clique para ampliarPresidente do CRM-PR em audiência pública sobre
cigarro eletrônico na ALEP (Foto: CRM-PR)
Medidas para combater o consumo desenfreado entre os jovens
de cigarros eletrônicos - conhecidos como vapes ou pods -, e reduzir ao máximo os efeitos desses
produtos na saúde, precisam ser adotadas com urgência. Essa é a opinião unânime entre os
especialistas e representantes das áreas de educação, segurança pública, saúde,
meio ambiente e do Poder Judiciário, que participaram na tarde desta quarta-feira (6), de uma audiência pública
realizada na Assembleia Legislativa do Paraná para discutir esse cenário vivenciado hoje, principalmente, nas
escolas paranaenses.
Segundo o deputado Evandro Araújo (PSD), presidente
da Comissão de Defesa dos Direitos da Criança, do Adolescente e da Pessoa com Deficiência, e proponente
do debate, por serem ilegais, em muitas escolas públicas e privadas, esses dispositivos são apreendidos e os
gestores escolares não sabem o que fazer: “Existem escolas com centenas de cigarros eletrônicos apreendidos.
Temos um problema de saúde, de educação e ambiental, pois há também a questão do
descarte correto desses produtos”, alertou. Ele falou ainda sobre os malefícios provocados na saúde desses
jovens.
“Queremos saber como enfrentar essa situação, especialmente, no ambiente escolar”,
comentou. O parlamentar reiterou que pesquisas indicam que um vape, pod, pen-drive, entre outros tipos,
equivale ao consumo de cerca de vinte cigarros. "Os estudantes acham que esses dispositivos são inofensivos por terem
aromas, mas, na verdade, são ainda mais prejudiciais à saúde", acrescentou.
“Isso está destruindo nossas meninas e
meninos”, afirmou a doutora Danielle Cristine Cavali Tuoto, promotora de Justiça, que atua no Centro de Apoio
da Criança e do Adolescente do Ministério Público do Paraná (MPPR). Ela enfatizou que o comércio
desses dispositivos é proibido no país e, por isso, defende ser necessário responsabilizar pais e adolescentes.
“Esses cigarros eletrônicos são fruto de crime, de contrabando”, observou. A promotora entende que
há necessidade, urgente, de ações conjuntas focadas na orientação e prevenção.
Esses dois pontos – orientação
e prevenção – foram reforçados e compartilhados pelos demais participantes presentes, que apresentaram
suas experiências, deram depoimentos e defenderam que o melhor caminho para enfrentar e coibir esse cenário é
uma atuação integrada. “Temos que proteger nossas crianças e adolescentes”, disse o doutor
Rodrigo Rodrigues Dias, juiz de Direito Substituto da I Sessão Judiciária da Região Metropolitana de
Curitiba (TJPR), que durante muitos anos atuou na área. Dias fez um relato breve sobre a legislação em
vigor e defendeu a promoção de palestras nas escolas.
“Temos que inibir o ingresso nesse mundo”,
alertou o doutor Diego Russo, promotor de Justiça, coordenador do Comitê de Políticas Institucionais sobre
Drogas do MP-PR. Russo falou sobre os atrativos que esses dispositivos eletrônicos apresentam – como sabores e
formatos, e também dos problemas de saúde. Aspectos reforçados pelo delegado Renato Bastos Figueiroa,
chefe do Núcleo Estadual de Políticas sobre Drogas da Secretaria de Estado de Segurança Pública
(SESP), que representou o secretário Coronel Husdon Leôncio Teixeira, no debate. O delegado detalhou ações
que estão sendo implementadas com o objetivo de combater esse consumo. “O cigarro eletrônico é uma
nova moda junto aos que fumam”, disse.
Escola apreende 300 dispositivos
A psicóloga Walquíria Onete Gomes, membro
do Conselho Estadual de Políticas sobre Drogas, que representou o Secretário de Estado da Educação,
Roni Miranda no evento, contou que recentemente, uma escola da rede pública do interior informou que havia apreendido
em torno de 300 cigarros eletrônicos. “Eles eram usados por estudantes dentro do espaço da escola”,
comentou. De acordo com Walquíria, o tema de combate ao uso de drogas faz parte do currículo escolar e há
uma série de atividades sendo desenvolvidas em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde (SESA) e a SESP
com a finalidade de conscientizar os estudantes. “A Secretaria de Educação vai contribuir com esse esforço
conjunto que está sendo proposto aqui. Esse é um tema mundialmente preocupante”, enfatizou.
O advogado e médico Romualdo Gama, presidente
do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), sublinhou, igualmente, a importância das ações
que visem conscientizar sobre os perigos para a saúde, especialmente entre os jovens. Gama lembrou que há um
projeto de lei (nº 5.008 de 2023, da senadora Soraya Thronicke), em debate no Senado Federal, dispondo sobre a produção,
importação, exportação, comercialização, controle, fiscalização e
propaganda dos cigarros eletrônicos e dá outras providências, sob o pretexto da economia e arrecadação
de impostos. Lembrou que nicotina é uma droga altamente viciante encontrada em cigarros e outros produtos derivados
do tabaco. De acordo com o médico, a nicotina prejudica o cérebro em desenvolvimento e, já há
inúmeras pesquisas comprovando a gravidade dos malefícios provocados pelos cigarros eletrônicos.
Participaram também do debate pais, alunos, especialistas
e outras autoridades. Destacamos as presenças de Maria Goretti Lopes, diretora de Atenção e Vigilância
em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SESA), representando o secretário César Neves;
de Walquiria Menna Brusamolin, técnica de Coordenação de Saneamento Ambiental e Economia Circular da
Diretoria de Políticas Ambientas da Secretaria de Estado do desenvolvimento Sustentável (Sedest), representando
o secretário Everton Luiz da Costa Souza; de Walquiria Olegário Mazeto, presidente da Associação
dos Professores do Paraná (APP-Sindicato); do doutor Fernando Redede Rodrigues, coordenador do Núcleo da Criança,
da Infância e Juventude da Defensoria Pública do Estado do Paraná (NUDIJ-DPE/PR); de Juliana Chistina
Simas de Macedo, chefe da Divisão Administrativa Aduaneira da Secretaria da Receita Federal; e de Juliana Sabagg, coordenadora
da Política da Criança e do Adolescente na Secretaria de Desenvolvimento Social e da Família do Estado
do Paraná, que é presidente do Conselho Estadual da Criança e do Adolescente do Paraná (CEDCA-PR).
Iniciação precoce ao tabagismo
Os Dispositivos Eletrônicos de Fumar (DEFs), também
conhecidos como cigarros eletrônicos, vape, pod, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar e
heat not burn (tabaco aquecido), estão proibidos no Paraná há mais de 14 anos. De acordo com
a Lei Antifumo (16.239/2009), está proibido em ambientes de uso coletivo, total ou parcialmente fechados, públicos
ou privados, o consumo de cigarros, cigarrilhas, charutos, cachimbos ou de qualquer outro produto fumígeno, derivado
ou não do tabaco, que produza fumaça e o uso de cigarro eletrônico (Redação dada pela Lei
21.520/2023).
Entretanto, embora a comercialização seja
proibida no estado, e em todo o Brasil, desde 2009, os dispositivos eletrônicos para fumar podem ser encontrados em
diversos estabelecimentos comerciais, e o consumo, sobretudo entre os jovens, tem aumentado. Recentemente, o regulamento referente
aos dispositivos eletrônicos para fumar foi atualizado e o Governo endureceu a proibição, vigente desde
2009.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) publicou neste ano, uma resolução (Resolução da Diretoria Colegiada – RDC n.º
855, de 23 de abril de 2024), que proíbe a fabricação, a importação, a comercialização,
a distribuição, o armazenamento, o transporte e a propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar, popularmente
conhecidos como cigarro eletrônico. O texto define os dispositivos eletrônicos para fumar como “produto
fumígeno cuja geração de emissões é feita com auxílio de um sistema alimentado por
eletricidade, bateria ou outra fonte não combustível, que mimetiza o ato de fumar”.
De acordo com a Organização Mundial da
Saúde (OMS), novos produtos, como os cigarros eletrônicos, e informações enganosas da indústria
do tabaco são uma ameaça, levando a uma iniciação ao tabagismo cada vez mais precoce. Já
o Ministério da Saúde tem destacado, em campanhas públicas, que os dispositivos eletrônicos para
fumar, que englobam os cigarros eletrônicos e outros produtos de tabaco aquecido, têm quantidades variáveis
de nicotina e outras substâncias tóxicas, o que faz com que suas emissões sejam prejudiciais tanto para
quem faz o uso direto quanto para quem é exposto aos aerossóis.
FONTE: ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO PARANÁ