03/04/2012

Programa Saúde da Família avança lentamente em cidades maiores

Só 5% das equipes têm médicos especializados. Baixa capacitação é o maior obstáculo do projeto, que visa prevenir doenças e antecipar diagnósticos



Apesar do aumento absoluto da população atendida por equipes da Estratégia Saúde da Família, nos últimos anos o avanço dessa cobertura tem revelado sinais de estagnação. O Brasil teve no ano passado um incremento de apenas 1,2% no número de atendidos pelo programa em relação a 2010, somando pouco mais de 101 milhões de pessoas.


Essa redução do avanço relativo, que já foi de 6,7% de 2007 a 2008, torna ainda mais difícil a meta do governo federal de universalizar as estratégias de saúde baseadas na prevenção, que pretende levar uma nova cultura em saúde ao alcance de todos os 191 milhões de brasileiros.


Mesmo com 53% da população atendida, a minoria das equipes existentes é composta de médicos com especialização na área. Segundo um estudo encomendado pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, apenas 5% das equipes do Saúde da Família têm um médico especializado em Medicina da Família e Comunidade, profissional que trabalha especificamente com acompanhamento, prevenção e promoção da saúde. "Hoje, o principal problema é a falta de médicos qualificados.


A estrutura de saúde, em si, não exige tantos recursos para ser mantida, mas não adianta ter uma unidade equipada com o que há de melhor se não há profissionais com formação para atender à demanda com qualidade", explica a coordenadora da residência de Medicina de Família e Comunidade da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Tânia Maria Santos Pires.


Ela cita o exemplo de sucesso de Belo Horizonte. Há alguns anos, os mineiros chegaram a 70% da população tendo cobertura dos programas da Saúde da Família - em Curitiba, o índice não passa de 30%. A chave para isso foi um investimento considerado ousado na qualificação dos estudantes de Medicina. "Por lá, a prefeitura decidiu incentivar a residência em medicina de família, essencial para implementação dos programas, e ela passou a organizar e manter financeiramente as residências na área."


Para o presidente da Asso­­ciação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, as estratégias do Saúde da Família precisam passar pela profissionalização do quadro de funcionários e pela oferta de educação continuada. "O governo federal está em campanha para alocar médicos recém-formados e sem formação adequada em municípios do interior mas, em muitos casos, acaba por não oferecer condições plenas de salário e estabilidade, o que é nocivo para o sistema."



Caminho


Para os especialistas, mesmo com alguns problemas, os incentivos do governo à prevenção no Brasil estão em um caminho positivo e conseguiram aproximar a população do sistema de saúde. E mesmo a dificuldade em ampliar a cobertura dos serviços não compromete a boa avaliação.


"É possível ampliá-la, tendo a preocupação com a qualificação dos profissionais, mas é ilusão achar que vamos cobrir 100% da população em curto prazo, já que muitos optam pelos planos de saúde e atendimento particular. A meta deve ser ter bons indicadores de saúde. Se um bairro ou cidade tem isso, o investimento pode ser direcionado a outras áreas", diz a médica pediatra e sanitarista Eliane Cesário Maluf, professora do curso de Medicina da Universidade Positivo.


Segundo ela, a iniciativa ainda é capaz de economizar recursos. "Estudos internacionais mostram que 85% a 90% dos casos podem ser atendidos em unidades de atenção primária, sem mobilizar hospitais e sistemas complexos, como UTIS, que são muito mais onerosos."



Diferença de estrutura marca destino de verbas


Há cinco anos, a cidade de Cas­­tro, na Região Central do es­­tado, tinha 90% da população atendida pelos programas da Saúde da Família, enquanto Curitiba não passava de 30%. A diferença provém da estrutura de saúde necessária em cada município.


"Enquanto Castro consegue atender quase toda a sua po­­pulação com cinco unidades de saúde, com quatro médicos em cada uma, Curitiba de­­manda uma estrutura muito maior. Por mais que a capital tenha mais recursos, tornar a cobertura abrangente é um desafio pelo tamanho da demanda", explica a professora do curso de Medicina da PUCPR Tânia Maria Pires.



Alta complexidade


As necessidades de alocação de recursos variam conforme o porte da cidade. Em uma cidade pequena, as unidades de saúde podem trabalhar quase que exclusivamente com a atenção primária à saúde, enquanto as maiores precisam destinar recursos para a alta complexidade.


"Caso uma pessoa de Cas­­tro seja diagnosticada com cân­­cer, é removida para Ponta Grossa, a regional de saúde mais próxima. Se o quadro for gravíssimo e demandar atendimento mais específico, é encaminhada para Curitiba. Com isso, a capital divide seus investimentos em várias frentes, enfraquecendo a quantidade destinada à prevenção."


Fonte: Gazeta do Povo

Publicada em 03/04/2012.

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