20/07/2011

Procuram-se médicos



Não faltam médicos no Brasil, segundo o CFM (Conselho Federal de Medicina). Entre 2000 e 2009, o número desses profissionais cresceu 27%, mais que o dobro do aumento populacional no período.


O principal problema está na distribuição dos benefícios da atividade médica pela sociedade. As diferenças regionais são gritantes.


O ideal seria contar com 2,5 médicos por mil habitantes. A média nacional (1,8) não está distante disso, como estão Maranhão (0,54), Amapá (0,72) e Pará (0,75), sim. São Paulo tem 2,48. Destacam-se Rio de Janeiro, com 3,47, e Distrito Federal, com 3,54.


Sem dúvida, parte dessa desproporção constitui resultado inevitável da concentração do atendimento especializado em grandes centros urbanos. Mais da metade das 16.541 vagas em cursos de medicina do país estão no Sudeste.


Um plano para atenuar o problema foi preparado pelos ministérios da Saúde e da Educação. A primeira providência seria criar 2.500 vagas de graduação em universidades públicas de áreas desprovidas, segundo reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo".


Além disso, pretende-se oferecer aos profissionais recém-formados algumas vantagens nos exames de residência médica, caso se disponham a trabalhar dois anos em regiões desassistidas.


O mecanismo viria na forma de um bônus, de 10% ou 20%, na pontuação do candidato. A proposta ainda precisa ser debatida por entidades médicas -e não faltam vozes contrárias à estratégia, considerada coercitiva. Médicos inexperientes, argumenta-se, não seriam os mais indicados para tratar de populações carentes.


É inegável, porém, que, sem alguma forma de estímulo financeiro e profissional, poucos médicos haveriam de se dispor a abandonar os grandes centros. E a probabilidade de que o façam tende a ser ainda menor depois, já com clientela e carreira estabelecidas.


A vivência adquirida pelo recém-formado como médico de família em regiões longínquas, além disso, não deixa de constituir uma qualificação desejável para a residência médica. Não raro os especialistas aí formados desconhecem as patologias mais comuns da população brasileira e se distanciam precocemente do papel social da medicina.


O bônus proposto tem a vantagem de favorecer a adesão voluntária, sem impor o estágio como médico da família aos novatos. Aliada à abertura de vagas de graduação em regiões necessitadas (e ao fechamento das oferecidas em cursos ruins onde forem supérfluas), a proposta pode começar a reverter o desequilíbrio no acesso a serviços médicos no Brasil.



Fonte: Editorial do jornal Folha de S. Paulo

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