Em abril de 2020, o presidente Jair Bolsonaro sancionou
a lei que autoriza a telemedicina para todas as áreas da saúde enquanto durar a crise ocasionada pela pandemia
de Covid-19. De lá para cá, o que gerava muitas discussões na classe médica se tornou uma questão
de necessidade. Em um ano de telemedicina em meio à pandemia, pacientes e equipes médicas não só
se adaptaram, mas identificaram vantagens e o que é necessário melhorar nesse tipo de atendimento.
Para o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina
(CFM), Donizetti Giamberardino Filho, coordenador dos estudos para implementação da futura resolução/regulamentação
da telemedicina, a pandemia serviu como um verdadeiro empurrão. Tornou-se algo disruptivo para a telemedicina.
Um ano de telemedicina: experiência
do paciente e do médico
Até
então, uma resolução de 2002 do CFM regulamentava a prática, mas a própria entidade promovia
consultas públicas para uma reedição do documento quando estourou a pandemia de Covid-19. Naquele momento,
entre as discussões estavam as melhores formas para a realização da teleconsulta, que é apenas
uma das modalidades da telemedicina. Na pandemia, em função da situação de calamidade, a telemedicina
passou a ser regulamentada por meio de lei federal, de forma transitória e excepcional. Após isto, o CFM voltará
a ser o responsável pela regulamentação da prática.
“Tivemos uma grande discussão sobre o assunto em 2020 e, provavelmente,
ela será analisada no plenário brevemente. Enquanto estiver a crise sanitária, ela pode até ser
aprovada pelo nosso plenário, mas não entra em vigor”, explica Giamberardino Filho.
Enquanto isto, vale o que está descrito na lei federal 13.989/2020.
A teleconsulta, em função das características da pandemia, ganhou uma grande proporção,
seja para as primeiras orientações sobre a Covid-19, seja para o acompanhamento de pacientes em diferentes áreas.
Na consulta a distância, o médico deve seguir o Código de Ética da mesma forma como se estivesse
fazendo um atendimento presencial. “A responsabilidade ética é a mesma”, enfatiza.
O vice-presidente do CFM acredita que, neste um ano de telemedicina
em meio à pandemia, houve muita improvisação e a fiscalização não pôde atuar
de forma mais rigorosa. De acordo com ele, uma das principais preocupações é com a segurança dos
dados e a privacidade do paciente.
“O
que preconizamos: que você consulte em uma plataforma que tenha toda a segurança possível, com nível
de segurança com criptografia. Defendemos consultas agendadas, com médicos conhecidos, com os quais você
tenha confiança. E quanto a essas práticas, com comunicação por telefone ou videochamada, até
podem ser feitas, mas o médico fica totalmente desprotegido. Não terá como se defender caso haja questionamentos”,
declara.
Giamberardino Filho diz
que a plataforma para a teleconsulta deve ter a mesma formalidade e privacidade que existiriam em uma consulta presencial.
“O médico, por exemplo, não pode atender enquanto está dirigindo com outra pessoa do lado. Assim
como o paciente não pode se consultar com pessoas passando atrás dele”, exemplifica.
Ele aproveita para enfatizar que a telemedicina é muito
interessante para o acompanhamento do paciente já com um diagnóstico. Giamberardino Filho vê com cautela
o primeiro atendimento a distância. “Uma dor abdominal, por exemplo: pode ser nada e pode ser tudo. Por isso,
nosso cuidado com a primeira consulta”, afirma.
A rotina de quem já tem um diagnóstico seria a de consultas de retorno, apresentação
de exames e obtenção de receitas para a sequência de um tratamento já estabelecido, o que poderia
ser feito por meio de teleconsultas, segundo Giamberardino Filho. “Sempre seremos mais conservadores com a primeira
consulta. Defendemos que o atendimento médico é fruto de uma relação interpessoal, que gera confiança.
A telemedicina é muito útil no seguimento do doente, já foi analisado e confia no seu médico.
As primeiras consultas devem ser vistas com muito mais cuidado”, considera.
Um ano de telemedicina em meio à pandemia: e o futuro?
A telemedicina é um caminho sem volta, na opinião
do representante do CFM. Para ele, no pós-pandemia, parte dos pacientes vai preferir a teleconsulta, enquanto outros
continuarão indo a todas as consultas presencialmente.
Além disso, os aprendizados obtidos neste um ano de telemedicina em meio à pandemia
podem gerar oportunidades para além das consultas a distância na rede privada. “Será, por exemplo,
mais uma oportunidade para a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) se comunicar melhor. A telemedicina poderá
com certeza evitar transporte de pacientes em longas distâncias”, frisa.
Resolução do CFM: outras discussões sobre
a telemedicina
A resolução
do CFM sobre telemedicina - que será analisada pelo plenário da entidade - traz uma série de princípios,
e um deles é o da autonomia: o médico atende a distância se ele quiser, assim como o paciente aceita esse
tipo de atendimento se desejar. Nada poderia ser imposto.
“Considerando essas duas autonomias, defendemos que há necessidade de formalização
do termo de consentimento. Até para ficar claro que, em muitas consultas, o médico dirá que haverá
necessidade de um atendimento presencial, dependendo do caso. Essa consulta deverá ser transformada em presencial”,
indica Giamberardino Filho.
A resolução
também trata sobre a autonomia do registro do prontuário. O tema pode ainda ganhar uma resolução
específica sobre plataforma de atendimento e registro de banco de dados.
FONTE: SAÚDE DEBATE