20/10/2008

Receita em Brasília, agora só vale digitada





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Lei distrital determina que prescrições e pedidos de exames sejam redigidos em computadores e impressos pelo médico. Farmacêuticos e pacientes elogiam medida porque põe fim a confusões


O paciente entra na farmácia com um papelzinho na mão e o cenho franzido. Ele chama o balconista e pede que lhe diga o que está escrito na receita médica. O balconista olha, arrisca uma sílaba e desiste. Chama o farmacêutico que repete o processo, sem sucesso, e recomenda que o cliente retorne ao médico para que ele explique o que escreveu. O paciente retorna ao hospital, entrega o papelzinho ao médico que o atendeu e se surpreende quando nem ele consegue entender o que escreveu. Confusões como essa, causadas por letras que muitos chegam a comparar com hieróglifos, estão prestes a se tornar coisa do passado.

A Lei Distrital nº 4.219, publicada ontem no Diário Oficial do DF, estabelece que todas as receitas médicas e pedidos de exame deverão ser digitados no computador ou impressos pelo médico no momento da consulta, acompanhados de assinatura e carimbo. A norma busca sanar problemas que uma caligrafia difícil pode provocar, como erros de dosagem ou troca de medicamento com nomes semelhantes. O descumprimento da regra pode resultar em advertência, multa e até em interdição parcial do estabelecimento hospitalar infrator. A lei deverá ser plenamente regulamentada em um prazo de 90 dias, mas prevê que unidades hospitalares públicas receberão tratamento diferenciado para a implantação do novo modelo.

Segundo o secretário adjunto de Saúde, Florêncio Cavalcante, a informatização da rede pública está em andamento e deve ficar pronta no prazo de 12 meses. Ele destacou que, apesar de aparentar ser uma norma simples, existe uma certa preocupação com o estabelecimento do novo modelo. "Temos que atentar para o lado da segurança envolvido. Não queremos correr o risco de uma receita médica cair em mãos erradas por meio da informática. Também tem os casos de privacidade. Não acredito, por exemplo, que uma pessoa com Aids fique tranqüila ao saber que os dados do remédio que precisa tomar estão gravados em um computador", detalhou Cavalcante. A fiscalização da nova lei deverá ser realizada pela Subsecretaria de Vigilância à Saúde.

O sindicato dos médicos aprovou o estabelecimento da nova lei. "Estamos no século 21. Tudo hoje em dia usa informática. Além disso, esse novo sistema ajudará na produção de receitas médicas, exames e até mesmo laudos periciais mais legíveis, sem margens para dúvidas", afirmou o presidente do sindicato, César Galvão. Ele admitiu que os médicos têm conhecimento das dificuldades provocadas pela caligrafia de parte dos profissionais. E também apresentou uma única ressalva para a norma. "O tempo dado para adaptação ao novo sistema é muito curto. Poderiam estendê-lo", argumentou.

Alívio

            Mas a novidade agradou mesmo a quem trabalha em farmácias e precisa lidar diretamente com a difícil caligrafia dos médicos. Para a farmacêutica Andrea Dias Stephanues, 22 anos, as receitas digitadas no computador evitarão problemas com clientes. "Além de padronizar, vai minimizar os erros", disse. Ela contou que geralmente tem dificuldade na hora de passar um medicamento de tarja preta para os clientes. "Qualquer rasura, por menor que seja, já impossibilita a venda. Até mesmo a falta da data nos impede de atender ao cliente, que na maioria das vezes não tem culpa nenhuma do erro do médico. Só podemos recomendar que ele retorne com uma nova receita que possamos aceitar", detalhou.

            Em outras ocasiões, os farmacêuticos precisam assumir o lugar dos médicos para compreender qual foi a medicação receitada. "Às vezes, os clientes não têm nem consciência da enfermidade. Precisamos perguntar para ele o que sente, se tem dor em algum lugar e porque procurou o médico para não cometer um erro", acrescentou Andrea. O motivo de tanta preocupação relaciona-se ao nome dos remédios, que podem ser facilmente confundidos com outras medicações de grafia semelhante e efeitos diversos. Problema que também ocorre com as dosagens passadas. "Já teve caso em que o médico passou uma dosagem recomendada para um adulto a uma criança e nós tivemos que fazer a correção", concluiu a farmacêutica.

Fonte: Correio Braziliense



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