04/01/2009
Alívio para instituições privadas e, sobretudo, benemerentes cujo equilíbrio econômico-financeiro
estava seriamente ameaçado pelos valores defasados pagos pelo Sistema Único de Saúde (SUS); mais recursos
para Estados e municípios; e, no Estado de São Paulo, apoio financeiro a instituições geridas
por organizações sem fins lucrativos e a extensão, para os hospitais da rede estadual, da política
de gestão baseada em metas de qualidade dos serviços e que premia os bons gestores. Este é o resumo
de um conjunto de iniciativas anunciado no dia 23 pelos governos federal e do Estado de São Paulo, com a aplicação
de R$ 4,4 bilhões na área de saúde, e que deverá resultar em benefícios diretos para
a população.
Uma medida de grande importância, e que deveria ter sido tomada há muito mais tempo, é o reajuste
- que pode chegar a 120% - anunciado pelo Ministério da Saúde dos pagamentos do SUS para 1.356 procedimentos
ambulatoriais e hospitalares, considerados de média e alta complexidades. Fazem parte da lista, por exemplo, colonoscopia,
videolaparoscopia, biópsias, transplante de córnea e cirurgia cardíaca pediátrica e neonatal.
O reajuste da tabela do SUS exigirá R$ 902,6 milhões em 2009. O programa do Ministério da Saúde
totaliza R$ 2,7 bilhões e inclui, entre outras medidas, o reajuste das diárias de UTIs e unidades de cuidados
intermediários e o aumento do repasse para os Estados, visando à redução das desigualdades regionais
e à revisão dos valores dos incentivos concedidos a hospitais filantrópicos e de ensino.
Instituído há 20 anos, para assegurar aos cidadãos o direito constitucional de acesso universal
e gratuito a atendimento na área de saúde, o SUS enfrentava problemas financeiros crescentes. A tabela dos
procedimentos médicos e hospitalares ficou congelada de 1994 a 2002, o que colocava em sério risco a sobrevivência
de instituições benemerentes, em particular as Santas Casas. Apesar das correções autorizadas
desde então, o valor de muitos serviços médicos continuou defasado, o que provocou uma séria
crise no segundo semestre de 2007, quando, pressionado, o governo federal anunciou o aumento médio de 30% para cerca
de mil procedimentos.
Há alguns meses, para assegurar a sobrevivência das Santas Casas paulistas, o governo do Estado ampliou
um programa que já beneficiava essas instituições, elevando de R$ 100 milhões para R$ 150 milhões
o total da linha de crédito a juro zero que elas podem utilizar para reduzir o peso das dívidas acumuladas
por causa da defasagem entre a tabela do SUS e o custo efetivo do atendimento médico (em São Paulo, as Santas
Casas são responsáveis por quase 60% das internações realizadas pelo SUS).
No dia 23, o governo estadual assinou contratos de gestão com 49 hospitais, centros de saúde e ambulatórios
médicos de especialidades (AMEs) administrados por organizações sociais sem fins lucrativos (OSSs)
- entre os quais o Hospital Estadual Mário Covas, de Santo André, o Hospital Geral de Pedreira e o Hospital
Geral do Grajaú -, para os quais repassará R$ 1,75 bilhão em 2009. Esses contratos estipulam metas
financeiras, de atendimento e de qualidade. O governo paulista tem preferido essa forma de gestão porque, como observou
o secretário de Saúde, Luiz Roberto Barradas Barata, essas organizações têm mais flexibilidade
administrativa do que os órgãos do governo e podem prestar atendimento mais ágil e eficiente à
população, dando melhor uso ao dinheiro público.
Hospitais públicos administrados diretamente pelo Estado também podem se beneficiar de uma gestão
mais eficiente. A partir de 2009, pelo menos três hospitais da capital - Hospital Regional Sul, Hospital Geral de
Taipas e Hospital Infantil Cândido Fontoura - terão de cumprir metas de qualidade estabelecidas com base em
médias de índices da rede pública de saúde. Essas metas incluirão atendimento ambulatorial,
internações, exames laboratoriais e redução de cesáreas, da média de permanência
no hospital e da taxa de infecção hospitalar. O descumprimento de metas poderá resultar em troca da
administração do hospital, mas o cumprimento dará aos gestores maior autonomia financeira e a possibilidade
de receber mais recursos no futuro.
Editorial publicado no jornal O Estadão, de 30 de dezembro de 2008.