10/07/2020

Revista The Lancet publica carta de médicos brasileiros sobre crime organizado e políticas de drogas

O cientista pesquisador estadunidense David Martin também assina artigo, ao lado dos psiquiatras e professores Marco Antonio Bessa, da UFPR, e Ronaldo Laranjeira, da Unifesp

A relação entre o crime organizado e as políticas de drogas é o assunto abordado por carta publicada na edição deste 11 de julho da revista científica “The Lancet”, uma das mais importantes publicações da área médica em todo o mundo e com quase 200 anos de tradição. A correspondência é assinada pelos médicos psiquiatras Marco Antonio do Socorro Marques Ribeiro Bessa, conselheiro do CRM-PR e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Ronaldo Laranjeira, professor da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), além do CEO da JMJ Technologies, David Martin, norte-americano da Pensilvânia.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Bessa e Laranjeira, em evento sobre drogas realizado pelo CRM-PR. (Foto: Arquivo)

Na carta, os autores defendem que a existência do crime organizado é a principal causa da atual crise de uso abusivo de drogas ilícitas pela sociedade. “Essa rede global de crime organizado, políticos corruptos, lavagem de dinheiro e sistemas de distribuição perpetuam a crise de saúde pública”, afirmam. Para eles, esse cenário deve ser incluído nas discussões sobre políticas de drogas lideradas por profissionais da saúde, pesquisadores e responsáveis por políticas públicas.

O Prof. Marco Antonio Bessa faz uma reflexão sobre o conteúdo do artigo: “Nós, autores, entendemos que a publicação da correspondência em uma revista da importância de The Lancet é chamar a atenção para o papel do crime organizado que além de ser um elo fundamental na produção e no tráfico de drogas, tem se tornado cada vez mais poderoso, influenciando estruturas dos poderes dos Estados ‑ legislativo, executivo e judiciário ‑, no sistema financeiro, com a lavagem de dinheiro, associando-se a grupos terroristas, a violência e intimidação de populações vulneráveis. Além, claro, das consequências nefastas das drogas na saúde pública. Em resumo, o artigo chama a atenção para uma grave questão das sociedades contemporâneas, que é o crime organizado.”

Elo perdido

Como explica o Prof. Ronaldo Laranjeira, as drogas ilegais e seus efeitos na saúde pública foram discutidos em 2019 em uma série de artigos na revista The Lancet. No entanto, os autores da série não analisaram como uma empresa criminosa global, o complexo industrial de abuso de drogas, é a origem do problema. Essa rede global envolvendo crime organizado, políticos corruptos, lavagem de dinheiro e sistemas de distribuição perpetua essa crise de saúde pública. "Temos motivos para acreditar o comércio de drogas agora está se expandindo sob o disfarce da cannabis legal e canabidiol, especialmente na América do Norte, com alcance para outros mercados da América do Sul, Europa e Ásia", diz.

Ainda de acordo com as fontes, a polícia holandesa divulgou um relatório afirmando que o crescimento do crime organizado está criando um narco-estado. As políticas públicas sobre drogas devem considerar o crime organizado, ou serão incapazes de abordar a prevenção e redução do uso de drogas e crimes relacionados ao uso de drogas, pelas perspectivas da saúde pública e da aplicação da lei. "De certa forma, a Holanda criou o ambiente perfeito para o comércio de drogas. O país possui uma extensa rede de distribuição, legislação branda sobre drogas e proximidade com vários mercados lucrativos. Assim, a Holanda é um centro óbvio para o fluxo global de narcóticos".

"Se profissionais de saúde, pesquisadores e formuladores de políticas optarem por deixar o crime organizado de lado na discussão, pagaremos um preço alto. O crime organizado é a causa da crise do uso abusivo de drogas na sociedade. Décadas da política de drogas tiveram seus efeitos limitados por ignorar o crime organizado, e a discussão sobre o crime organizado deve ser incluída em discussões futuras sobre política de drogas", finaliza o professor da Unifesp.

Acesse a carta aqui (em inglês).

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