01/01/2008

Pesquisadores derrubam crendices da medicina

Estudo contesta a veracidade de sete mitos populares. Autores recomendam que profissionais tenham cuidado ao informar pacientes



Beba oito copos de água por dia. Se comer peru na noite de Natal, ficará sonolento. Suas unhas e cabelos crescerão mesmo depois de morrer. Não leia no escuro, porque sua vista vai ficar cansada. Você usa apenas 10% do cérebro. Jamais raspe pêlos, porque eles nascerão mais rapidamente e ficarão mais grossos e escuros. Nunca ligue o celular no hospital, pois pode causar interferência nos equipamentos e pôr em risco a vida dos pacientes. Em algum momento, você deve ter escutado essas afirmações por parte de médicos ou de parentes como se fossem verdades absolutas. Esqueça tudo isso. Cientistas norte-americanos decidiram confrontar as teorias e concluíram que essas crenças médicas são mentiras ou, algumas vezes, fatos jamais comprovado.

Rachel Vreeman e Aaron Carroll, da Universidade de Indiana, gastaram um ano em pesquisas nos sites de internet Google e Medline. Após compilarem os dados obtidos e analisarem as provas, publicaram um estudo na revista científica British Medical Journal (BMJ) sobre o tema. "Estávamos espantados com a quantidade de pessoas, incluindo médicos, que acreditavam em coisas jamais comprovadas ou mesmo em inverdades", afirmou ao Correio Carroll. O professor de pediatria reconhece que o fato de ter passado boa parte de sua vida profissional ensinando médicos a tomarem boas decisões motivou-o a analisar os mitos. "O estudo conclui que devemos examinar nossas crenças mais profundas para vermos se realmente são verdadeiras", admitiu.

No artigo da BMJ, os médicos consideram os mitos médicos um lembrete de que os profissionais precisam questionar e entender as pesquisas, sob o risco de propagarem mentiras aos pacientes. "Trabalhamos com várias crenças de uma vez", disse Carroll. De acordo com ele, alguns mitos persistem por serem ilusões de ótica - como é o caso da crença de que as unhas e os cabelos crescem mesmo em cadáveres. "Muitos são ditos por 'especialistas', como membros da família ou médicos. E outros são promovidos por pessoas que aproveitam para fazer dinheiro com isso", acrescentou.

Questionado sobre o que é mentira e o que é verdade não comprovada, Carroll preferiu uma resposta diplomática. "Os mitos quase sempre não podem ser refutados", afirmou. Ele lembrou, por exemplo, que nenhum especialista contestou os mitos gregos. "Há uma preponderância de evidências sugerindo que esses mitos médicos não são verdadeiros. Comer peru, definitivamente, não torna as pessoas mais sonolentas", emendou. Na conclusão do artigo, Carroll e Vreeman sustentam que os médicos devem entender as evidências que apóiam suas decisões finais.



Você acredita?

É preciso beber oito copos de água por dia. Ao contrário, beber água em excesso pode resultar em hiponatraemia - intoxicação por água.

Só usamos 10% de nosso cérebro. Estudos sobre lesões neurológicas mostram que usamos muito mais que 10% do órgão. Nenhuma área do cérebro está totalmente inativa.

Unhas e cabelo crescem após a morte. A desidratação do corpo após a morte pode levar à retração da pele ao redor do cabelo e das unhas, criando aspecto de crescimento. Mas o desenvolvimento dessas partes depende de um ajuste hormonal.

Raspar pêlo o faz crescer mais rapidamente e mais grosso. Estudos recentes comprovam que depilar não afeta a grossura ou a taxa de crescimento do pêlo. A depilação remove a parte morta do pêlo, e deixa intacta a área viva, escondida sob a pele.

Ler com pouca luz estraga a vista. É verdade que ler com pouca luz cansa a vista, e pode diminuir temporariamente sua capacidade, mas nenhum estudo encontrou danos permanentes por causa disso.

Comer peru deixa as pessoas sonolentas. A presença de tryptophan, substância envolvida no controle do sono, levou a esse mito. Mas sua quantidade é reduzida e menor que a encontrada em queijo ou na carne de porco.

Celulares podem causar interferência em hospitais. Nenhuma morte foi registrada por causa de interferência de celulares em equipamentos hospitalares, mas de fato já foram reportadas interferências menores e menos sérias. A pesquisa aponta também que o uso de celulares pode melhorar o fluxo de comunicação entre os médicos.



Fonte: Correio Braziliense

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