04/09/2008
Ao contrário do que acontece na maioria dos países desenvolvidos,
onde a administração pública financia grande parte das despesas em saúde, no Brasil, de cada
R$ 10 gastos no setor, as famílias pagaram R$ 6,02 e o governo R$ 3,88, de acordo com dados de 2005. O restante vem
de instituições sem fins lucrativos. O padrão nos países da Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico é de, no mínimo, 70% de financiamento público, com exceção
dos Estados Unidos e do México, onde é de 45%.
A pesquisa Economia da Saúde, Perspectiva Macroeconômica do Setor entre 2000-2005, divulgada nesta quarta-feira
(3) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o gasto médio das famílias
brasileiras com saúde correspondeu a 8,2% de tudo o que elas consumiram em 2005. Essas despesas foram principalmente
com remédios (35%) e outros serviços relacionados, como consultas e exames feitos fora do ambiente hospitalar
(34%). O crescimento dos serviços ambulatoriais, em detrimento das internações hospitalares (só
1,9% do consumo das famílias), é uma tendência mundial. O total das despesas com saúde em 2005,
incluindo famílias, governos e instituições, foi de R$ 171,6 bilhões - 8% do Produto Interno
Bruto (PIB).
Os dados sobre despesa média mensal familiar com saúde revela que os 10% mais ricos da população
gastam R$ 376, quase 13 vezes mais do que os 40% mais pobres, que consomem R$ 28. A pesquisa indica também uma diferença
na forma de gastar esse recurso. A maior despesa no grupo dos mais ricos foi com planos e seguros de saúde (R$ 144,41),
remédios (R$ 97,78) e consultas e tratamentos dentários (R$ 43,98). Já os mais pobres gastaram com remédios
(R$ 19,19). Planos de saúde e consulta vêm em seguida, com valor mínimo.
As despesas com saúde somaram 15,6% (R$ 66,6 bilhões) de tudo o que o governo gastou em 2005. Mas esses
dados ainda serão detalhados. A maior parte (R$ 56,6 bilhões) foi consumida pela saúde pública,
que inclui desde atendimentos individuais pelo Sistema Único de Saúde (SUS) até distribuição
e produção de medicamentos. O estudo também não calculou os indicadores gerados pelos hospitais
universitários, militares e penitenciários.
Mercado de saúde
Uma análise do mercado nos cinco anos do estudo mostra que em 2002 e 2003 o setor cresceu menos do que a média
da economia. Entre 2004 e 2005, há uma tendência de recuperação, com uma taxa de crescimento real
de 3% e 5,9%, respectivamente. Neste período, foram criados 660 mil novos postos de trabalho, cuja média salarial
foi de R$ 15,9 mil, superior à média nacional. No total, são 3,9 milhões de postos de trabalho
ocupados por profissionais de saúde, que correspondem à 4,3 % do total de vagas do País.
A pesquisa também mediu o valor econômico do setor, que gerou R$ 97,3 bilhões em 2005. A atividades
de maior valor foi a saúde pública, que participou com 33,4%. "A saúde não é só
uma gastadora (sic) de recursos, mas uma mola propulsora do desenvolvimento", disse Elias Jorge, diretor de Economia
da Saúde e Desenvolvimento do Ministério da Saúde.
Para a pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz, Angélica Borges dos Santos, que trabalhou na publicação,
as famílias estão gastando mais porque houve aumento de renda e vêem o setor como um bem de consumo.
"Acredito que haja um componente razoável de medicina estética (no gasto da família)." Para
ela, o SUS tem insuficiências em algumas áreas, mas em outras, como na distribuição de remédios
para aids e hepatite, consegue atender a todos.
A pesquisadora Ligia Bahia, do Laboratório de Economia Política da Saúde da Universidade Federal
do Rio discorda que o consumo das famílias com saúde tenha a ver com o crescimento de clínicas de estética.
"A maior causa de morte são as doenças crônicas e os maiores gastos, com remédios",
disse. Inédito, o estudo compilou pesquisas de indústria e comércio, assistência médico-sanitária,
sistema de conta nacional e dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar.
Fonte: Gazeta
do Povo