10/05/2019
Ursula Bueno do Prado Guirro
Feliz Dia das Mães para você, que não pode segurar uma criança nos braços.
Talvez não conseguiu engravidar e luta com a infertilidade; ou a sua gestação foi finalizada com um sangramento, abortamento, curetagem, parto de um nascido morto ou, ainda, a sua criança morreu com alguma idade.
As pessoas desconhecem a sua dor e, possivelmente, você mesma não sabia o estrago que isto tudo faz. É dor genuína daquelas que não têm analgésico.
Mas era para suspeitar que a sociedade não soubesse lidar com o seu luto. É curioso que não exista uma palavra para nomear a dor de quem não tem filho, pois aqueles que não têm os pais são os órfãos, os que perderam o cônjuge são os viúvos, mas os que perderam os filhos não têm um nome para a sociedade chamá-los.
As pessoas têm medo das suas emoções. Alguns podem evitar falar contigo sobre filhos, educação, festinhas e outros assuntos infantis. Aqueles que ousam te perguntar, em geral, darão conselhos como: “em breve você terá outro filho”.
Será que realmente outro filho ocupará este espaço vazio? Outro filho será outra história e não merece esta responsabilidade antes de nascer.
Suas lágrimas dão medo às pessoas, que preferem falar que tudo vai dar certo. Será que já não deu muita coisa errado e você não queria apenas ser acolhida?
Aquelas que lutam com a infertilidade, com frequência ouvem o “daqui a pouco você irá engravidar”. Só que toda hora uma amiga comunica que engravidou e o tal “daqui a pouco” parece nunca chegar.
Se o seu bebê morreu num aborto inesperado, tem má-formação, morreu na barriga ou numa complicação de parto, por que você não a gente não pode se referir a ele ou ela por um nome? Como é voltar para casa com o berço montado e não ter ninguém para ninar?
E quando o seu filho morreu mais tarde? Pode ser doença, violência urbana ou outra infelicidade. Parece que um pedaço seu morreu. Como é continuar a viver sem essa parte?
São tantos por quês sem resposta...
O desejo de cuidar nasce muito antes de se ter um filho parido. E não precisa ser mulher para sentir isso. Pode ser homem ou mulher com desejo de cuidar de alguém. Basta ser humano. Se até bicho sofre a morte do filhote, por que a gente não sentiria?
Minha sugestão a quem quer te acolher neste Dias das Mães é que pergunte como você está, mas que ouça verdadeiramente a resposta e as suas lágrimas. Que te dê espaço para falar sem te calar com uma frase clichê como “tudo vai dar certo”.
Uma mãe sem filho é mãe?
Sim, é mãe! Na maternidade parida na dor e criada na ausência, no colo vazio e ignorada por toda a sociedade.
Meu feliz Dia das Mães é para você que não segura alguém nos braços e quem tem o ninho vazio.
Ursula Bueno do Prado Guirro é médica anestesiologista, mestre e doutora em Medicina, professora de Bioética e Cuidados Paliativos do curso de Medicina da UFPR e conselheira do CRM-PR. Atua com humanização e cuidados na terminalidade da vida.