05/03/2007

Que os nossos esforços desafiem as impossibilidades



"Que os nossos esforços desafiem as impossibilidades. Lembrai-vos de que as grandes proezas da história foram conquistadas do que parecia impossível". - CHARLES CHAPLIN.



Ao começar a refletir sobre o que iria falar neste momento tão importante de nossas vidas, estas frases de Chaplin foram as mais significativas das quais me recordei.


Seis anos de desafios e inquietudes, a nos questionarmos da capacidade de aqui chegarmos para recebermos o tão sonhado título de médico. Conseguimos. Vencemos. Conquistamos esta proeza.


Ao longo do percurso amizades foram se sedimentando e paixões se revelando. E em meio às festas, aos desentendimentos e principalmente à convivência diária fomos aprendendo uns com os outros e nos tornando pessoas melhores. Certamente esse período e todos que dele fizeram parte ficarão marcados eternamente em nossas memórias.

Estamos cientes da responsabilidade que recai sobre nós, para usarmos todo o conhecimento adquirido a favor do ser humano de maneira justa, ética e sincera.


A partir de agora passaremos a conviver com as necessidades, angústias e anseios das pessoas. Nossas consciências serão sensibilizadas pelos que sofrem com a discriminação, a indiferença, a miséria e a fome. Devemos estar preparados e lhes garanto que estamos.


A medicina é milenar e acompanha a história da humanidade, por isso ela é tão fascinante e envolvente.


A partir do século XX, a era do conhecimento, da pesquisa e do desenvolvimento tecnológico é que a medicina veio beneficiar-se extraordinariamente.


Nunca, em tempo algum, os médicos tiveram tantas opções para o tratamento de seus pacientes como agora.


Tem-se acesso a equipamentos de última geração e a medicamentos extremamente eficazes na cura de diversas e graves doenças.


Novas descobertas virão. Pesquisas sobre o genoma e as células tronco caminham céleres. Procedimentos cirúrgicos á distância, via internet. Diagnósticos perfeitos com mínimas chances de erros.


Será fabuloso! Mas e o HOMEM - o PACIENTE em que plano está e estará?


Temos certeza de que os nossos familiares e amigos estão a desejar que sejamos os melhores e obtenhamos os maiores sucessos profissionais.


Mas e a comunidade o que espera de nós?


Todos querem ser beneficiados pelas grandes descobertas da ciência. Mas em meio a toda essa busca pelo desenvolvimento os médicos, ou melhor, nós em geral nos esquecemos do simples. E é disso que a humanidade anda carente. Das coisas simples da vida.


Em nossos consultórios somos capazes de possuir o melhor aparelho de ultra-som do mercado. No entanto, minimizamos o principio básico e essencial de uma consulta, que segundo Hipócrates o pai da medicina, é de observar e ESCUTAR o paciente. ESCUTAR. Simples não?


Mas este defeito não é privilégio apenas daqueles de jaleco branco. Nós, em geral, não escutamos uns aos outros. Preferimos guerrear a compreender e evoluir com as diferenças. Preferimos a solidão à "perder tempo" conhecendo melhor um estranho sentado ao nosso lado. Nos julgamos evoluídos, mas a cada dia nos tornamos menos humanos.


Mesmo dentro da complexidade do funcionamento do nosso corpo o simples nos ensina e representa muito. Vejamos: Somos dotados de 212 grupamentos musculares que são capazes de cerrar nossos punhos, elevar nosso tronco e expressar em nossa face dor, poder, superioridade e agressividade. No entanto basta movimentarmos quatro músculos e estendermos nossa mão em sinal de solidariedade e fraternidade. São necessários apenas dois para sorrirmos em sinal de cordialidade e amizade. E basta utilizarmos o nosso coração para termos um pouco mais de paz e amor.


Temos a obrigação de querer um mundo mais justo e pacifico. Mas para isso, como certa vez disse Mahatma Gandhi: "devemos nos tornar na mudança que queremos ver". Ou seja, darmos o exemplo. E isso requer exercício diário. Lanço aqui um desafio a todos, inclusive a mim mesmo. Deixemos de lado sentimentos pequenos como orgulho, egoísmo, inveja e rancor e comecemos hoje mesmo a exercitar um pouco mais o bom humor, a doação, o perdão e o elogio sincero. E percebermos assim o quanto gratificante é fazer o bem e proporcionar alegria aos nossos semelhantes.


Para concluir afirmo que, na verdade, é disso que a nossa comunidade, nossos pacientes, nossos familiares, nossos vizinhos, enfim todos nós mais necessitamos. Simplesmente um pouco mais de atenção, calor humano e amor.


Talvez, ou muito provavelmente, alguém aqui esteja pensando que todos esses desejos sejam apenas utopia, algo impossível. Pois bem, que os nossos esforços desafiem mais esta impossibilidade, e quem sabe, viver realmente em respeito e harmonia venha a ser a maior de todas as proezas humanas. Que Deus nos guie e nos ilumine. Felicidades a todos. Obrigado.



Discurso proferido pelo residente de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital e Maternidade Santa Brígida, Dr. FABRÍCIO VIEIRA FURTADO, na Colação de Grau do curso de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Turma de 2001-2006, realizada em 26 de janeiro de 2007.

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