16/12/2008

Quedas são maior causa de traumas de coluna no Brasil

Pesquisa indica que idosos são mais atingidos por tombos, que podem provocar seqüelas irreversíveis e levar à morte. Também são causa de danos na coluna os acidentes de trânsito, que somam 23% dos casos, e as tentativas de homicídio, que têm 6%



Uma pesquisa feita na Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo) mostra que os traumas de coluna, que freqüentemente geram seqüelas irreversíveis e podem levar à morte, são causadas principalmente por quedas -a maioria delas, de idosos.

A professora de enfermagem Vanessa Tuono Jardim, do Cefet (Centro Federal de Educação Tecnológica) de Santa Catarina, pesquisou dados sobre internações hospitalares no SUS (Sistema Único de Saúde) de 2000 a 2005. Em 40% dos casos, o trauma havia sido causado por quedas. Em segundo lugar vêm os acidentes de trânsito, que representam 23% das internações, seguidos de outros acidentes (20%) e das tentativas de homicídio, com 6%.
"Ficamos surpresos pelo fato de a maioria das quedas que geram traumas ser da própria altura [quando a pessoa não cai de uma altura maior] e afetar pessoas na faixa dos 70 anos", ressalta Jardim.

Enquanto a taxa de internação por quedas foi de 14,8 para cada 100 mil habitantes nas mulheres com idade de 70 a 79 anos, o número foi de 2,1 em mulheres com idade entre 20 e 29 anos. No caso dos homens, esse índice foi de 13,9 nos mais velhos e de 7,1 nos mais jovens.,br>
A diferença entre homens e mulheres aumenta após os 80 anos -elas são mais vulneráveis à osteoporose. "Piso muito liso, fios atravessados, pequenas coisas geram quedas. É preciso tornar a casa segura para os idosos", diz Fernando Façanha Filho, presidente da Sociedade Brasileira de Coluna.

Acidentes com trabalhadores da construção civil também estão entre os grandes motivos de queda, e respondem por 10% dos acidentes que afetam a região cervical -os mais graves.

Apesar de as quedas afetarem mais pessoas idosas, a conclusão da pesquisa é que, em geral, o trauma atinge mais homens de idade entre 20 e 29 anos. "São jovens no auge da sua produtividade, que costumam ficar com seqüelas muito graves", diz Jardim. Do total de internados por trauma em 2005, 3,9% morreram.

Um problema que afeta muitos pacientes jovens é a lesão por mergulho em águas rasas, responsável por 12% dos traumas por quedas. O hábito aumenta muito nesta época do ano. "É um problema absolutamente sazonal. E costuma estar associado ao consumo de álcool", afirma Façanha Filho, que recomenda sempre verificar a profundidade do local antes de mergulhar de cabeça.

No período estudado, a taxa de internações por traumas de coluna aumentou 52,7%: passou de 15 para 22,9 casos em cada 100 mil habitantes. O fenômeno acompanhou o crescimento nas internações por causas externas em geral (eventos não naturais). "Os acidentes de trânsito e a violência aumentaram no período. Com isso, há também mais traumas", diz.

Os traumas de coluna representam cerca de 3% das internações por causas externas. São cerca de 20 mil internações por ano. O dado é semelhante ao reportado em estudos feitos nos EUA, mas a quantidade de internações por trauma é mais alta do que a de países como a Alemanha, diz Jardim.


Traumas mais comuns

O levantamento também mostrou quais são os traumas mais comuns. Na maioria dos casos, a região atingida é a lombo-sacral, na base da coluna, que tem as conseqüências menos graves. Quase 30% das internações se deram por fratura na coluna cervical -nesse caso, a pessoa pode ficar tetraplégica. "Devido à mobilidade do pescoço, as vértebras nessa região são mais finas e a fragilidade da medula é maior. Quanto mais alto é o trauma, mais grave é a seqüela", diz Jardim.
Traumas que atingem a medula são os que têm mais chance de seqüelas graves e de morte: em média, 16% dos traumas atingiram essa estrutura do sistema nervoso central.

Jardim diz que, apesar de estudos com células-tronco estarem sendo feitos para tentar reabilitar a medula, muitas vezes não há o que fazer. "Causas externas são previsíveis e preveníveis. O importante é evitar que o trauma ocorra", diz.
Entre as medidas preventivas, ela cita a proteção aos trabalhadores da construção civil, as campanhas para uso de cinto de segurança e o controle de velocidade no trânsito.


Fonte:Folha de São Paulo

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