27/07/2020
Falta de medicamentos é uma das preocupações; gestores anunciaram medidas que vêm sendo implementadas para que sistema assistencial supra demanda num momento de alta de casos
A diretoria do Conselho Regional de Medicina do Paraná realizou, na tarde da última sexta-feira (24), webconferência com o secretário estadual de Saúde, Beto Preto, e com a secretária municipal de Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, com o objetivo de atualizar informações sobre o enfrentamento à pandemia depois de mais de quatro meses e com consequências alarmantes: quase 65 mil casos confirmados e 1,6 mil mortes. Entre junho e julho, número de casos cresceu 164,5% no Paraná.
A pauta da reunião extraordinária da diretoria envolveu questões como suporte financeiro e de mão de obra para o combate à Covid-19, organograma de disponibilidade de leitos clínicos e de UTI, alocação de recursos e triagem nas UPAS (porta de entrada do sistema) e equacionamento da falta de fármacos utilizados para intubação e ventilação mecânica. O momento atual é o mais crítico da pandemia na região Sul, com alta ocupação dos leitos. As estimativas são de período de três a quatro semanas de alta da doença e demanda por serviços.
O presidente do CRM-PR, Roberto Issamu Yosida, justificou a importância da reunião para avaliar o atual cenário e avaliar os riscos de eventual desabastecimento assistencial por causa do esgotamento da capacidade hospitalar. Ao reiterar o apoio do Conselho às ações empreendidas pelas autoridades sanitárias paranaenses, Roberto Yosida cumprimentou os gestores pela condução dos esforços para superação da crise e insistiu na importância da cooperação da sociedade na observância das medidas de prevenção, com o distanciamento, o uso de máscara e higienização.
Além da secretária municipal e do secretário estadual Carlos Alberto Gebrim Preto, que é médico, participaram da reunião os também médicos César Neves, assessor especial do gabinete da Sesa, e Acácia Nasr, coordenadora de Vigilância Epidemiológica. Na ocasião, anunciaram a edição da Resolução 926/2020, que suspende as cirurgias eletivas nas unidades hospitalares como forma de racionalizar os estoques de medicamentos anestésicos e hospitalares, pelo menos até que a escassez esteja superada.
RESOLUÇÃO QUE SUSPENDE CIRURGIAS ELETIVAS
De acordo com esclarecimentos prestados pelos gestores, leitos hospitalares e de UTI estão sendo instalados em grande número, com a readequação de Hospitais públicos na dependência da demanda, e por enquanto está descartada a necessidade de hospital de campanha. O número de leitos de UTI mais que dobrou no Estado. Curitiba, por exemplo, somou 345 aos 324 que já existiam. Apesar dos esforços, que possibilitam até disponibilizar novos leitos, o grande problema reside em montar as equipes e as escalas de trabalho.
Eles indicaram que há constatação de que a necessidade de internamentos hospitalares é hoje de 13% dos casos confirmados de Covid-19 graças à resolubilidade nos atendimentos da população em UBS e UPAs. Explicaram que a falta de medicamentos miorrelaxantes e sedativos, indispensáveis para a intubação orotraqueal e para a manutenção de ventilação mecânica em doentes que ficam por longo tempo em tratamento de UTI, deveu-se à falta desses medicamentos no comércio nacional e internacional, e também em decorrência de que o preço dessas drogas teve uma elevação de 500%.
Como explicado pela secretária municipal de Saúde de Curitiba, antes da pandemia essas drogas tinham um consumo de aproximadamente 1.500 unidades/mês, porém, com a situação atual, a quantidade de uso subiu para 500 unidades/dia. Beto Preto e Márcia Huçulak explicaram que em sua vinda a Curitiba, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, prometeu conseguir esses medicamentos dentro de uma semana a 10 dias, adquirindo-os no Uruguai.
O Secretário Estadual de Saúde manifestou a expectativa de que a medicação chegue ao Paraná ainda neste início de semana. Assim, como meio racional de uso dos miorrelaxantes e sedativos (para indução e manutenção anestésica além de facilitadores de intubação e manutenção de ventilação mecânica), disse ser indispensável que persista a orientação de suspensão de cirurgias eletivas, reservando-se o pouco da medicação existente para casos de urgência ou emergência.
Como destacado pelos gestores, há grande dificuldade para repor os funcionários, de médicos, enfermeiros e outros, em decorrência de infecção ou desligamento. Destacaram que a ausência de cada médico impacta no desabastecimento de 15 leitos. O processo seletivo simplificado da prefeitura de Curitiba, que abriu 600 vagas, sequer supriu 10% delas, demonstrando o grau de dificuldade, que se amplia com a inevitável repercussão de perdas de profissionais da linha de frente.
Na atual pandemia, como destacado pelos gestores, "cada leito e cada vaga de UTI exige enxoval, medicação, higiene frequente ambiental, aparelhos de monitorização, ventiladores mecânicos, médico com vivência nesse tipo de atenção a doentes graves e em ventilação mecânica, enfermagem e auxiliares de enfermagem. Portanto, não basta disponibilizar vaga hospitalar, há que disponibilizar todo o cenário e atores para cada um dos leitos".
Ambos os secretários e seus assessores manifestaram as pressões que sofrem para que se aceitem tratamentos sem respaldo científico, destacando a importância do apoio das sociedades de especialidade e do CRM-PR. Roberto Yosida destacou a conveniência da resolução das cirurgias eletivas, entendendo a necessidade de envio dos recursos para os hospitais e portas-de-entrada de atendimentos. Luiz Ernesto Pujol, secretário-geral, agradeceu os esclarecimentos e elogiou as ações adotadas pelas Secretarias Municipal e Estadual de Saúde. “Meus parabéns a vocês, eu espero que as coisas melhorem e deposito em vocês a esperança de que tenhamos dias melhores. Contem com o Conselho, nós temos realizado capacitação e treinamento de profissionais e estamos à disposição no que precisarem”.