29/08/2006
Relação com operadoras: Boicotes chegam aos hospitais
Depois da Bahia, agora também os hospitais do Distrito Federal protestam contra relação contratual
A febre dos boicotes, depois de se tornar marco no movimento médico, começa a afetar a relação entre operadoras e hospitais
também. O primeiro foco surgiu na Bahia, com a paralisação dos hospitais filantrópicos, que acabou por ser apoiado pelos médicos
e assumido, em seguida, pela categoria. Na semana passada, foi a vez dos hospitais do Distrito Federal suspenderem o atendimento.
O Sindicato Brasiliense de Hospitais, Casas de Saúde e Clínicas (SBH) e a Unidas negociaram, por 40 dias, o parâmetro de aumento
de 15%, a partir do qual operadoras e hospitais deveriam negociar. Contudo, apesar da tentativa dos hospitais de entrarem
em contato com a Cassi, segundo as assessorias jurídicas dos hospitais que participam do movimento de paralisação, não obtendo
qualquer resposta, oito dos 14 hospitais do DF decidiram suspender o atendimento à operadora. Ontem, por força de liminar,
três dos hospitais (Santa Lúcia, Santa Helena e Prontonorte) regularizaram o atendimento. Os hospitais entregam, hoje, recurso
contra a liminar.
As assessorias jurídicas dos hospitais informaram que, além do não-pronunciamento quanto ao aditivo dos contratos, a Cassi
também adotou a prática das glosas sem justificativa, de forma que já há uma dívida com os prestadores de R$ 7 milhões. Os
hospitais começam a questionar a viabilidade da manutenção do atendimento dos usuários da Cassi, uma vez que, com as glosas,
sem reajustes há mais de dez anos e a falta de sinalização de negociação as entidades de saúde têm perdido mais do que ganhado
com o convênio. A Cassi disse, na imprensa local, que mandaria, até ontem, proposta aos hospitais para que as negociações
fossem retomadas. Contudo, até o fechamento desta edição não havia informações das assessorias quanto ao recebimento da nova
proposta.
Segundo a Unidas Nacional, a Cassi precisou enfrentar, no período de negociação, alguns problemas, como a baixa de um
de seus diretores - responsável pelas negociações - por questão de saúde. Esta situação atrapalhou o andamento do levantamento
que estava sendo realizado pela operadora, para checar qual o valor que deveria negociar, porque, de acordo com a assessoria,
não há sentido acordar um valor muito alto e, depois, não ser capaz de cumprir com o acordado. O gerente de relacionamento
com o mercado da Cassi, Cláudio Chituzzi, declarou, aos jornais locais, que o acordo feito em julho, com a Unidas, definiu
um teto para os aumentos, mas a Cassi apresentou uma contraproposta para cada um dos hospitais, sendo que, alguns deles chegaram
a aceitá-la. "Fomos totalmente surpreendidos com a paralisação", alegou Chituzzi.
As negociações das operadoras com os prestadores de saúde enfrentam problemas em todos os estados do País. A Unidas, por
exemplo, está fechando a proposta com os hospitais de São Paulo este mês, mas até chegar a este denominador, foram sete meses
de negociações. O presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Dr. Eduardo de Oliveira, disse que a posição da entidade
é de ser favorável à negociação. Mas não descartou a possibilidade da adoção de medidas de pressão, como a suspensão do atendimento,
ressalvando ser este um último recurso. "Gostaríamos que os hospitais fossem um pouco mais firmes e enfrentassem os convênios,
mas não é fácil ficar sem esta receita, mesmo que muitas vezes haja tantos problemas", alegou. Ele admitiu, ainda, que a discussão
é complicada e que, de alguma forma, todos têm certa razão. "As operadoras declaram que estão sem condições para reajustar
as taxas hospitalares. É sabido que há uma crise econômica abalando o setor e que os gastos dos hospitais são crescentes,
aumentando as despesas, tanto de prestadores, quanto de operadoras. Mesmo assim, não é justo que somente os hospitais tenham
que arcar com os novos gastos e amargarem dez anos sem reajustes. A queixa dos prestadores é em relação ao período, não a
um ano específico. A ANS tem autorizado reajuste aos planos de saúde. Por que não podem repassar parte deste aumento para
seus prestadores?" questionou Dr. Oliveira.
Há um entendimento de que um movimento longo possui menos eficácia do que uma ação localizada, como o que vem acontecendo
na Bahia e no DF. Pode-se esperar que outros prestadores, em outras partes do País, venham a adotar a estratégia. Mas nada
comparado ao movimento deflagrado pelos médicos. Aliás, o presidente da FBH reconhece que, se um hospital tem problemas com
um convênio, provavelmente, os médicos também o têm.
Cada um, a sua particularidade
Mas ao contrário dos médicos, onde uma tabela única paga toda a categoria, cada negociação com o hospital tem sua particularidade.
Por isso mesmo, os grandes hospitais ainda conseguem pressionar um pouco mais às operadoras, mas os de médio e pequeno porte
não podem resistir, por muito tempo, à oferta das empresas. A parceria com os médicos, nesse sentido, é importante. O fortalecimento
do movimento está ligado à unidade dos prestadores. Por outro lado, as operadoras têm pecado pela falta de comunicação. O
mercado não tenderia às ações radicais se, ao invés do silêncio ininterrupto houvesse a disposição em estabelecer um canal
aberto com os prestadores. Mesmo sem chegar a um consenso, o importante é demonstrar o interesse. Por esta mesma razão, a
Unidas tem acertado com os médicos. O exemplo, agora, precisa ser seguido pelas empresas, antes que a moda pegue e o boicote
se alastre pelo País.