18/11/2007

Receita para remédio amargo no preço

A relações públicas Luciana França Teixeira comprou uma pomada na farmácia para tratar de um ligeiro problema de saúde. Pagou R$ 30 pelo medicamento. Dias depois, se dirigiu ao mesmo estabelecimento para adquirir outra unidade do produto para dar sequência ao tratamento, quando foi alertada pelo farmacêutico que existia a versão genérica daquele remédio, ao preço de R$ 15.

De imediato, comprou o medicamento genérico e garantiu sua economia de 50%. Luciana Teixeira só não fez isso desde a sua primeira ida à farmácia porque não sabia que a pomada prescrita pela sua médica tinha versão genérica. "Ela simplesmente me indicou a marca da pomada, alegando ser o único produto que resolveria o meu problema. Na receita médica não indicava o genérico e nem o princípio ativo", relata.

Pela regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o medicamento genérico deve ser lançado no mercado com preço 35% abaixo do produto de referência. Atualmente, em média, eles são 42% mais baratos, segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (Pró-Genéricos). Conforme regulamentação da própria Anvisa, em consultas feitas pelo SUS o médico deve prescrever na receita médica a versão genérica do medicamento patenteado, bem como o seu princípio ativo.

Contudo, nas consultas particulares o profissional se reserva no direito de prescrever tanto a marca do medicamento quanto o seu genérico. É nessa seara que pipocam os conflitos de interesses.

"Sabemos que muitos médicos recebem favores dos grandes laboratórios para indicarem tão-somente medicamentos da respectiva marca nas consultas particulares", salienta o presidente da comissão de saúde e saneamento da Câmara Municipal de Belo Horizonte, Elias Murad (PSDB).


Jabá

O resultado dessa troca de gentilezas é o fomento da máfia dos medicamentos industrializados, observou o vereador. No final das contas, quem perde é o consumidor, que paga mais caro pelo remédio. Por mais que o médico não prescreva o medicamento genérico na receita, durante uma consulta particular, o paciente tem ao menos o direito de saber o princípio ativo do remédio, alerta o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Minas Gerais (CRMMG), Hermann Alexandre Vivacqua von Tiesenhausen.
"Contudo, se o médico não indicar o princípio ativo, não há o que ser feito contra ele", completou. A coordenadora do Procon Municipal, Stael Riani, rebate a alegação do dirigente do CRMMG.

Constatada a lesão ao consumidor, por ter gasto muito mais pelo medicamento que possuía fórmula genérica, cabe indenização nas consultas particulares. "Se a consulta se der por convênio com algum plano de saúde, é mais interessante acionar judicialmente a operadora", aconselha. Também pode-se denunciar o médico junto ao CRMMG.


Manipulado é alternativa barata

Em função da precária fiscalização do poder público, até nas consultas médicas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tem sido comum não constar o princípio ativo nem o medicamento genérico na receita médica. A desempregada Antônia de Faria, 31, só comprou o medicamento genérico contra dor de garganta por ter sido alertada pelo farmacêutico no balcão da farmácia, já seu médico não prescreveu o princípio ativo. Na receita médica de sua consulta, realizada pelo SUS, constava apenas o nome da marca do remédio.

"A omissão da prescrição dos genéricos na receita médica ainda é uma cultura muito forte no Brasil, até em situações em que o ato se faz obrigatório, como nas consultas pelo SUS", pondera o assessor técnico do Conselho Regional de Farmácia de Minas Gerais (CRFMG), Waltovânio Cordeiro de Vasconcelos.

O medicamento manipulado é outra alternativa aos remédios industrializados e medicamentos genéricos. Devidamente confeccionado nas farmácias especializadas, possuem a mesma qualidade e eficácia dos demais remédios, observa o assessor técnico do CRFMG. No entanto, eles costumam ser mais baratos.


Sem sobras

O remédio manipulado é prescrito na quantidade e dosagem exata para o tratamento. Ou seja, não gera sobras, e com isso o paciente paga somente pelo que vai utilizar. O produto é fabricado e comercializado diretamente com o cliente, sem intermediários, e via de regra, possuem embalagens mais simples, o que torna os preços menores.
O remédio manipulado pode ser até 80% mais barato que os medicamentos industrializados, segundo dados do mercado. No entanto, assim como o genérico, é preterido por vários médicos na prescrição das receitas.


Fonte: O Tempo (MG)

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