Depois de quatro anos de tramitação, uma das propostas mais polêmicas e debatidas na Câmara, que define as prerrogativas dos
médicos, pode ser votada pela Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público já no reinício dos trabalhos, em agosto,
após o recesso parlamentar. No entanto, o Projeto de Lei 7703/06, chamado de "Ato Médico", encontra oposição de outras categorias,
preocupadas com o que consideram uma hierarquização dos serviços de saúde, que ficariam submetidos ao crivo dos médicos.
A proposta já foi aprovada no Senado, e chegou à Câmara após negociações que definiram um núcleo como prioritário para
os médicos: o diagnóstico de doenças e a prescrição de tratamentos. Frentes parlamentares, como a da saúde, têm o projeto
como prioritário, e o relator da proposta na Comissão de Trabalho, deputado Edinho Bez (PMDB-SC), esclareceu que há um compromisso
de votá-la em agosto.
Segundo o vice-presidente do Conselho Federal de Medicina, Roberto Luiz d Avila, a proposta é tão sensível que, ao contrário
do que ocorre com outras profissões que propõem suas próprias regulamentações, a Medicina está sendo debatida por todas as
14 categorias da área de saúde.
Abertos ao debate
"Não ficamos encastelados nem tentamos empurrar goela abaixo essa legislação; estamos todo esse tempo, desde 2001, quando
o projeto foi apresentado no Senado, abertos ao debate", ressaltou d Avila.
O médico explica que nenhuma lei de outras profissões diz que elas podem fazer diagnóstico de doenças e, no mundo inteiro,
esse diagnóstico é feito por médicos exclusivamente.
Como outras áreas de saúde, a Medicina precisa ter uma regulamentação dizendo o que é privativo do médico, e o que é compartilhado
com outros profissionais. Segundo ele, todas as áreas da saúde têm regulamentação, menos a Medicina, que é a profissão mais
antiga entre elas.
Autonomia profissional
A deputada Gorete Pereira (PR-CE), que é fisioterapeuta, apresentou no último dia 15 um voto em separado à proposta, tentando
preservar as atribuições da categoria. "As outras profissões precisam ter autonomia, é preciso que mantenham os diagnósticos
delas, para os quais foram preparadas. Passar remédio, decidir sobre ato cirúrgico, tudo isso é com médicos, mas os outros
profissionais podem sim prescrever tratamentos em suas áreas", defendeu.
Como exemplo, ela cita que é possível ao profissional da área prescrever tratamentos de fisioterapia para um paciente
que se apresenta com uma paralisia facial, com o diagnóstico de assimetria e musculatura debilitada, entre outras constatações.
Esse tratamento não teria nenhum efeito colateral, e poderia ser feito ao mesmo tempo, sem esperar que um médico prescreva
a fisioterapia. "Agora, saber sobre o que causou a lesão, se foi uma variação de temperatura, um problema neurológico, isso
é com médicos, que vão prescrever medicamentos e outras terapias", destacou.
Voto
O relator da proposta na Comissão de Trabalho, deputado Edinho Bez, acredita que as audiências realizadas na Câmara já
foram suficientes para esclarecer o assunto. Segundo ele, chegou o momento de ir a voto, porque a proposta já foi discutida
por todas as categorias, que gostariam de mudar apenas detalhes do texto. "Se ficarmos mudando a todo momento, essa proposta
não sai do papel, e depois cada profissão da área poderá propor as mudanças que ache necessárias em sua própria legislação",
disse o deputado. A proposta, que tramita em caráter conclusivo e em regime de prioridade, ainda vai ser analisada por outras
três comissões: de Educação e Cultura; de Seguridade Social e Família; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.
O deputado frisou que foi escolhido como relator da proposta exatamente porque não é médico nem está ligado a qualquer
profissão da área. Ele relembra que na primeira audiência para discutir o projeto quase saiu briga, mas depois de dois anos
e seis meses todos os interessados já se manifestaram, e ele garante que apóiam o texto. "Me reuni com todas as associações
que me convidaram, em separado, em conjunto, e incluímos muita coisa, mas agora é hora para votarmos a proposta. Quem quiser
fazer alterações, pode apresentar voto em separado, como fez a deputada Gorete, não vejo problema algum, e vamos decidir de
uma vez por todas, no voto", concluiu.
A Comissão Nacional em Defesa do Ato Médico defende o relatório do deputado Edinho Bez, resultado de ampla negociação.
Segundo o membro da Comissão, Mauro Brandão, o voto separado da deputada Gorete não apresenta novidades e a questão já foi
debatida anteriormente. "A fundamentação do voto em separado da deputada é uma reprodução das emendas apresentadas há dois
anos e já rejeitadas no atual relatório do deputado Edinho Benz, que defendemos", explicou Brandão.
href="http://www.portalmedico.org.br/arquivos/PL_7703_06_Dispoe_sobre_o_exercicio_da_medicina.pdf" target="_blank">(Veja
o substitutivo do deputado Edinho Benz).
Íntegra da proposta:
PL-7703/2006
Fonte: CFM com dados da Agência Câmara