05/10/2010
Um problema com os planos de saúde
Uma das necessidades das famílias de classe média do Brasil atual é o plano de saúde. A presença de um plano corporativo é
critério importante a analisar na hora de avaliar uma proposta de emprego, e quem não conta com essa facilidade acaba contratando
um na pessoa física. Quando você leva em conta o preço de alguns exames e tratamentos de alta tecnologia, percebe que não
dá para ficar sem. No entanto...
Cinco meses para marcar uma consulta num oftalmologista. Sete meses para achar espaço na agenda de um ginecologista. Prazos
do SUS? Não: esses são números de clientes de planos de saúde em Curitiba. A causa dessa demora está em uma queda de braço
entre as administradoras e o corpo médico, com prejuízo para os pacientes. Estes já pagam pelo convênio médico por acreditar
que a saúde pública é demorada e ruim.
O último capítulo dessa novela ocorreu na semana passada, em um encontro na capital que reuniu representantes da Associação
Médica do Paraná, da Comissão Estadual de Honorários Médicos, da Sociedade Paranaense de Pediatria e de outras instituições.
Nessa conversa, foi sugerido aos pediatras de Curitiba um descredenciamento em massa dos planos de saúde que não se comprometerem
com um nível "aceitável" de remuneração.
Quem seguir essa orientação deverá cumprir os prazos de carência dos planos, que variam de 30 a 90 dias, e então passará
a cobrar pelas consultas. "Essa é uma decisão individual dos profissionais", diz o pediatra londrinense Milton Macedo de Jesus,
diretor de Defesa Profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria, que esteve presente ao encontro. "Mas não tem como pagar
para trabalhar." O movimento é dos pediatras, mas a tendência é que seja abraçado por outras especialidades. O valor pago
aos médicos varia de um plano para outro, e mesmo dentro do mesmo convênio pode haver diferenças em razão do volume de consultas
ou procedimentos. Em geral, fica perto de R$ 40 por consulta. Os médicos pretendem, pelo menos, dobrar esse valor. Seu argumento:
todos os anos a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) autoriza as administradoras de planos a reajustar suas mensalidades,
mas o valor repassado aos médicos não tem reajuste há mais de cinco anos.
A diferença é visível, por exemplo, nas demonstrações financeiras da operadora Amil (atenção: o exemplo da Amil é citado
aqui não porque ela é melhor ou pior do que outras operadoras, mas pelo fato de ela ser a única empresa do setor com capital
aberto e, portanto, com balanços facilmente verificáveis). Comparando o primeiro semestre de 2007 com o mesmo período de 2010,
verifica-se que o número de beneficiários cresceu de 3 milhões para 5,08 milhões - um aumento de 69%. A receita com mensalidades
teve um aumento da mesma ordem: 67,28%. Já os pagamentos a médicos, clínicas, laboratórios e hospitais aumentaram 52,65%,
bem menos. Sinal de que deve haver realmente um problema. "É preciso fazer uma correção, porque os meus funcionários têm reajuste
todo ano, as contas de luz e telefone sobem todo ano, os cursos de atualização que nós fazemos também custam mais", argumenta
o médico.
Quem tem filho pequeno vai ficar diante de uma escolha difícil, que Macedo de Jesus define assim: "O cliente vai ter de
decidir se faz a migração para outro plano de saúde, que seja aceito pelo pediatra, ou então vai pagar a consulta particular".
Segundo turno
Interessante esta nossa eleição para presidente. O primeiro turno teve como personagem principal um sujeito - Lula - que
não era candidato, mas que era lembrado todo o tempo. Parecia que Dilma Rousseff era candidata à reeleição, tal a forma como
se referia às realizações do atual governo como resultado de sua ação direta. Por outro lado, Serra concentrava-se em combater
o atual governo (uma tarefa inglória, porque a população está realmente satisfeita com o que foi alcançado em termos de emprego
e renda, principalmente).
Nas próximas quatro semanas, o eleitor terá a chance de atrair o debate para os planos reais dos candidatos, sem recorrer
apenas ao desempenho de antecessores. Afinal, como todo investidor inteligente sabe, rentabilidade passada não é garantia
de performance no futuro. E essa é uma agenda que passa, certamente, pela economia e pelas finanças dos brasileiros. Não sei
vocês, mas eu gostaria de saber como os candidatos a presidente lidariam com os seguintes temas:
- juros bancários - os juros básicos do Brasil são os mais altos do mundo, mas os consumidores adorariam poder pagar "apenas"
os 10,75% ao ano da Selic em seus financiamentos ou empréstimos bancários. A grandeza das taxas é tal que qualquer deslize
torna uma dívida impagável. O que os candidatos propõem para trazer essa variável a níveis que possam ser considerados normais
na comparação com outros países?
- caderneta de poupança - em algum momento será necessário mudar a fórmula de remuneração das cadernetas de poupança,
para adaptá-la a uma realidade de juros mais baixos. Como os candidatos fariam isso, sem aniquilar a atratividade da caderneta?
- previdência - como os candidatos pretendem capitalizar a Previdência Social para que ela possa atender aos segurados
nas próximas décadas, levando em conta que a média de idade da população será cada vez mais alta?
Há várias formas de um novo governo influenciar no que ocorre nas suas contas, e essas são apenas algumas das maneiras
mais diretas. Melhor ficar de olho.
Coluna Financês de Franco Iacomini, publicado no jornal Gazeta do Povo