14/04/2011
Proibido bônus a médico que pede menos exames
A ANS (Agência Nacional de Saúde) proibiu ontem, dia 13, que planos de saúde bonifiquem médicos que pedem menos exames a seus
pacientes. A prática, conhecida como "consulta bonificada" ou "pagamento por performance", tem sido denunciada pelos médicos
dos convênios.
Ela funciona assim: o plano faz um contrato para que o médico peça menos exames. Em troca, eles recebem no final do mês
um preço melhor pela consulta ou até bonificação em dinheiro. "A prática é antiética. É uma tentativa de tentar obrigar o
médico a não pedir exames. Sempre que se tentar vincular o ganho médico com o lucro que ele dá para a empresa [de convênio],
é péssimo para o paciente", afirma Florisval Meinão, diretor da AMB (Associação Médica Brasileira). Conselhos de medicina
já proíbem a prática, diz ele.
Mas agora, com a súmula da ANS publicada ontem no "Diário Oficial", as empresas que aderirem à prática serão punidas com
advertência ou multa de até R$ 35 mil.
Na decisão, a agência considerou que "os exames diagnósticos complementares têm por objetivo proporcionar o adequado diagnóstico
de patologias e orientar o tratamento dos pacientes". A ANS não soube informar ontem quantas denúncias foram feitas em relação
a isso.
Mas uma pesquisa do Datafolha encomendada pela APM (Associação Paulista de Medicina) mostrou, no final de 2010, que 80%
dos médicos entrevistados diziam que todos, quase todos ou a maioria dos planos interferem na autonomia do médico. Limitar
o número de exames ou procedimentos foi uma das interferências mais comuns descritas.
LIMITAÇÃO VELADA
A súmula da ANS, apesar de bem-vinda, não resolverá totalmente o problema, diz Meinão. Para ele, muitas operadoras fazem
essa limitação de forma velada.
"Um jeito que as empresas usam de pressionar é telefonar para o médico dizendo que ele está exagerando nos exames e não
está sendo bom parceiro. Tem médico que acaba descredenciado porque continua solicitando o mesmo número de exames", afirma
ele.
A FenaSaúde (Federação Nacional de Saúde Suplementar), que representa 15 dos maiores grupos de operadoras privadas de
assistência à saúde, informou em nota que suas afiliadas "desconhecem a prática de inibir procedimentos médicos [como consultas]
que está sendo objeto da súmula da ANS". No país, há 1.044 operadores de plano de saúde, com 45,6 milhões de clientes.
Fonte: Folha de São Paulo