27/11/2012

Prevenção diminui casos de câncer

A prevenção ainda é a melhor forma de evitar o apare­­cimento de tumores. A constatação, já conhecida na me­­dicina, foi comprovada por um estudo divulgado ontem, no Dia Nacional de Combate ao Câncer, pelo Instituto Na­­cional do Câncer (Inca). Os dados coletados em dez capitais brasileiras e em uma cidade do interior paulista revelam uma redução na taxa de incidência (novos casos) e mortalidade de tumores, como o de colo de útero e de mama, nos últimos 20 anos. Por outro lado, mostram um crescimento nos casos de câncer de próstata, de cólon e reto e, entre as mulheres, de pulmão.


No caso do câncer de colo do útero, Curitiba foi a que apresentou a maior queda na incidência (-9,4%) e na mortalidade (-7,9%). Já os de mama tiveram maior redução de casos e óbitos em Salvador (-4,1% e -3,9%, respectivamente). O câncer de pulmão também apresentou uma pequena redução na incidência entre os homens (mas não entre as mulheres) em Curitiba, São Paulo e Salvador, mas ainda apresenta um aumento preocupante na taxa de mortalidade em ambos os sexos.



A oferta de exames e a cons­­cientização das pacientes foram essenciais para a queda dos números dos dois cânceres que mais atingem as mulheres, de acordo com o oncologista José Clemente Linhares, do serviço de Ginecologia e Mama do Hospital Erasto Gaertner. A relação é muito clara quando se analisam os casos de câncer de colo do útero, que podem ser detectados em fase inicial por meio de um exame simples e barato, o papanicolau. Por detectar lesões pré-cancerosas ou em estágio muito precoce, o exame impacta tanto na incidência de novos casos quanto na de óbitos.



Sem surpresa


Para o médico, já era esperado que Curitiba apresentasse diminuição dos casos, pois a cidade investiu pesado na prevenção com o programa Viva Mulher, que desde 1997 incentiva as mulheres a fazer em o exame. Graças a um sistema de busca ativa, a rede de saúde também vai atrás da paciente cujo exame apresentou alguma alteração para encaminhá-la ao tratamento. "Em 1995, a mortalidade em Curitiba era de 12,9 mulheres por 100 mil. Em 2005, o índice diminuiu para 6,7 por 100 mil", afirma Linhares.


Outros fatores também con­­tribuíram, como o uso de preservativos - uma das vias de transmissão do vírus HPV, que causa o câncer, é a sexual - e campanhas na escola e na mídia. Agora, a esperança dos médicos é que o governo ofereça a vacina contra o HPV, que protege contra dois tipos de vírus que causam o câncer. "Caso isso seja feito, podemos esperar uma queda ainda maior."



Casos de câncer de pulmão diminuem, mas ainda preocupam


O relatório do Instituto Nacional do Câncer (Inca) também apontou uma ligeira diminuição na incidência de câncer de pulmão em algumas capitais, como São Paulo, Salvador e Curitiba, mas a mortalidade ainda está aumentando na maioria das cidades. Entre as mulheres, a situação é mais grave: quase todas as capitais tiveram aumento da mortalidade e de novos casos.


De acordo com o oncologista do Serviço de Tórax do Hospital Erasto Gaertner Vinícius Preti, a proporção do número de fumantes na população tem diminuído -- passou de 35% do total de brasileiros nos anos 80 para 14% atualmente --, o que explica a ligeira queda ao longo dos últimos anos. No entanto, como a doença leva cerca de 30 anos para se manifestar, os efeitos do abandono do cigarro só serão fortemente sentidos daqui a alguns anos.


O fato de as mulheres apresentarem um maior aumento na taxa de mortalidade se explica porque elas adquiriram o hábito anos mais tarde do que os homens, por questões sociais. Por isso, se elas abandonarem o cigarro agora, tal tendência só se refletirá nos números do câncer daqui a alguns anos. O médico, porém, diz que a mudança já está ocorrendo. "Leis mais severas contra o cigarro, o uso de imagens negativas nos maços e o desaparecimento do cigarro na novela e nos filmes contribuíram para isso".



Cólon e próstata


Já no caso de tumores de cólon e reto e de próstata, a incidência está aumentando na maior parte das cidades, principalmente devido aos hábitos alimentares da população, segundo diretor-clínico do Instituto de Oncologia do Paraná Luiz Antonio Negrão Dias. "As pessoas têm comido muita comida gordurosa, de origem animal, do estilo fast food. O câncer de cólon, por exemplo, já é o câncer mais comum nos Estados Unidos, justamente por conta dessa alimentação", comenta.



Serviço:

Confira a íntegra do estudo do Inca.




Cuide-se


Conheça algumas ações preventivas:


- Mamografia a partir dos 40 anos, feita a cada dois anos.


- Exame do colo do útero (papanicolau) a cada dois anos a partir do início da vida sexual.


- Campanhas de conscientização na mídia.


- Uso de preservativo, no caso do câncer de colo do útero.


- Abandono do cigarro e do sedentarismo.


- Menor uso de hormônios.


- Quimioterápicos e exames melhores, além de individualização do tratamento.




Exame é aliado importante


A diminuição da incidência e da mortalidade dos casos de câncer de mama têm relação direta com o aumento na oferta de exames de mamografia e o incentivo para que as mulheres realizem o procedimento após os 40 anos, o que demonstra mais uma vez a importância da prevenção, de acordo com o mastologista do Hospital Santa Brígida Leônidas Noronha da Silva. "A mamografia permite a detecção do tumor em um estágio muito inicial, quando tem grande potencial de cura", diz.


A evolução no conhecimento da doença - hoje há mais de nove tipos diferentes de câncer de mama - também permitiu um tratamento mais individualizado, aumentando as chances de cura. "Além disso, hoje já se conhece melhor a relação da doença com alguns estilos de vida, como o sedentarismo, assim como o risco representado pela reposição hormonal, que aumenta a probabilidade de desenvolver o câncer na menopausa. Com isso, as mulheres passaram a ir mais à academia e a tomar menos hormônios", diz diretor clínico do Instituto de Oncologia do Paraná Luiz Antônio Negrão Dias.


Os médicos também apontam para a diminuição do número de mulheres fumantes - que ainda é alto - como um fator importante. Hoje, sabe-se que o cigarro aumenta as chances de desenvolvimento do câncer mamário, além de, direta ou indiretamente, causar outros cem tipos diferentes de tumores.



Fontes: José Clemente Linhares (Erasto Gaertner); Leônidas Noronha da Silva (Maternidade Santa Brígida); Luiz Antonio Negrão Dias (IOP).




Fonte: Gazeta do Povo

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