Conjugar ciência, fé e espiritualidade é caminho sugerido pelo Arcebispo Dom José Antônio Peruzzo em reunião com o CRM-PR
clique
para ampliarReunião ocorreu na Cúria de Curitiba, na tarde desta quinta (16). (Foto: CRM-PR)
Representantes do Conselho Regional de Medicina do Paraná se reuniram na tarde desta quinta-feira, 16 de maio, com o
Arcebispo Metropolitano de Curitiba, Dom José Antônio Peruzzo, e a médica e Decana da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUC-PR), Dra. Lídia Ana Zytynski Moura. No encontro, ocorrido na sede da Cúria, Dom Peruzzo externou sua
preocupação com os altos índices de doenças mentais que acometem não só a classe médica, mas também os estudantes de Medicina.
Em sua análise, o desejo de levar a espiritualidade à vida das pessoas pode se constituir em importante caminho para o enfrentamento
do problema e seus impactos, como os suicídios, cada vez mais presentes nas estatísticas.
“Espera-se demais do médico. Parece ser alguém que só produz e que não pode ter sentimentos, não pode falhar”, ponderou
o religioso, graduado em filosofia e teologia. Para ele, são inúmeros os artigos científicos que ensinam a fazer diagnóstico,
tratar e também como deve ser a relação médico-paciente, mas poucos falam sobre como ajudar o paciente a lidar com a dificuldade
por meio de recursos que vão além do que a Medicina pode oferecer. E isso influencia também a vida dos profissionais fora
do ambiente de trabalho, muitas vezes começando já durante a vida acadêmica. “O médico experimenta muitas vezes a impotência
diante de determinadas situações e não sabe como lidar com ela, pois a cultura de hoje é de exatidão, de acertar sempre.”
O presidente do CRM-PR, Dr. Roberto Yosida, comentou sobre as iniciativas do Conselho para se aproximar dos estudantes
de Medicina por meio de atividades de orientação realizadas nas diferentes escolas e como elas têm trazido benefícios aos
estudantes, assim como o projeto de Educação Médica Continuada, que oferece oportunidades de formação ética e atualização
técnica tanto para estudantes como para médicos.
Como explica o presidente do Conselho, as cerimônias de entrega de carteiras profissionais e documentos também são ocasião
de aproximação, nas quais além de questões técnicas da profissão os conselheiros tiram dúvidas e sugerem que os novos médicos
cuidem sempre, em primeiro lugar, da sua própria saúde e bem-estar. “Para cuidar e fazer o bem ao paciente, o médico precisa
estar bem com ele mesmo”, reforça o Dr. Roberto. O Conselho mantém, ainda, uma Comissão de Saúde do Médico que busca se aprofundar
na problemática.
O intuito de Dom Peruzzo, ao diferenciar religiosidade de espiritualidade, é o de cuidar das pessoas, ajudar a preencher
um vazio que, segundo ele, não pode ser preenchido com coisas materiais. “Esse vazio empobrece, diminui a capacidade de amar.
O médico é guiado pela ciência e quando as coisas fogem ao domínio do empírico surgem muitas teorias. Precisamos estimular
a reflexão independentemente da religião”, avalia, complementando que há uma parte da interioridade humana aonde ninguém chega,
só a própria pessoa, e é importante ela ter uma base espiritual para sustentá-la. “Só quem está em paz consigo vai levar paz
ao outro”, conclui.
Independentemente de religião, o CRM-PR reitera seu compromisso com a saúde do médico, que
deve se estender aos estudantes de Medicina, dando ênfase a ações de prevenção e conscientização, buscando acabar com o estigma
que se criou em torno dos problemas de saúde mental e cuidando daqueles que tanto fazem pela saúde do nosso país.
Por fim, o Dr. Roberto salienta que, em respeito à pluralidade de ideias e crenças, o CRM-PR está aberto a todos os segmentos
que possam contribuir para a saúde dos médicos, dos estudantes de Medicina, e, consequentemente, da população.
Participaram também da reunião os conselheiros do CRM-PR Nazah Cherif Mohamad Youssef, Primeira-Secretária, Carlos
Roberto Naufel Junior, Gestor do DEFEP – Departamento de Fiscalização do Exercício Profissional, e Hélcio Bertolozzi Soares,
Gestor do DEIQP – Departamento de Inscrição e Qualificação Profissional.
Dados (Fonte: Cremesp e Jornal do CRM-PR)
Um levantamento feito pela Universidade
Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Uniad (Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas), com
o apoio do Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp), apontou que 1,7% dos médicos paulistas, entre 2000
e 2009, suicidaram-se. Contando apenas mortes por causas externas, tirar a própria vida fica atrás apenas de acidente de carro,
sendo a causa da morte de 18% dos homens e 21% das mulheres.
Outra pesquisa, realizada entre 1986 e 1990 pelo Departamento de Saúde do Trabalhador da Universidade Estadual
do Rio de Janeiro, revelou que, já naquela época, os médicos eram os profissionais com nível superior que mais se suicidavam.
Como principais causas para este fato, encontram-se a ampla carga horária do curso de Medicina - na maioria das
vezes em período integral –, a pressão dentro e fora da sala de aula, a rotina desgastante – com a adição dos atendimentos,
provas e procedimentos médicos –, e a ideia de que precisam sustentar a imagem de 'super-heróis' para a sociedade, familiares
e para eles mesmos. Além disso, existe a questão de que os médicos enfrentam acontecimentos trágicos todos os dias. Essa grande
exigência mental e física pode desencadear problemas como depressão, ansiedade, transtorno bipolar, dependência do álcool
e outras drogas.