03/12/2008

Pesquisa alerta sobre propaganda enganosa

Clínicas oferecem terapias sem eficácia comprovada


Experimentos com células-tronco - tanto embrionárias quanto adultas - ainda estão longe de chegar ao consultório médico como terapias estabelecidas. Ainda assim, a internet está repleta de anúncios de clínicas e hospitais particulares que oferecem "tratamentos" com células-tronco para as mais diversas doenças e traumas, desde alergias até esclerose múltipla e Alzheimer. Ou até para tirar rugas e rejuvenescer a pele.

Segundo um estudo publicado hoje na revista científica Cell Stem Cell, pacientes devem ter muita cautela ao procurar esses serviços. Especialistas alertam que todos os tratamentos com células-tronco noticiados até hoje são experimentais - ou seja, não têm eficácia nem segurança comprovadas em testes clínicos completos, realizados por instituições médicas reconhecidas e com validade científica. Em muitos casos, podem até oferecer risco para os pacientes, que não são sempre devidamente informados sobre isso.

Os autores do artigo fizeram uma busca no Google em 2007 e encontraram 19 sites de clínicas que ofereciam "tratamento com células-tronco" em países como China, México e Rússia. Em seguida, compararam as promessas terapêuticas feitas online com resultados publicados em revistas científicas especializadas. Encontraram duas realidades bastante diferentes.

"Os sites anunciam as terapias como sendo seguras, eficazes e prontas para uso rotineiro em uma ampla gama de problemas", escrevem os pesquisadores da Universidade de Alberta, no Canadá. "Em contrapartida, as evidências clínicas publicadas não dão suporte ao uso rotineiro dessas terapias para o tratamento de doenças."

Segundo os autores, a propaganda pode induzir pacientes a correr riscos desnecessários. Ao mesmo tempo, alimenta expectativas na sociedade que vão além do que a ciência é capaz de oferecer. Eles não encontraram, por exemplo, nenhum estudo clínico com células-tronco para o tratamento de Alzheimer ou Parkinson em seres humanos.

"Sou muito otimista com relação ao futuro das células-tronco na medicina, mas é importante ressaltar que tudo que temos hoje são experimentos. Nada é terapia ainda", diz a geneticista Mayana Zatz, da Universidade de São Paulo. A exceção são os tratamentos de doenças do sistema sanguíneo, como a leucemia, que utilizam transplante de células-tronco da medula óssea, chamadas hematopoéticas.

Mayana dá uma dica fácil para diferenciar entre um experimento clínico e um suposto "tratamento" comercial. "O ensaio clínico nunca é cobrado. Se alguém cobrou alguma coisa, está errado."


REGULAMENTAÇÃO

O artigo canadense foi publicado em conjunto com as novas diretrizes de pesquisa clínica com células-tronco em seres humanos, elaboradas por um grupo de especialistas da Sociedade Internacional para Pesquisas com Células-Tronco (ISSCR, em inglês).
A entidade critica e desaconselha o uso de qualquer terapia experimental fora do ambiente de pesquisa, sem a supervisão de instituições científicas qualificadas.

As células-tronco são células indiferenciadas, capazes de formar vários tipos de tecidos. Especialistas acreditam que, no futuro, elas poderão ser importantes no tratamento de várias doenças e lesões. Centenas de pesquisas estão sendo feitas no mundo - a maioria com modelos animais, mas algumas já com seres humanos.
Muitas trazem resultados positivos, mas que ainda requerem mais estudos para se estabelecer como uma terapia comprovada.


Fonte: O Estado de São Paulo

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