25/03/2008
Saúde e impostos
Tomamos conhecimento dias atrás do balanço de impostos arrecadados pelo governo federal nos 30 dias iniciais de 2008. Os dados
de janeiro só confirmam a gula tributária da União. Houve um aumento de R$ 10,44 bilhões em relação a janeiro de 2007. Os
números absolutos apontam um crescimento líquido de R$ 9,6 bilhões em janeiro, já descontados os R$ 875 milhões remanescentes
da CPMF, referentes a movimentações de dezembro que entraram agora no caixa.
Foi, de fato, o primeiro mês sem a cobrança da CPMF. Mesmo assim a arrecadação subiu em níveis muito superiores aos da
inflação. É uma prova contundente de que não era confiável a afirmação de que, sem o imposto do cheque, seria necessário cortar
cerca de 20 bilhões do Orçamento.
O balanço evidencia que não falta dinheiro para a aprovação da Emenda Constitucional 29, que disciplinará quais gastos
podem ser efetivamente computados como investimentos em saúde. Trata-se de uma normativa essencial, pois, acabará com a possibilidade
de os recursos do setor serem desviados para outras rubricas. Além disso, alterará as alíquotas de repasse das três esferas
de poder, garantindo verbas importantes para a assistência.
O governo não pode mais tapar o sol com a peneira. Não dá mais para ignorar que a rede de saúde está à beira do caos.
É necessário responsabilidade quando se lida com vidas humanas. O SUS não pode continuar sem recursos para bem atender
os cidadãos. Não pode continuar ameaçado de morte súbita, especialmente se há dinheiro em caixa e muito.
Temos o único sistema de saúde pública universal da América Latina. Na teoria, o SUS é considerado uma das propostas mais
avançadas do mundo. Na prática, porém, a realidade é cruel: pacientes ainda morrem em filas, uma consulta demora menos de
dez minutos, exames tardam uma eternidade para chegar, a infra-estrutura de hospitais e postos de saúde é lastimável, as condições
de trabalho e os honorários dos profissionais são uma afronta.
Uma discussão séria sobre os rumos da rede pública de saúde no Brasil passa obrigatoriamente pela urgente necessidade
de aprovação da Emenda Constitucional 29. Ela já passou com o aval da maioria da Câmara dos Deputados e agora depende dos
senhores senadores. Portanto, é hora de todos falarmos com os parlamentares que ajudamos a eleger para cobrar coerência e
compromisso.
Há outra questão que pode e deve correr no paralelo. Temos de começar a sensibilizar a classe política a tratar do tema
da reforma tributária de maneira madura e responsável. Os profissionais liberais, por exemplo, não podem continuar sendo taxados
como se fossem donos de empresas de capital milionário.
É fundamental discutir a redução da carga de impostos daqueles que, como os médicos, sobrevivem apenas da própria força
de trabalho.
Jorge Carlos Machado Curi é presidente da Associação Paulista de Medicina.