Continuar informando a população com base em evidências científicas. Essa é
uma das missões do novo presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI),
, que assume o posto nesta quinta-feira (13). O infectologista
ficará à frente da SBI nos próximos dois anos e falou ao Portal G1 sobre as prioridades da entidade,
autoteste, vacinação infantil, fim da pandemia e fake news.
O novo presidente, que era vice
da entidade, substitui o Dr. Clovis Arns da Cunha, também professor da Universidade Federal do Paraná e que
presidiu a SBI ao longo de quase dois anos de pandemia pela Covid-19, desenvolvendo destacado papel no combate à doença
tanto do ponto de vista médico como também institucional, propagando as necessárias medidas preventivas
à transmissão do coronavírus. Saiba mais AQUI sobre a eleição e os integrantes da nova diretoria da SBI
para o biênio 2022-2023, que tem na composição como coordenadora de comunicação a Dra. Carla
Sakuma de Oliveira Bredt, coordenadora do Curso de Medicina da Unioeste (Cascavel) e que esteve à frente da Sociedade
Paranaense de Infectologia.
Fonte de informação confiável
Para Chebabo, a pandemia vem mudando a cada onda. Primeiro, a onda de muitas mortes.
Depois, veio a delta, com a população parcialmente vacinada. Agora, a explosão de casos com a ômicron.
A prioridade da SBI é continuar informando a população com dados baseados na ciência, e também
atualizar as medidas, frente às mudanças de perfil da pandemia.
Ele também lembrou que, nos próximos dois anos, a SBI vai voltar a informar
sobre outras doenças infecciosas que ficaram "esquecidas" durante esse tempo de Covid-19. "Temos que nos reposicionar
sobre outras doenças em relação às quais sempre tivemos atuação, como HIV, hepatite,
arboviroses [dengue, chikungunya]. Essas doenças ficaram de lado e agora vemos o retorno delas. Estamos esperando um
aumento no número de casos de arboviroses", completa Chebabo.
O combate à desinformação
Durante a pandemia, além do vírus, os especialistas precisam lidar com
a desinformação. As chamadas "fake news" se proliferam rapidamente e as sociedades científicas estão
a todo momento desmentindo os negacionistas.
"É
sempre muito cansativo. Como conseguem inventar teorias tão absurdas e as pessoas acreditarem? Por outro lado, olha
tudo o que conseguimos nesse período de pandemia. Mesmo com fake news, vemos uma adesão da população
à vacinação de forma importante. Vimos também a adesão de adolescentes, quando houve esse
ataque muito maior em relação à vacina, a população aderindo", diz o infectologista.
Ele lembra que o chamado "tratamento precoce",
que usa medicamentos ineficazes contra a Covid-19, já ficou para trás.
"Teve um momento em que as pessoas acreditaram, usaram, mas agora ninguém mais
fala em cloroquina, ivermectina. O tempo é capaz de separar o que é ruim, o que é lixo, o que não
presta, do discurso baseado na ciência. A população não é idiota, ela entende". Para o infectologista, apesar de cansativo, o combate à
desinformação vale a pena.
"Todas
as pandemias tiveram fake news, mas no final lembramos daqueles que trilharam o caminho da ciência. No final das contas,
a história faz o papel dela: separa os vendedores de ilusões de quem realmente está trilhando o caminho
correto".
Vacinação
das crianças
Infectologistas
da SBI estiveram presentes na audiência pública convocada pelo Ministério da Saúde na última
semana para discutir a vacinação infantil. Chebabo reforça que a entidade é a favor da imunização
das crianças e que o trabalho em informar segue em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
"Qualquer processo de vacinação e
combate a uma doença imunoprevenível é um processo de proteção coletiva. Quanto maior o
número de vacinados, melhor é a resposta em termos de controle de epidemia, da doença. Quanto mais ampliarmos
o número de pessoas imunes e vacinadas, menor será o espaço de circulação do vírus",
explica o infectologista.
Apesar de o número
de óbitos na população infantil parecer "pequeno" (menos de 400), ele lembra que são crianças
que poderiam estar vivas. "Dizem 'são poucas crianças', mas se for seu filho, é 100%. Sabemos que a vacina,
além de reduzir mortalidade, reduz também outros eventos deletérios, Covid longa, alterações
do sistema nervoso central, desenvolvimento, internações, traumas para as crianças. A vacina é
segura, já está bem demonstrado de que não há riscos. A doença é muito mais grave
do que qualquer evento adverso que a vacina possa causar", completa.
"Transformamos a história natural da Covid-19 com a vacina. Transformamos uma doença
que era altamente letal, com uma taxa de letalidade importante, para uma doença cujo risco de morte é muito
mais baixo em pessoas que se vacinaram corretamente", destaca Chebabo.
Fim da pandemia?
O médico diz que é muito difícil fazer previsões sobre o fim da pandemia.
Ainda veremos os impactos da Covid-19 na saúde nos próximos anos (sequelas da Covid longa, por exemplo). Além
disso, muitos países seguem com cobertura vacinal baixa, o que aumenta o risco de novas variantes. No entanto, a tendência
é que, daqui para a frente, vejamos ondas menos severas da doença.
"Desde o inicio, falamos que os impactos dessa pandemia iriam durar em torno de 2 até
5 anos. Mas a tendência é que, com essa quantidade de pessoas vacinadas e infectadas, a gente transforme a forma
como a doença se apresenta, sendo mais leve. Teremos um menor impacto, mais social e não com óbitos.
Essa é a esperança que a gente tem", explica o presidente da SBI.
Autotestes no Brasil
O Brasil está entre os países que menos testam no mundo. Para Chebabo, antes de pensar
em autoteste, o país precisava ter uma política de testagem ampla, com o apoio do Ministério da Saúde.
"O autoteste é uma ferramenta que ajuda
na questão do acompanhamento. A pessoa pode fazer o teste para saber se ainda está positiva, mas principalmente
na prevenção. Ela pode se testar para poder evitar a transmissão. Mas vivemos em um país continental,
com desigualdade muito grande e achar que o autoteste vai resolver o problema da pandemia no Brasil é não conhecer
o país em que vivemos", alerta.
A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) precisa aprovar a liberação do autoteste
no país, mas algumas perguntas precisam ser respondidas, na opinião de Chebabo: ele será gratuito? Será
acessível? Ou só resolverá o problema da população de classes média e alta?
"Estamos usando o autoteste como se ele fosse resolver
o problema de testagem no Brasil. Mas antes precisamos ter o acesso. Usamos pouco a rede básica de saúde, principalmente
para a testagem. O Ministério da Saúde deveria comprar testes, implementar nos municípios. Esse foi o
nosso grande erro, não investir numa estrutura de testagem ampliada, utilizando as UBSs e criando centros de testagem
em algumas situações. É muito mais um problema de falta de investimento nos testes do que em estrutura",
aponta.
Fonte: Portal G1, com CRM-PR