A prevenção ainda é a melhor forma de evitar o aparecimento de tumores. A constatação, já conhecida na medicina, foi comprovada
por um estudo divulgado ontem, no Dia Nacional de Combate ao Câncer, pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). Os dados
coletados em dez capitais brasileiras e em uma cidade do interior paulista revelam uma redução na taxa de incidência (novos
casos) e mortalidade de tumores, como o de colo de útero e de mama, nos últimos 20 anos. Por outro lado, mostram um crescimento
nos casos de câncer de próstata, de cólon e reto e, entre as mulheres, de pulmão.
No caso do câncer de colo do útero, Curitiba foi a que apresentou a maior queda na incidência (-9,4%) e na mortalidade
(-7,9%). Já os de mama tiveram maior redução de casos e óbitos em Salvador (-4,1% e -3,9%, respectivamente). O câncer de pulmão
também apresentou uma pequena redução na incidência entre os homens (mas não entre as mulheres) em Curitiba, São Paulo e Salvador,
mas ainda apresenta um aumento preocupante na taxa de mortalidade em ambos os sexos.
A oferta de exames e a conscientização das pacientes foram essenciais para a queda dos números dos dois cânceres que
mais atingem as mulheres, de acordo com o oncologista
José Clemente Linhares, do serviço de Ginecologia e Mama do Hospital
Erasto Gaertner. A relação é muito clara quando se analisam os casos de câncer de colo do útero, que podem ser detectados
em fase inicial por meio de um exame simples e barato, o papanicolau. Por detectar lesões pré-cancerosas ou em estágio muito
precoce, o exame impacta tanto na incidência de novos casos quanto na de óbitos.
Sem surpresa
Para o médico, já era esperado que Curitiba apresentasse diminuição dos casos, pois a cidade investiu pesado na prevenção
com o programa Viva Mulher, que desde 1997 incentiva as mulheres a fazer em o exame. Graças a um sistema de busca ativa, a
rede de saúde também vai atrás da paciente cujo exame apresentou alguma alteração para encaminhá-la ao tratamento. "Em 1995,
a mortalidade em Curitiba era de 12,9 mulheres por 100 mil. Em 2005, o índice diminuiu para 6,7 por 100 mil", afirma Linhares.
Outros fatores também contribuíram, como o uso de preservativos - uma das vias de transmissão do vírus HPV, que causa
o câncer, é a sexual - e campanhas na escola e na mídia. Agora, a esperança dos médicos é que o governo ofereça a vacina contra
o HPV, que protege contra dois tipos de vírus que causam o câncer. "Caso isso seja feito, podemos esperar uma queda ainda
maior."
Casos de câncer de pulmão diminuem, mas ainda preocupam
O relatório do Instituto Nacional do Câncer (Inca) também apontou uma ligeira diminuição na incidência de câncer de pulmão
em algumas capitais, como São Paulo, Salvador e Curitiba, mas a mortalidade ainda está aumentando na maioria das cidades.
Entre as mulheres, a situação é mais grave: quase todas as capitais tiveram aumento da mortalidade e de novos casos.
De acordo com o oncologista do Serviço de Tórax do Hospital Erasto Gaertner Vinícius Preti, a proporção do número de fumantes
na população tem diminuído -- passou de 35% do total de brasileiros nos anos 80 para 14% atualmente --, o que explica a ligeira
queda ao longo dos últimos anos. No entanto, como a doença leva cerca de 30 anos para se manifestar, os efeitos do abandono
do cigarro só serão fortemente sentidos daqui a alguns anos.
O fato de as mulheres apresentarem um maior aumento na taxa de mortalidade se explica porque elas adquiriram o hábito
anos mais tarde do que os homens, por questões sociais. Por isso, se elas abandonarem o cigarro agora, tal tendência só se
refletirá nos números do câncer daqui a alguns anos. O médico, porém, diz que a mudança já está ocorrendo. "Leis mais severas
contra o cigarro, o uso de imagens negativas nos maços e o desaparecimento do cigarro na novela e nos filmes contribuíram
para isso".
Cólon e próstata
Já no caso de tumores de cólon e reto e de próstata, a incidência está aumentando na maior parte das cidades, principalmente
devido aos hábitos alimentares da população, segundo diretor-clínico do Instituto de Oncologia do Paraná Luiz Antonio Negrão
Dias. "As pessoas têm comido muita comida gordurosa, de origem animal, do estilo fast food. O câncer de cólon, por exemplo,
já é o câncer mais comum nos Estados Unidos, justamente por conta dessa alimentação", comenta.
Serviço:
Confira a íntegra
do estudo do Inca.
Cuide-se
Conheça algumas ações preventivas:
- Mamografia a partir dos 40 anos, feita a cada dois anos.
- Exame do colo do útero (papanicolau) a cada dois anos a partir do início da vida sexual.
- Campanhas de conscientização na mídia.
- Uso de preservativo, no caso do câncer de colo do útero.
- Abandono do cigarro e do sedentarismo.
- Menor uso de hormônios.
- Quimioterápicos e exames melhores, além de individualização do tratamento.
Exame é aliado importante
A diminuição da incidência e da mortalidade dos casos de câncer de mama têm relação direta com o aumento na oferta de
exames de mamografia e o incentivo para que as mulheres realizem o procedimento após os 40 anos, o que demonstra mais uma
vez a importância da prevenção, de acordo com o mastologista do Hospital Santa Brígida Leônidas Noronha da Silva. "A mamografia
permite a detecção do tumor em um estágio muito inicial, quando tem grande potencial de cura", diz.
A evolução no conhecimento da doença - hoje há mais de nove tipos diferentes de câncer de mama - também permitiu um tratamento
mais individualizado, aumentando as chances de cura. "Além disso, hoje já se conhece melhor a relação da doença com alguns
estilos de vida, como o sedentarismo, assim como o risco representado pela reposição hormonal, que aumenta a probabilidade
de desenvolver o câncer na menopausa. Com isso, as mulheres passaram a ir mais à academia e a tomar menos hormônios", diz
diretor clínico do Instituto de Oncologia do Paraná Luiz Antônio Negrão Dias.
Os médicos também apontam para a diminuição do número de mulheres fumantes - que ainda é alto - como um fator importante.
Hoje, sabe-se que o cigarro aumenta as chances de desenvolvimento do câncer mamário, além de, direta ou indiretamente, causar
outros cem tipos diferentes de tumores.
Fontes: José Clemente Linhares (Erasto Gaertner); Leônidas Noronha da Silva (Maternidade Santa Brígida); Luiz Antonio
Negrão Dias (IOP).
Fonte: Gazeta do Povo