18/07/2014

Por falta de recursos, um hospital fecha por semana no Brasil

2,2 milhões de pessoas compraram planos de saúde em 2013; para atendê-las faltam 23,2 mil novos leitos

A saúde é um setor rentável, responsável por 9% do PIB nacional. Os hospitais, consultórios e laboratórios estão cada vez mais cheios, o que a princípio poderia ser bom sinal para os negócios. O problema é que a rede suplementar - que surgiu como alternativa ao lotado Sistema Único de Saúde - não tem capacidade para dar conta dessa nova demanda.

De 2008 a 2013, o número de beneficiários de seguradoras de saúde aumentou 4,6%. Só em 2013 chegaram 2,2 milhões de novos usuários ao sistema, que apresentaram uma taxa média de internação de 14%.

Na contramão. De 2007 a 2012, um hospital particular fechou as portas a cada semana. No total deixaram de funcionar 256 estabelecimentos. "As contas não fecham", diz Francisco Balestrin, presidente da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp), que reúne 55 instituições. A principal receita dos hospitais privados, 88%, vem dos clientes segurados. A receita média líquida cresceu 5,1% e a despesa, 6,1%.

"Instituições de pequeno porte, com média de 55 leitos, não conseguem ter rentabilidade. Não existe viabilidade financeiramente", diz Sérgio Bento, diretor da Planisa, consultoria de saúde suplementar, que dirigiu por 15 anos o Hospital Samaritano, em São Paulo.

Os hospitais privados possuem, em média, 53 leitos. Os públicos, 79, e os filantrópicos, 111. Os grandes - como o Hospital das Clínicas (2,2 mil leitos) e Beneficência Portuguesa (1,65 mil), em São Paulo, e Santa Casa de Porto Alegre, com 1,2 mil são exceções.

Eficiência. "Para dar lucro, o hospital precisa ser gerido como uma empresa, mas tem um fator cultural que atrapalha muito: o histórico do surgimento das primeiras instituições assistenciais,que pertenciam a entidades religiosas, como a Santa Casa de Misericórdia", explica Bento. "Quando trabalhei no Samaritano, falar em lucro era quase um pecado."

O processo de profissionalização no setor é recente. "Apenas 90 hospitais no País possuem selo de excelência, ou seja, incorporaram uma ferramenta de gerenciamento, que garante gestão profissional, além de qualidade e segurança no atendimento aos pacientes", diz Maria Carolina Moreno, diretora de relações internacionais da Organização Nacional da Acreditação (ONA).

Existe também um mau uso da rede privada. "Os consultórios médicos estão lotados, e quem fica doente prefere ir ao pronto-socorro do que esperar pelo dia da consulta, que realmente pode demorar um mês", afirma Bento. "Isso é mau uso da rede de saúde suplementar. Os prontos-socorros ficam cheios de casos como inflamação dagarganta ou gripe.É pronto-socorro é para caso de urgência grave."

Envelhecimento. A rede de saúde também começa a sentir os primeiros sinais de envelhecimento da população. Um levantamento feito pela Anahp, mostra aumento nas taxas médias de permanência nos hospitais, crescimento no número de pacientes residentes (quem passa mais de 90 dias internado) e aumento do consumo de materiais e medicamentos.

Dos beneficiários dos planos, 32% têm mais de 80 anos. De 2008 a 2013, os associados que têm de 30 a39 anos passaram de 26% para 34%. Quanto mais velho, maior a probabilidade de o usuário precisar do seguro.

"Só para compensar o aumento de novos beneficiários, que compraram seus planos em 2013, seria necessário um investimento de R$ 7,3 bilhões no setor", diz Balestrin. "O que significaria um acréscimo de 23,2 mil novos leitos.

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Hospitais no Brasil

2.231 Públicos

1.452 Filantrópicos

2.596 Privados 3 ligados a sindicatos

Fonte: O Estado de São Paulo

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