13/11/2019
Luiz Ernesto Pujol*
Antes mesmo de ocorrerem as indiscriminadas aberturas de novas escolas médicas no Brasil, era indiscutível a percepção das Entidades Médicas ‑ e mesmo da população leiga ‑ de que a qualidade da assistência à saúde prestada por médicos formados nesses cursos demonstrava uma preocupante ineficiência.
Novas escolas médicas, que somam hoje no Brasil o impressionante número de 340, representam, em preocupante parcela, verdadeiras arapucas para ganhos econômicos às custas de propagandas enganosas quanto a suas capacidades de formação profissional.
Não possuem corpo docente qualificado; baseiam-se em grades curriculares e programas de ensino calcados em metodologias ultrapassadas ou não avalizadas pela comunidade científica e academias conceituadas; não disponibilizam hospital-escola com preceptores preparados metodologicamente e pertencentes à própria escola; seus ensinamentos práticos são efetuados junto a ambulatórios do Serviço Público que se sabe não terem sido planejados para estudos; suas instalações físicas são precárias, porém algumas até suntuosas para maquiar as deficiências dos ensinamentos ali prestados; além de que sequer terem condições físicas e de mestres para ofertarem algum tipo de residência médica própria. E pior: continuam a surgir em municípios inexpressivos, onde os interesses econômicos e políticos preponderam sobre a infraestrutura oferecida.
Salvam-se, desse caos, as boas escolas médicas, novas ou antigas, que tentam manter o nome da instituição e a sua reconhecida qualificação, formando profissionais médicos dignos do exercício profissional tanto almejado e merecido pela população desse país.
Nessa toada, atrevo-me a algumas sugestões muito pessoais, baseadas na vivência de quase 50 anos de atuação na medicina. Sem a pretensão de esgotar o tema e tampouco com alvores de perfeição, mas acreditando que possam vir a aprimorar a formação médica na atualidade de forma simples e econômica. E dentre elas destaco:
A necessidade de modificações na Lei da Inclusão, que em certas circunstâncias obriga as escolas médicas a matricularem alunos quase sempre nas reservas de vagas para cotas específicas, os quais não possuem as mínimas condições de aprendizado ou de virem a desenvolver a medicina com a mínima segurança à clientela;
Fomentar a curiosidade e gosto pelas pesquisas científicas;
Estimular aos alunos o raciocínio horizontal. Hoje, o raciocínio imposto aos acadêmicos é vertical, ou seja, direcionado ao aperfeiçoamento de uma mesma ideia, originando várias versões da mesma ideia (A, A1, A2, A3). No raciocínio horizontal leva-se o aluno a associar uma ideia A uma ideia B, daí resultando em uma nova ideia, a ideia C;
Orientar ‑ e se necessário treinar ‑ os professores a manterem uma postura de alteridade, resiliência, postura profissional e de educação no trato com os outros, para que se tornem espelho de comportamento aos seus educandos, evitando com isso a malfadada quebra no relacionamento médico-paciente, a mais frequente causa de denúncias contra médicos junto aos Conselhos Regionais de Medicina;
Demonstrar aos alunos que o bom médico é aquele que técnica e eticamente desperta o respeito e confiança de sua clientela, sem nenhum alarde, e não aquele que expõe sua intimidade usando as mídias sociais para autopromoção, com postura arrogante e prepotente em restaurantes, baladas, conquistas amorosas, viagens e posses de automóveis e residências de luxo;
Valorizar o aprendizado e treinamento na Assistência Básica à Saúde, formando médicos que tenham envolvimento e resolubilidade com a grande maioria das doenças que determinam procura da população à assistência pública, evitando a sobrecarga desnecessária em Unidades de Pronto Atendimento, Pronto-Socorro ou a Hospitais;
Incluir na grade curricular ensinamentos de: Ética e Bioética; sociologia; administração e economia dos serviços de saúde, e de aspectos pessoais; funcionalidade do SUS, dos planos de saúde suplementares e cooperativas; aspectos jurídicos na dispensação de terapêuticas de elevado custo; e informática avançada, possibilitando a criação de aplicativos na área da saúde.
*Luiz Ernesto Pujol é médico pediatra (CRM-PR 3.856).
**As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.