13/01/2008

Raios X: coisa do passado?


A cada dia surgem novos exames capazes de detectar anomalias no organismo. Apesar de auxiliar nos diagnósticos, os aparelhos não substituem a relação de confiança que deve existir entre médicos e pacientes



A medicina do século 21 é high-tech. Basta colocar o paciente em uma máquina, apertar um botão e em menos de uma hora surge um diagnóstico preciso, com imagens mostrando com nitidez o que ocorre no cérebro, intestino, coração, nos ossos e em outras partes internas do corpo humano. Não há limites para os tipos de exames disponíveis atualmente: tomografias, ressonâncias magnéticas e até cápsulas com microcâmeras escaneiam o organismo, numa imitação perfeita de filmes de ficção científica de 10, 20 anos atrás.

Hoje, no segundo milênio, é quase impossível imaginar a ciência médica sem procedimentos tecnológicos altamente desenvolvidos. Isso porque esses equipamentos facilitam o trabalho dos médicos no processo do diagnóstico e poupam exames estressantes e arriscados nos pacientes. "Os aparelhos são seguros e os exames menos invasivos, causando menos desconforto às pessoas. Alguns deles até descartam a necessidade de pequenas cirurgias", garante o radiologista Marcelo Canuto, da empresa médica Diagnóstico da América.

Ele cita como exemplo a angioressonância, um nome pomposo para designar a avaliação das artérias por meio da ressonância magnética. A máquina é capaz de identificar a existência de trombos e coágulos sangüíneos e detectar precocemente casos de trombose, aneurisma e entupimento de vasos que irrigam o coração. Antes, o diagnóstico só era possível por meio do cateterismo. A veterinária Kátia Oliveira, 27 anos, fez o teste e agora respira aliviada. Ela nasceu com uma mancha roxa na perna esquerda e nunca deu importância à marca. Há dois anos, o hemangioma passou a preocupá-la devido às constantes dores e ao cansaço nas pernas. Por recomendação do angiologista, fez uma investigação com ressonância para identificar o risco de trombose. "O resultado deu negativo. Tenho as veias dilatadas na área da mancha e preciso apenas ficar atenta para evitar complicações", afirma Kátia.

Porém, segmentos da medicina questionam se deve haver limite para a quantidade de exames que os médicos podem pedir. Ou seja: o uso exagerado de equipamentos, em vez de ajudar, pode atrapalhar a vida dos pacientes. "A avaliação clínica de um paciente é fundamental. Exames sofisticados são indicados apenas como auxiliares do diagnóstico e para apontar o melhor tratamento", explica Frederico Costa, diretor técnico do Hospital Brasília.

Segundo ele, a quantidade excessiva de pedidos de exames também obriga os hospitais e clínicas a comprarem mais e mais equipamentos de última geração, onerando os serviços de saúde. São Paulo, por exemplo, tem mais tomógrafos per capita que os Estados Unidos. "A investigação por imagem eleva em até 40% os gastos dos planos de saúde", garante Costa.

Canuto reconhece que o uso desses aparelhos sai caro, se considerado o poder aquisitivo dos brasileiros. Um exame simples de ressonância custa em média R$ 600. O valor sobe R$ 900 se for necessário fazer a angioressonância. A tomografia fica em torno de R$ 500. Para ele, o abuso se deve também aos pacientes. "Depois de pesquisas na internet, eles querem impor sua vontade na consulta, indicando tratamentos e testes desnecessários, sem conhecimento algum. Se o médico não os indica, eles procuram outro profissional", diz Canuto, que fará uma palestra sobre o uso racional dos exames complementares no congresso da Associação Médica de Brasília, em maio.

O cardiologista Fábio Marques, professor da Escola de Medicina Anhembi Morumbi, diz que os avanços tecnológicos dessas máquinas causam uma falsa impressão de que podem substituir a conversa franca entre paciente e médico. "A relação de confiança entre os dois é imprescindível para a conclusão de um diagnóstico. As análises complementam ou afastam a suspeita inicial levantada durante o diálogo." Para ele, o uso abusivo pode criar um mito do progresso científico-tecnológico, que engana tanto médicos como pacientes. "O lado humano sempre é mais importante", garante Marques.



Seu corpo transparente

Esses exames são as vedetes da medicina diagnóstica, ajudando nas avaliações e conclusões em diversas áreas da medicina.



Cápsula endoscópica

É um novo tipo de exame para hemorragia intestinal. Do tamanho de um comprimido, medindo 11 por 26 milímetros, o dispositivo tem microcâmera instalada em seu interior, de onde são transmitidas as imagens de dentro do corpo humano. O paciente engole a cápsula com um pouco de água ou leite, como se fosse uma pílula. A partir daí, a microcâmera começa a gravar as imagens da parede do esôfago e do intestino delgado, onde se aloja. Depois de um dia, é eliminada pelas fezes. O teste não substitui a endoscopia tradicional, pois a cápsula não visualiza corretamente algumas áreas do aparelho digestivo. O seu uso é contra-indicado em pessoas com obstrução intestinal.



Ressonância Magnética

O equipamento é fundamental nos serviços de emergência médica: detecta isquemia cerebral (obstrução de artérias que irrigam o cérebro) cinco minutos depois da sua formação. Ele também é eficiente para diagnosticar doenças do cérebro, dos músculos, tendões e ligamentos, do fígado, dos rins e da bexiga. Os mais modernos rastreiam até os vasos sangüíneos e a presença de possíveis trombos ou coágulos, descobrindo precocemente o risco de trombose. Não há radiação ionizante, mas, devido ao alto campo magnético, é contra-indicado para pessoas com marcapassos e clipes cerebrais, além de gestantes: não há estudos conclusivos sobre os efeitos no feto.



Tomografia ocular

Os tomógrafos de coerência óptica (OCT na sigla em inglês) mapeiam as 10 camadas da retina e detectam precocemente a degeneração macular, a retinopatia diabética e o glaucoma, doenças graves que podem levar à cegueira. Essas máquinas produzem imagens por meio de feixes de luz infravermelha e conseguem localizar danos de até 0,005 milímetro de diâmetro. O paciente precisa apenas dilatar a pupila, encostar a testa no aparelho e esperar alguns minutos para a realização do exame.



PET

A sigla em inglês simboliza a máquina médica mais potente da atualidade. A tomografia por emissão de pósitrons detecta alterações fisiológicas da célula. Aparentemente, o exame é simples: o paciente recebe uma injeção de glicose, marcada com flúor radioativo, que emite um elétron positivo, o pósitron. A substância faz um rastreamento do organismo, diferenciando tecidos doentes dos sadios por meio do comportamento das células. O PET revolucionou o parecer final para os casos de mal de Alzheimer, doenças cardíacas e câncer. A sua maior utilidade é na oncologia, por identificar tumores de dimensões milimétricas e a presença ou não de metástases. Apesar do poder de diagnóstico, o PET não é um exame perfeito: há casos de resultados falso positivo/falso negativo e cabe ao médico avaliar os achados do exame. Como tem radiação, só é indicado quando há necessidade de laudo conclusivo.



Tomografia

Outro aparelho bastante útil nos prontos-socorros, no atendimento de pacientes com derrame e doenças cardíacas. Como registra o funcionamento do organismo em alta velocidade, com 192 imagens por segundo, o médico consegue fazer o diagnóstico em dois minutos. O tomógrafo, com suas imagens tridimensionais captadas for feixes de raios X, também tem um papel preventivo. Na gastroenterologia, a colonoscopia virtual evita que 80% dos portadores de pequenos caroços no sistema digestivo se submetam ao exame tradicional. Na cardiologia, descobre a presença de placas de gordura nas artérias. Por liberar feixes de raios X, exige cautela no seu uso, pois a radiação pode provocar mutações nas células. Um estudo da Universidade de Columbia (EUA) mostra que a dose de radiação liberada durante uma tomografia computadorizada corresponde a cerca de 100 vezes a de uma mamografia. Embora o risco de se desenvolverem anomalias seja baixo, é desaconselhada a realização em grávidas e em crianças, indicada apenas quando há avaliação de danos e benefícios.


Notícia publicada no jornal: Correio Braziliense com dados do diretor técnico do Hospital Brasília, Frederico Costa, o radiologista Marcelo Canuto e o oftalmologista Sérgio Kniggendorf

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