09/12/2020
Pesquisa aponta aumento expressivo do número de médicos no Brasil
Trabalho realizado pelo CFM em parceria com a USP traz informações sobre perfil dos médicos e médicas no país; distorções
na distribuição dos profissionais ainda é desafio para gestores
O Brasil tem hoje mais do que o dobro de médicos
que tinha no início do século. Em 2000, eram 230.110 médicos. Em 2020, eles somam 502.475 profissionais.
Nesse período, a relação de médico por mil habitantes também aumentou significativamente,
na média nacional. Passou de 1,41 para 2,4. É o que mostra o estudo Demografia Médica no Brasil 2020,
resultado de uma colaboração entre o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Universidade de São Paulo
(USP).
Os dados apontam que a proporção
de médicos por habitantes no Brasil é superior à do Japão e se aproxima dos índices dos
Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7) e Reino Unido (2,8). “Temos médicos em número suficiente para
atender a população brasileira, o problema está na distribuição. Assim como outros profissionais,
os médicos estão concentrados nos grandes centros”, argumenta o presidente do CFM, Mauro Ribeiro.
OCDE
Segundo mostra
o estudo, em estados das regiões Sudeste e Sul e em cidades mais desenvolvidas a proporção é muito
maior do que a razão de 3,5 médicos por mil habitantes, que é a média dos países da Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Nas capitais brasileiras, essa média fica
em 5,65 médicos por grupo de mil habitantes, sendo que as maiores concentrações foram registradas em
Vitória (13,71), Florianópolis (10,68) e Porto Alegre (9,94).
Para o professor Mário Scheffer, da Universidade de São Paulo (USP), que coordenou
o desenvolvimento do trabalho, o crescimento inédito da força de trabalho médico foi impulsionado pela
abertura de novas escolas médicas e pela expansão de vagas em cursos de Medicina já existentes. “Apenas
na última década, de 2010 a 2019, 179.838 novos médicos entraram no mercado de trabalho no Brasil”,
relata.
Aumento
Nos
últimos 100 anos, o aumento no número de médicos foi proporcionalmente cinco vezes maior do que o de
habitantes. Em 1920, ponto de referência do estudo, existiam 14.031 médicos no país. Um século
depois, a quantidade é 35,5 vezes maior. No mesmo período, a população do país aumentou
6,8 vezes, passando de 30.635.605 para 210.147.125 habitantes.
Até os anos 1970, o crescimento no número de médicos era proporcional ao da população,
aumentando numa velocidade maior durante o regime militar e subindo de forma acelerada desde 2010 (ver gráfico abaixo).
Nos últimos 50 anos, o número de médicos cresceu quase quatro vezes mais que o da população.
Em 1970, o país tinha 42.718 médicos e uma população de 94,5 milhões de pessoas. Em 2020,
são mais de 500 mil médicos para 210 milhões de brasileiros. No período, o número de médicos
aumentou 11,7 vezes, enquanto a população subiu 2,2 vezes.
Esse aumento fez com que nos últimos 40 anos dobrasse a proporção de médicos
por grupo de 1.000 habitantes. Em 1980, o país tinha 0,98 médicos por 1.000 habitantes, proporção
que era de 1,68 em 2010, subiu para 2,00 em 2015 e agora está em 2,4 (veja gráfico abaixo).
Como os médicos podem se inscrever em mais
de um Conselho Regional de Medicina (CRM) e, assim, atender a uma população maior, o número de registros
ativos de médicos 550.024 inscrições no sistema conselhal.
Projeção
A perspectiva é que a proporção de médicos por grupos de 1.000 continue crescendo,
já que os médicos trabalham em média 40 anos e anualmente cresce o número de novos formandos.
Estima-se que, em 2024, 31.849 novos médicos entrem no mercado de trabalho, o que corresponde ao número de vagas
de graduação oferecidas no país em 2017. Esse contingente previsto é mais que o dobro do número
de médicos que se registraram nos CRMs em 2012, que foi de 16.425.
A projeção feita pelo professor Milton de Arruda Martins, também da USP,
é que daqui a 45 anos o Brasil tenha cerca de 1,5 milhão de médicos para aproximadamente 250 milhões
de habitantes. Essa projeção se sustenta no saldo entre o número de médicos que entram e saem
do mercado de trabalho. De 2000 a 2019, por exemplo, 280.948 novos médicos se registraram nos CRMs e 29.584 saíram,
por morte ou cancelamento do registro, gerando um saldo de 251.364.
Recém-formados
Com 342 escolas médicas e a oferta de 35.622
novas vagas anualmente, o Brasil tem hoje uma média de 10,4 recém-formados em medicina para cada grupo de 100
mil habitantes. Este índice é superior aos índices da França (9,5), Chile (8,82), Estados Unidos
(7,76), Canadá (7,7), Coreia do Sul (7,58), Japão (6,94) e Israel (6,9), entre outros países.
A tendência é que, em poucos anos,
o Brasil aumente a proporção de médico recém-formados, alcançado a média de 16 recém-formados
por 100 mil habitantes, hoje existente em Portugal e em países do Leste Europeu. “A nossa taxa tende a aumentar
na medida em que novas vagas de graduação autorizadas recentemente completem seis anos, que é o tempo
de duração dos cursos de medicina”, prevê Hideraldo Cabeça, 1º secretário do
CFM.
Com o aumento de recém-formados,
a projeção é que rapidamente o Brasil ultrapasse a proporção de médicos da OCDE
(3,4). Hoje, o país, com seus 2,4 médicos por mil habitantes, já tem a mesma taxa de um médico
por mil habitantes igual a do Japão, México e Polônia e muito perto do que dispõem o Chile (2,5),
Estados Unidos (2,6), Canadá (2,7) e Reino Unido(2,8). Nos Rio de Janeiro (3,7) e no Distrito Federal (5,1), a proporção
já é maior do que a dos países da OCDE.
Entre as capitais, apenas Porto Velho (3,28), Rio Branco (1,99), Manaus (2,30), Boa Vista (2,32) e Macapá
(1,77), todas na região Norte, têm menos médicos do que o registrado nos países da OCDE.
Para o CFM, está claro que a formação
desenfreada de novos médicos vai impactar o mercado de trabalho. Porém, a preocupação maior da
entidade é com a qualidade dos novos formandos, principalmente àqueles oriundos das faculdades que não
oferecem campos de estágio, hospitais de ensino e outras condições para a boa formação.
“Nosso temor é com a saúde da população, que está sendo atendida por médicos
formados em escolas desestruturadas e sem locais de prática”, argumenta.
Fonte: CFM