18/10/2019
Na passagem do Dia do Médico de 2019, a homenagem a um propagador dos ensinamentos éticos e de amor à profissão. Ele integra a série "Medicina que é vida; vida que é Medicina"
Seu sonho de criança: ser médico e construir uma família unida e feliz. Com sua firmeza de caráter e persistência, foi muito além. Edificou uma história de vida como modelo para seus descendentes – os filhos, netos e bisnetos. Vindo de uma família longeva, teve um dos cinco irmãos que seguiu seus passos firmes na Medicina. O caminho trilhado pelo mestre também foi o escolhido por um dos filhos, uma nora e duas netas, além de sobrinhos.
Temos aqui um pouco da trajetória do Dr. Sebastião Avelino Lopes (CRM-PR 166), que se diplomou em Medicina em dezembro de 1948 pela Universidade do Paraná, assim denominada antes de ser federalizada e tornar-se Universidade Federal do Paraná, o que ocorreu na metade do século passado.
Avançando para completar o centenário de nascimento – em 16 de abril de 2020 ‑, ele mereceu diploma de “Homenagem Especial” do Conselho de Medicina do Paraná, em concessão aprovada em sessão plenária de agosto último e que vem em complemento ao Diploma de Mérito Ético-Profissional que recebeu em 1999, na passagem do Jubileu de Ouro.
“Essa homenagem ao Dr. Sebastião Avelino Lopes não se deve apenas por ser um dos médicos com maior tempo de formação, idade mais avançada e em pleno gozo de saúde e vida no estado do Paraná. Também se deve ao seu desempenho ético-profissional durante toda a vida como médico e como professor emérito na UFPR, exemplo de disseminação do conhecimento”, como observado pelo presidente do CRM-PR, Roberto Yosida.
Natural de Ibitinga, cidade do interior paulista, foi o primogênito do casal de cafeicultores Sebastião Lopes da Silva e Virginia Gonçalves Lopes, e o primeiro da família a conquistar o curso superior. As marcas históricas de tempo de vida e formação despertam a atenção por si só, as quais são repletas de situações marcantes, que têm seu alicerce numa família tradicional e com especial amor à Medicina.
Dedicação à família
O Dr. Sebastião casou-se em 1950 com Dra. Laís de Macedo, formada em Direito e em Filosofia, Ciências e Letras. A Dra. Laís era filha do Prof. Dr. João Ribeiro de Macedo Filho, um dos fundadores da UFPR. Na condição de reitor, foi ele quem assinou o diploma de médico do Dr. Sebastião.
O casal teve quatro filhos, um deles o cirurgião cardiovascular Dr. Luiz Roberto de Macedo Lopes (CRM-PR 10.180), formado pela mesma Federal do Paraná, em 1985, e que é casado com a Dra. Mylene Tavares Velho Lopes (CRM 10.420). Ela também é graduada pela UFPR (em 1986) e é especialista em clínica médica e cardiologia.
A terceira geração de médicos da família vem com a Dra. Franccesca Asinelli de Macedo Lopes (CR-PR 37.405), graduada pela Pontifícia Universidade Católica (2016) e que conclui nesse ano em curso a residência em pediatria no Hospital Pequeno Príncipe. A Dra. Franccesca é uma das três filhas do engenheiro eletricista e administrador Carlos Eduardo de Macedo Lopes, casado com Ana Beatriz Asinelli Lopes. As outras filhas do casal são Andressa, arquiteta e urbanista, e Anna Carolina, médica veterinária.
Também na terceira geração de médicos aparece outra neta, Júlia, filha dos Drs. Luiz Roberto e Mylene. Ela, que está se formando neste semestre pela Universidade Evangélica-Mackenzie, é irmã de Luiz Guilherme, estudante de Arquitetura.
O outro filho do Dr. Sebastião e da Dra. Laís, o cirurgião dentista e professor da UFPR, Dr. João Carlos, já é falecido. Deixou os filhos Ricardo, doutor em biologia, e Thiago, administrador.
A única filha do casal é Ana Maria, mestre em educação, pedagoga e administradora.
“Um momento de muita tristeza na vida do Dr. Sebastião foi o falecimento de sua querida esposa e companheira Dra Laís, em fevereiro de 2018, aos 92 anos. Afinal, foram quase sete décadas de muito amor e cumplicidade, na qual edificaram uma família muito unida, amorosa e solidária. Por ser muito católico, emocionalmente sereno e amoroso, o Dr. Sebastião é o porto seguro da família”.
A reflexão advém de um dos familiares, que faz questão de destacar que chegada da primeira bisneta ‑ Anna Laís, em abril de 2018 ‑ vem lhe trazendo muitas alegrias e esperança. “O convívio com a bisneta vem sendo motivo de muitos sorrisos e encantamento”, resume a fonte, reforçando que a família do Dr. Sebastião, aliás, está sempre presente no seu dia a dia, fazendo-lhe companhia, celebrando a vida, compartilhando suas histórias e o interesse pelo esporte.
Médico e professor
Em 1943, quando o Dr. Sebastião ingressou na Faculdade de Medicina, a Universidade do Paraná ainda era uma instituição privada. Com muito empenho e dedicação aos estudos, à prática de esportes, ao trabalho e ao Exército, concluiu o curso de oficialato no período da Segunda Guerra Mundial, o que posteriormente garantiu-lhe o título de 2º tenente médico.
Ele relembra com carinho de muitos de seus mestres no curso de Medicina, entre eles a Dra. Maria Falce de Macedo, a primeira médica e professora da UFPR, titular da cadeira de Química, e seu marido, Prof. José Pereira de Macedo, da cadeira de Anatomia.
Aluno estudioso da 30ª turma do Curso de Medicina, o Dr. Sebastião formou-se em 17 de dezembro de 1948. A turma foi nomeada Professor Victor Ferreira do Amaral e teve como paraninfo o Prof. Homero de Mello Braga. Dentre os colegas de turma por ele citados destacam-se, dentre outros, os Drs. Amadeu Beduschi, Hamilton Calderari Leal, Tazir Leprevost, Célia Paciornik, Iorfinda Moura, Frederico Guilherme Virmond, Paulo de Tarso Monte Serrat e Carlos Taques de Souza, este que recentemente completou 101 anos, integra a galeria “Medicina que é vida; vida que é Medicina!” e também mereceu o diploma especial.
Logo que se graduou, o Dr. Sebastião foi nomeado médico da Secretaria de Saúde do Estado. Ao mesmo tempo, tinha seu consultório particular, com grande clientela, realizando sempre muita atividade médico-social. Trabalhou como médico de família atendendo várias gerações, algumas delas suas amigas até hoje.
Foi professor do curso de Medicina da UFPR, na cadeira de Farmacologia, sendo também diretor do departamento. Aposentou-se em 1991, após 32 anos de dedicação ao ofício de professor. Ele se declara muito feliz quando é reconhecido e abordado por seus ex-alunos, que enaltecem suas qualidades como exímio mestre.
Como realça a única filha, Ana Maria, “os demais pares da docência, alunos e médicos o reverenciam até hoje por sua ética, responsabilidade, respeito, saber e dignidade, tendo recebido inúmeras homenagens de turmas de formandos e o Diploma de Mérito conferido pelo Conselho Regional de Medicina do Paraná em 1999, em solenidade festiva na sede da Associação Médica do Paraná, ao completar 50 anos de sua formatura. Teve uma carreira longa e brilhante, de muita dedicação, estudo, cursos de especialização, seriedade e comprometimento. Continua até hoje lendo artigos sobre Medicina e trocando experiências com os médicos da família.”
Homenagem
Na pesquisa aos “médicos noventinhas” ainda ativos nos registros do CRM-PR, o Dr. Sebastião Avelino Lopes destacou-se entre os colegas por deter um dos números de inscrição mais antigos.
O jornalista do CRM-PR que o entrevistou relata: “Meu primeiro contato pessoal com o Dr. Sebastião foi em julho último visando coletar dados para a reportagem especial. Fui recebido muito cordialmente em sua casa, no bairro Centro Cívico, em Curitiba, onde sua família cresceu e onde mora há seis décadas. Ouvi que, nesse local, transitaram muitos de seus pacientes para consultas rápidas, conselhos ou até mesmo para bate-papo. Quando da entrevista, que foi bastante descontraída, o Dr. Sebastião estava cercado dos filhos, netas e também da bisnetinha. Mesmo com a emoção do momento e o resgate de lembranças, atestou sua lucidez e vivacidade, fazendo questão de exibir seu diploma, convite de formatura, fotos, placas de homenagens e documentos históricos. Entre eles, a primeira carteira de médico e de médico-militar, quadro dos formandos de 1948 e até mesmo a beca usada na ocasião. Tudo guardado com o máximo zelo, numa harmonia com o próprio ambiente da residência, decorado com mobiliário clássico, refinado e de bom gosto.”
O entrevistador complementa: “Nesse ambiente registramos muitas fotos e ouvimos muitas histórias, várias delas da juventude do Dr. Sebastião, que esteve perto até de se tornar um atleta profissional, tamanha a sua desenvoltura no atletismo, em corrida, salto triplo e com vara”. Aliás, como destacado pelos familiares, essas práticas de atividade física foram mantidas ao longo do tempo, frequentando semanalmente academia e realizando caminhadas.
Pelo que nos relatou, os cuidados com a saúde são herança da infância na fazenda, hábitos de alimentação saudável e exercícios. Isso lhe proporciona até hoje uma saúde física e mental invejável, comprovado ao longo da nossa conversa, pela riqueza de detalhes de sua história. Provando ser assíduo leitor, apresentou-nos exemplar da obra Contribuição à História da Medicina no Paraná, de autoria do Prof. Ehrenfried Wittig”.
Ainda na entrevista, o Dr. Sebastião historiou passagens de vida profissional como médico e professor, fugindo de protagonismos. Humildemente confessa ter se limitado a cumprir sua missão com os ensinamentos recebidos.
Ao saber da inclusão do Dr. Sebastião na série especial “Medicina que é vida, vida que é Medicina!” e que o Conselho Regional de Medicina do Paraná o agraciara com um novo diploma pela aproximação do centenário de nascimento e 71 anos de formado, a família enviou a seguinte mensagem: “Agradecemos a homenagem ao nosso amado pai; nosso orgulho e exemplo de vida. Agradecemos também a oportunidade de compartilhar com as novas gerações a história de um grande e honrado homem. Competente, humano e digno médico, inteligente, culto e dedicado professor que construiu sua história com muita seriedade, trabalho, ética, amor e generosidade.”
Longevidade
A genética tem hereditariedade marcante na família. O pai faleceu aos 83 anos e a mãe aos 86 anos, isto há mais de três décadas, quando a expectativa de vida no País não chegava aos 65 anos. Se o Dr. Sebastião caminha firme para os 100 anos, os seus irmãos seguem na mesma direção: Alzira Lopes Zitelli, 98 anos; Ediotilde, 93 anos; Maria de Lourdes, 94 anos; Antonio Silvio, que é médico, com 91 anos; e Wanda, 90 anos.
Em janeiro de 2018, o jornal Folha de Londrina publicou uma reportagem especial sobre a família Lopes, enfatizando a longevidade da mesma. O texto intitulado “Uma família que vai longe...” contou um pouco de da vida do Dr. Sebastião, que reside em Curitiba, e de seus irmãos, que residem em Londrina. Apesar da distância, como expresso no material jornalístico, “eles sempre se falam e se reúnem para celebrar uma história marcada por muitas recordações e exemplos para as novas gerações”.
Medicina que é vida...
Saiba mais sobre o início da série clicando aqui.
Confira aqui um pouco da história do Dr. Hyzo Gondeberto dos Santos (CRM-PR 836), de Umuarama, que integra o rol de médicos que passaram dos 90 anos.
Confira aqui um pouco da história do Dr. Carlos José Taques Franco de Souza (CRM-PR 77), que aos 101 anos é atualmente o médico com mais idade em vida no Paraná.
Para sugestões e ou informações complementares sobre os médicos inseridos na série, enviar email para: comunicacao@crmpr.org.br