03/02/2009
Tratamento da raiva
Garoto é curado e país cria protocolo para tratar doença
Primeiro paciente brasileiro a sobreviver e se curar da raiva humana - os exames revelam que ele está livre do vírus
- o adolescente Marciano Menezes da Silva, de 16 anos, deixa hoje a unidade de terapia intensiva do Hospital Osvaldo Cruz,
onde se encontra desde outubro, quando foi mordido por um morcego. Ao completar ontem 116 dias de tratamento, transformou-se
em um marco para a medicina brasileira. Até então, a única coisa a fazer em caso de raiva no país era sedar o paciente e esperar
por sua morte.
A partir de agora, no entanto, o Brasil ganhará um protocolo para o tratamento da enfermidade. O caso de Marciano será
discutido em Recife, na próxima semana, em evento que reunirá especialistas brasileiros e estrangeiros, ao final do qual serão
apresentadas as recomendações de terapia. Segundo o coordenador médico da UTI de Doenças Infecciosas da instituição, Gustavo
Trindade, o garoto está consciente, interagindo bem, e se comunicando por gestos e pelo olhar. Mas tanto Trindade quanto o
infectologista Vicente Vaz acreditam que é cedo para avaliar a parte cognitiva do paciente.
- A situação dele é estável e de recuperação lenta. Acreditamos, no entanto, que o convívio com o pai ajudará muito,
como normalmente ocorre com doenças neurológicas - disse Trindade.A raiva tem longo período de incubação.
Dependendo do paciente, a doença pode se manifestar de um mês a um ano após a mordida. No caso de Marciano, os sintomas
apareceram 30 dias após o ataque: salivação excessiva e agitação.
Os exames realizados no hospital, em Recife, acusaram inflamação no cérebro e na medula. Ele chegou ao hospital no dia
10 de outubro e começou a receber drogas para sedação e o antiviral amantadina.
Depois passou a receber a biopterina, substância fabricada na Suíça e que é utilizada no tratamento de diversas doenças.
Todos os procedimentos foram baseados na experiência do médico americano Rodney Willoughby que, em 2004, conseguiu tratar
uma paciente, no primeiro caso de cura registrado no mundo.
Substância no cérebro é a chave da cura
No Brasil, tão logo uma pessoa é atacada por animais transmissores da raiva, o Ministério da Saúde recomenda como profilaxia
a vacinação. Mas como até agora não havia cura conhecida, não existe protocolo para o tratamento da doença. Seguindo as recomendações
americanas, o garoto recebeu o medicamento biopterina.
O tratamento foi criado pelo médico americano ao notar, em sua paciente, que o nível de biopterina em seu cérebro se
encontrava baixo. Ele resolveu medicá-la com a substância, acreditando que a droga ajudaria a adolescente a enfrentar a doença.A
menina foi totalmente curada.
No caso de Marciano, para determinar o volume da substância a ser usado, os médicos enviaram amostras de seu líquor
(líquido que envolve a medula e o cérebro) para os EUA. Com os resultados, eles dosaram a quantidade suficiente de biopterina
necessária para repor a substância do mesmo nome produzida pelo cérebro.
Agora Marciano tem um longo caminho a percorrer: livre da raiva, terá que se submeter a sessões de fisioterapia para
vencer as sequelas deixadas pela doença e pelo longo período de hospitalização.
Fonte: O Globo