20/01/2008
Terapia com células-tronco alivia sintomas de distrofia
Estudo feito com camundongos traz resultados positivos para futura aplicação em seres humanos
Pesquisadores nos Estados Unidos deram mais um passo no sentido de utilizar células-tronco embrionárias para o tratamento
de distrofias musculares. O trabalho, coordenado por uma cientista brasileira no Texas, foi feito com camundongos portadores
de uma condição semelhante à distrofia de Duchenne em seres humanos. Os resultados mostram como um transplante de células-tronco
pode reverter os sintomas da doença - pelo menos parcialmente.
A distrofia de Duchenne é uma doença genética grave, na qual as células musculares não produzem distrofina, uma proteína-chave
para o funcionamento dos músculos. Conseqüentemente, ocorre um processo de degeneração muscular, que deixa o paciente incapacitado
e acaba levando-o à morte.
A idéia da terapia celular seria utilizar células-tronco embrionárias para formar células musculares (mioblastos) saudáveis
in vitro e, depois, transplantá-las para o paciente. Foi o que fizeram os cientistas em camundongos - primeiro passo para
o desenvolvimento de qualquer terapia em seres humanos. Animais doentes que receberam o transplante voltaram a produzir distrofina
e tiveram aumento significativo de força muscular.
A autora principal do trabalho, publicado na revista Nature Medicine, é a bioquímica gaúcha Rita Perlingeiro, que desde
2003 é pesquisadora da University of Texas Southwestern.
Tão importante quanto o resultado clínico nos camundongos foi a técnica desenvolvida para chegar até ele. A primeira
dificuldade foi induzir, de forma sistemática, a diferenciação das células-tronco embrionárias em células precursoras de músculo
esquelético. Para isso, a equipe descobriu que é preciso ativar um gene chamado Pax3.
O segundo desafio foi selecionar estas células dentre todas as outras no meio de cultura. Sem essa "purificação" das
amostras, é grande o risco de formação de tumores, como mostrou o primeiro transplante feito no estudo. Os cientistas, então,
estabeleceram uma metodologia para seleção e purificação dos mioblastos, usando proteínas na superfície das células.
Nos transplantes seguintes, não houve formação de tumores. As células se integraram à musculatura dos camundongos e parte
delas (15%) passou a produzir distrofina. Isso foi suficiente para dobrar a força muscular dos animais e aliviar os efeitos
da doença.
"Há muitas etapas ainda, mas acredito que isso possa chegar ao paciente um dia", disse Perlingeiro ao Estado. Segundo
ela, a mesma técnica pode ser útil para várias formas de distrofia.
A especialista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo (USP), que faz pesquisas na mesma área, também está empolgada
com o avanço dos estudos. "Não tenho dúvida de que chegaremos a um tratamento", disse.
Fonte: O Estado de S.Paulo