31/01/2011
Saúde: o perigo que vem de fora
Há alguns anos o Governo Federal tenta criar subterfúgios para revalidar, com facilidades, os diplomas de brasileiros formados
em Cuba, na Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM). Foram diversas as tentativas de estabelecer privilégios. A cada uma
delas a classe médica reagiu firmemente, alertando sobre os riscos que profissionais sem comprovação de formação adequada
representariam à vida dos cidadãos.
As entidades médicas brasileiras sempre defenderam que os formados no exterior passem por prova para demonstrar que estão
de fato aptos para exercer a medicina no Brasil. Trata-se de uma segurança para a população. E a regra deve valer para graduados
em quaisquer lugares do mundo, seja nos Estados Unidos, Inglaterra, China, Rússia, França, Japão, Argentina, Cuba e por aí
vai.
Diante da resistência dos médicos e das denúncias da imprensa, o Governo, de certa forma, recuou. Criou exame especial
para os formados em Cuba, uma espécie de avaliação piloto para revalidação de diplomas.
Aplicado recentemente, o tal teste teve resultados desastrosos: de 628 médicos, 626 foram reprovados, ou seja, quase 100%
deles. O problema é que a lição não foi aprendida. Em vez de acender as luzes de perigo e dar um breque nas fórmulas mágicas
para revalidar os diplomas dos brasileiros graduados na ELAM, surge agora a notícia de que a Secretaria de Educação Superior
do Ministério da Educação pode preparar novo edital para dar a eles mais uma oportunidade, com nota de corte mais baixa; e
ainda estudaria fazer com que o teste teórico deixe de ser eliminatório.
É lamentável que a cabeça de nossos gestores esteja tão desconectada dos anseios dos brasileiros. No conforto de seus
luxuosos gabinetes, bacharéis em medicina que nada sabem, de fato, de medicina, ditam regras esdrúxulas sem ter a mínima noção
dos estragos que podem causar.
Dessa forma, todos os dias, vemos absurdos diversos, como a abertura indiscriminada de faculdades médicas sem condições
de oferecer formação de qualidade. Ganham os empresários da educação, ganham os lobistas, e só quem perde é a população.
É assim, com profissionais de formação insuficiente no Brasil e no exterior, que o Governo enche o mercado de "médicos",
como se quantidade fosse o remédio para os males de nossa saúde. É o mais puro engodo. Na verdade, precisamos de qualidade,
tanto quanto precisamos de responsabilidade e de espírito público de nossos políticos. Será que um dia chegaremos lá?
Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica