04/08/2009
Tempo de amamentação dobra no Brasil
Média de aleitamento exclusivo subiu de 23,4 para 54,1 dias, mas continua longe dos 180 dias preconizados pela OMS
Pesquisa nacional considera dados de 118 mil bebês, a partir de entrevistas com mães feitas em 1999 e 2008; uso da
chupeta caiu 15%
O tempo médio de aleitamento materno exclusivo no Brasil passou de 23,4 dias para 54,1 dias em nove anos, aponta a 2ª
Pesquisa de Prevalência do Aleitamento Materno nas Capitais Brasileiras realizada pelo Ministério da Saúde e divulgada ontem
durante a Semana Mundial de Amamentação.
O aleitamento não exclusivo também subiu, de 296 dias para 342 dias entre 1999 e 2008.
Apesar dos avanços, o país ainda está longe de atingir os indicadores adequados. A Organização Mundial da Saúde preconiza
o aleitamento exclusivo até os seis meses de vida (180 dias) e o aleitamento parcial até os dois anos (730 dias).
A pesquisa foi realizada com entrevistas a mães nas capitais e mais 239 municípios em outubro de 2008, durante a Campanha
Nacional de Vacinação. Os resultados consideram dados de cerca de 118 mil bebês.
O levantamento também registrou uma redução de 15% no uso da chupeta em crianças com menos de um ano, passando de 57,7%
para 42,6%.
Além disso, pela primeira vez a pesquisa avaliou o uso da mamadeira -adotada por 58,4% das crianças. A maior frequência
foi no Sudeste (63,8%) e a menor, no Norte (50%).
Aleitamento e chupeta
A pesquisa comprovou a relação entre chupeta e tempo de amamentação. Estados com índices maiores de aleitamento têm
uso menor do acessório. O Ministério da Saúde desestimula o uso da chupeta e da mamadeira e recomenda a opção por copo após
os seis meses para não interferir na sucção.
Macapá possui a maior duração do aleitamento parcial (601,36 dias). E é a capital com menor percentual de bebês usando
chupeta: apenas 19,8%. São Paulo tem o menor tempo médio de amamentação parcial (292,82 dias), e 51,2% dos bebês usam chupeta.
Porto Alegre está logo atrás no quesito amamentação parcial (299,82 dias) e ocupa o topo do ranking do acessório (59,5%).
A pediatra Elsa Giugliani, coordenadora da área técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde,
comemora os resultados, mas reconhece que há muito a fazer para que o Brasil alcance o padrão estabelecido para a amamentação.
Segundo Giugliani, a OMS considera "bom" o indicador de um país que tenha ao menos 80% das crianças com menos de seis
meses em amamentação exclusiva -o Brasil tem 41% dos bebês nessas condições. Com relação ao uso da chupeta, Giugliani afirma
que a redução é um avanço. "Nascem quase três milhões de bebês por ano. Quase 400 mil deixaram de usar a chupeta."
Para a pediatra, a estratégia do Ministério da Saúde para aumentar o tempo de amamentação é investir na implantação
total da Rede Amamenta Brasil, criada no ano passado e que tem como objetivo capacitar profissionais para auxiliar as mães
durante o aleitamento. "Faltava uma política de aleitamento nas unidades básicas de saúde, onde efetivamente as mães são acompanhadas."
Roseli Sarni, pediatra, nutróloga e presidente do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Pediatria, considera
os dados animadores, mesmo longe das metas.
"Todo dado positivo sobre aleitamento é recebido com bons olhos. O desafio é descobrir por que as mães deixam de amamentar
tão cedo e conscientizá-las", diz.
A enfermeira Maria Fernanda Dornaus, coordenadora de enfermagem da Unidade Neonatal do hospital Albert Einstein, concorda
que o apoio às mães nos primeiros dias de amamentação é fundamental para melhorar os índices.
"A mãe precisa saber que o leite materno é fundamental para o desenvolvimento e crescimento da criança e que ele tem
fatores imunológicos que protegem o bebê. Ela também precisa aprender como é feita a pega e a sucção. E os profissionais de
saúde têm essa função."
Fonte:Folha de São Paulo