17/07/2020
Roberto Issamu Yosida
A pandemia nos colocou num clima de guerra e catástrofe. Situação de exceção. A Medicina ficou de mãos atadas porque não há medicamento específico para a doença inédita no mundo.
Então, questões da academia foram para as ruas. Tornaram-se assunto popular. E motivo de política. Diante da falta de ciência, surgiram hipóteses e tentativas empíricas.
Nesse cenário apocalíptico, as terapias e seus partidários e pregadores iniciaram uma outra guerra. A guerra da vaidade, da impregnação obstinada de uma ideia, da crença inabalável e das certezas cheias de esperanças.
De um lado, os que defendem a metodologia científica e as verdades estatísticas. De outro, da arte da Medicina e da experiência pessoal. De qual lado ficar ou qual partido tomar nesses tempos de binária posição?
Talvez a verdade esteja no equilíbrio entre a experimentação e o tempo necessário para que surjam comprovações e evidências. Quem sabe a combinação de fármacos em determinado momento específico da doença e em determinado paciente seja a verdade que se procura mundo afora. O tempo dirá. E a perda de uma chance combinada com o fator álea, terá sido perdida.
Numa guerra vale tudo. É onde se pode experimentar ou onde se pode ter a compaixão pelo próximo. Esse ato compassivo pode se ministrar o que se pede dentro da autonomia de cada ser humano.
Então, a incerteza não permite tomar partido e sim deixar para que fatores múltiplos que vão desde a fé até a ciência tenham o espaço garantido no arsenal da guerra.
As orientações mudam a cada hora; sim, estamos aprendendo com a pandemia. Certamente aprenderemos a nos preparar para a próxima que virá. Ou quem sabe apareça um estudo que aponte o caminho. Até lá conviveremos com possibilidades que se moldam a cada conjunto de fatores, assim como um acidente aéreo não acontece por uma falha, mas por uma conjunção delas. O tratamento pode igualmente ser uma combinação de ações, lugares, medicamentos e outros que nem de longe se vislumbra no dia de hoje.
*Roberto Issamu Yosida é presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná.
**As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.