07/03/2023

Reverência às médicas paranaenses na passagem do Dia Internacional da Mulher

Da pioneira Maria Falce de Macedo, formada em 1919, uma trajetória de luta que mostra o protagonismo e determinação das mulheres na profissão; elas já somam 45% dos médicos ativos e serão maioria ainda nesta década

O Dia Internacional da Mulher é comemorado neste 8 de março. Teve sua origem na mobilização da classe operária em garantia de seus direitos, ainda no começo do século passado. A ideia de uma data alusiva foi apresentada em 1910, durante conferência internacional, e já no ano seguinte tinha sua celebração na Áustria, Dinamarca, Alemanha e Suíça. Porém, somente foi oficializada em 1975, quando a ONU passou a estimular a comemoração para enaltecer os avanços das mulheres na sociedade, na política e na economia. Hoje, mais de uma centena de países reverenciam a data, que tem suas cores roxa, verde e branca simbolizando justiça e dignidade, esperança e paz.

clique para ampliarclique para ampliarDra. Maria Falce de Macedo, a primeira médica formada no Paraná/ (Foto: Arquivo)

O CRM-PR parabeniza todas as mulheres, dirigindo especial deferência às médicas, que hoje já representam 45% do universo de profissionais da Medicina em atividade no Paraná. De acordo com a Demografia Médica do CFM, as mulheres são maioria no ingresso nos cursos de Medicina e serão maioria entre os médicos paranaenses ainda nesta década. Em algumas especialidades elas já representam o maior contingente de trabalho há um bom tempo, como na pediatria, dermatologia, nutrição e ginecologia e obstetrícia, observando ainda grande ascensão em outras como genética médica, endocrinologia e metabologia, alergia e imunologia e infectologia.

O cenário, contudo, era bem diferente até o início da segunda metade do século passado, quando a presença feminina era bem tímida. Em abril de 1967, praticamente 10 anos depois de o Conselho de Medicina ter iniciado o registro obrigatório dos médicos paranaenses, havia apenas 108 mulheres entre os mais de 2 mil profissionais em atividade, ou somente 5,4% do total. A primeira a se inscrever foi a Dra. Vivian Albizi de Carvalho, que obteve o número 58. Depois, vieram as Dras. Gilda Kasting (registro número 73), Maria Becker (128), Salomé Rochin (135), Fani Frischmann Aisengart (136) e Gilka Gilda Ghignone (180).

A primeira médica a se formar no Estado, a Dra. Maria Falce de Macedo, foi inscrita em 14 de agosto de 1958 e obteve o número 226. Também a primeira mulher a escrever seu nome no ensino médico paranaense, a Dra. Maria Falce simboliza a trajetória de luta das médicas. Ela se formou em 1919 pela UFPR, sendo a única mulher a integrar o curso médico inaugural no Estado, seguindo os passos da Dra. Rita Lobato de Freitas, a primeira mulher a se formar em território brasileiro, na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1887. Na esteira da Dra. Maria Falce vieram médicas como a Dra. Wladyslawa Wolowska Mussi, nascida na Grande Curitiba em 1910 e formada também pela UFPR, que se constitui na primeira profissional a atuar em Santa Catarina.

clique para ampliarclique para ampliarConselheira Cecília Vasconcelos, Dra. Silmar Cunha da Silva e Dra. Helen, conselheira pioneira e que recebeu a Medalha de Lucas em 2019. (Foto: CRM-PR)

O Conselho de Medicina do Paraná, que está completando 65 anos neste 12 de março, somente teve a sua primeira mulher conselheira na gestão 1978-1983. A gineco-obstetra Helen Anne Butler Muralha (CRM-PR 224) foi a pioneira. Formada em 1954 pela UFPR, ela construiu história de luta e que mereceu reconhecimento da classe médica, sendo condecorada em 2019 com a Medalha de Lucas – Tributo ao Mérito Médico. A Professora Lorete Maria da Silva Kotze foi a segunda conselheira, na gestão 1983-1988. A partir de então, gradativamente, as médicas foram ocupando posição de destaque no CRM, quer como conselheiras ou como representantes das regionais em muitas das cidades paranaenses.

Nada menos do que 13 mulheres fazem parte do CRM-PR na atual gestão: as Dras. Nazah Cherif Mohamad Youssef, Regina Celi Passagnolo Sergio Piazzetta, Laura Moeller, Cecília Neves de Vasconcelos, Gisele Cristine Schelle, Gláucia Maria Barbieri, Kátia Sheylla Malta Purim, Marília Cristina Milano Campos de Camargo e Ursula Bueno do Prado Guirro, todas de Curitiba, e ainda Beatriz Emi Tamura (Londrina), Katia Hitomi Nakamura (Maringá), Tatiana Menezes Garcia Cordeiro (Ponta Grossa) e Juliana Gerhardt Moroni (Cascavel). Quase todas estão integradas a centros formadores de médicos.

clique para ampliarclique para ampliarRoberto Yosida, Silvia e a mãe Regina Piazzetta. (Foto: Arquivo)

A conselheira Regina Piazzetta, que em dezembro último completou 38 anos de profissão como médica ginecologista, reprisa análise da ascensão das mulheres: “Em 1984, nós, mulheres, representávamos cerca de 25% dos formandos. Íamos bem nas provas e enfrentávamos os estágios com coragem e disposição. Imaginávamos que algumas de nós não exerceriam a profissão na mesma intensidade que os colegas homens, pois o conceito do provedor masculino ainda era a regra. Muitas situações difíceis, mas não encarei como discriminação. O fato é que as mulheres estavam em menor número, principalmente nas especialidades cirúrgicas. Temos hoje nova realidade. Nunca motivei minhas filhas a serem médicas. Por conhecer o lado mais difícil da profissão em relação ao sofrimento humano, os insucessos; desejava poupá-las. Fui surpreendida quando duas das minhas três filhas se identificaram com a área da saúde e fizeram esta escolha. Exercem a profissão de igual para igual. Vejo as mulheres médicas muito unidas, indicando aos pacientes umas às outras para determinadas especialidades. Não enxergam barreiras sexistas; já venceram esta etapa.”

A diretora da Representação Regional do CRM-PR em Maringá, Dra. Fabíola Menegoti Tasca, também deu o seu depoimento, sob o olhar das médicas com  atuação no interior do Estado: "Percebemos que a mulher médica tem ganhado espaço e respeito nos últimos anos, em especial na atual gestão do CRM-PR, na qual temos voz ativa e grande participação. Sinto-me acolhida e percebo uma grande abertura para trazer à discussão questões pertinentes às mulheres médicas, como o assédio, questões psicológicas e até mesmo dificuldades que enfrentamos na carreira, o que acredito ser muito importante."

O presidente do CRM-PR, Roberto Yosida, concorda que em nossos dias não há espaço para comparações e discriminações, ressaltando que o período de pandemia mostrou o protagonismo das médicas ao se alinharem na linha de frente exibindo coragem e determinação. Para ele, a data merece ser comemorada para rememorar os bons exemplos no cumprimento da missão hipocrática, médicas anônimas em sua maioria que, mesmo com renúncias e sacrifícios individuais, fazem a diferença no zelo à saúde e bem-estar da população. 

Até a manhã desta terça-feira (7), os médicos em atividade no Paraná somavam 35.407, sendo 16.014 mulheres.

Envie para seus amigos

Verifique os campos abaixo.
    * campos obrigatórios

    Comunicar Erro

    Verifique os campos abaixo.

    * campos obrigatórios