16/02/2009

Terapia gênica é fraca contra vírus da Aids

Primeiro teste para avaliar eficiência de tratamento mostra que não há redução significativa da carga viral de pacientes.Por outro lado, tratamento é seguro e as células de defesa aumentaram nas pessoas tratadas, em relação às que receberam apenas placebo




A terapia gênica no tratamento da Aids é promissora, mas na prática ainda está longe de poder substituir o uso de antirretrovirais. É o que mostram os resultados do primeiro teste clínico para avaliar a eficácia da terapia gênica no combate ao HIV, publicados em artigo de Ronald Mitsuyasu, da Universidade da Califórnia (EUA), e colegas na revista científica "Nature Medicine".

Houve uma pequena melhora nos níveis de linfócito T CD4- (células que coordenam a defesa do organismo e que são ao mesmo tempo destruídas pelo HIV) nos indivíduos tratados, em comparação àqueles que receberam placebo. Porém, não houve redução da carga viral nos pacientes. O teste foi feito com 74 pacientes. Eles receberam ou placebo ou células-tronco de sangue (glóbulos brancos em estágios iniciais de desenvolvimento) contendo uma sequência de RNA -espécie de auxiliar do DNA. Essa sequência de RNA, chamada pelos médicos de OZ1, atua como uma enzima que ataca o RNA do HIV, impedindo-o de produzir duas proteínas-chave.

A OZ1 se mostrou segura, e não causou efeitos adversos durante o tratamento -ao contrário dos antirretrovirais, que costumam provocar efeitos colaterais nos pacientes. Segundo o artigo, o estudo indica que a terapia gênica é segura para tratar pessoas com HIV e pode ser desenvolvida como uma terapia convencional para Aids. Os autores do trabalho, animados, afirmam no documento publicado que o estudo é o "maior avanço na área".

Para o infectologista Esper Kallás, pesquisador da Universidade de São Paulo, "os resultados obtidos, embora modestos, mostram que a manipulação genética das células é uma forma viável de tentar tratar doenças humanas".

Para ele, que não demonstra a mesma empolgação dos autores, existe a expectativa teórica de a terapia gênica substituir o tratamento com antirretrovirais. Porém, os resultados do teste "mostram que ainda estamos longe disso". "A melhora da contagem de linfócitos T CD4- foi discreta.

Por outro lado, o estudo não foi capaz de demonstrar que esse tratamento reduziu significativamente a quantidade do HIV", afirmou o médico. Segundo ele, o fato mais importante é que o tratamento foi seguro e bem tolerado pelos voluntários. "Existem muitas outras formas de atuar geneticamente nas células, e vários pesquisadores estão discutindo essas alternativas."


Vacina

A terapia gênica é mais uma esperança para curar a Aids, uma vez que a criação de uma vacina não tem sido bem sucedida até o momento. Em 2007, o teste mais avançado de uma vacina, criada pela farmacêutica Merck, foi suspenso depois que 82 voluntários expostos ao vírus (49 vacinados e 33 do grupo de controle) acabaram contaminados. Mesmo assim, os pesquisadores tentam se manter otimistas. "Embora os resultados anunciados em 2007 tenham sido desapontadores, os pesquisadores têm se empenhado em descobrir e propor novas formas para desenvolver uma vacina eficaz. Isso deve demorar mais do que gostaríamos, mas há muitos grupos trabalhando para abreviar esse tempo", afirmou Kallás, cujo grupo trabalha na pesquisa de vacinas contra a Aids há aproximadamente dez anos.

"Uma vacina eficaz e segura contra a Aids pode ser a única forma de controlarmos de forma significativa o avanço da epidemia, principalmente em países com recursos limitados."


Fonte: Folha de São Paulo

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