento" (Fiocruz/Ministério da Saúde), divulgada em junho de 2014, mostra números ainda mais preocupantes no que diz respeito à assistência materna. Embora a cobertura de pré-natal já atinja 70% das nossas gestantes, mais da metade delas inicia o acompanhamento tardiamente, após a 12ª semana de gestação, e um quarto delas não recebe o número mínimo de consultas preconizado pela OMS (seis consultas).
A morbimortalidade nessa população está aumentada e isso pode ser também justificado pelo fato de 52% dessas mulheres terem a cesariana como via de parto, enquanto o recomendado pela OMS seria uma porcentagem de até 15%. Também é grande o número de mulheres que desejariam o parto normal e não têm a expectativa concretizada.
As condições inadequadas de parto, aliadas a uma assistência pré-natal incompleta e uma evolução insatisfatória no pós-parto, contribuem para que ainda convivamos com taxas muito elevadas de mortalidade materna e dificultam sobremaneira a redução desse coeficiente como pactuado nos Objetivos do Milênio.
Ao propor uma rede integrada de acesso e aparelhamento do pré-natal, que garanta atendimento das gestantes desde o início da gravidez, com realização dos exames de rotina, número adequado de consultas e um encaminhamento para uma unidade de alto risco se isso se fizer necessário, o componente pré-natal da Rede Cegonha tenta garantir uma evolução favorável até o parto.
Ter uma maternidade referenciada, que atenda bem, pode minimizar os riscos de um desfecho ruim da gestação. O atendimento à puérpera, com consultas de revisão do parto e o planejamento familiar, com oferta de métodos contraceptivos, permitirão uma livre escolha de como e quando uma nova gravidez será planejada.
A Rede Cegonha ainda trabalha com o componente da logística, que visa não somente oferecer uma rede hospitalar articulada, dando a garantia de vaga (Vaga Sempre) para a mulher que precisa do suporte hospitalar para ter o bebê, assim como pode facilitar o acesso até a maternidade.
Por fim, após o nascimento da criança, ela deverá ser acompanhada em visitas domiciliares e ambulatórios nos seus dois primeiros anos de vida, fase de maiores riscos, a fim de garantir o melhor para o seu crescimento e desenvolvimento.
O que se pretende com a adoção dessas boas práticas é ter mães e crianças saudáveis, com coeficientes de morbidade e mortalidade reduzidos, comparáveis aos de países em que a assistência às gestantes e aos filhos é considerada segura e eficaz.
Artigo escrito por Vander Guimarães, médico e professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (FMP/Fase).
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