08/04/2022
Natural de Bandeirantes (PR), ia completar 67 anos e tinha 44 de formado pela Católica do Paraná. Vinha atuando como assessor do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio, onde faleceu
O Conselho Regional de Medicina do Paraná registra com pesar no falecimento do médico sanitarista Alvaro Hideyoshi Matida (CRM-PR 6405 e RJ-450023) ocorrido na quarta-feira (6) no Rio de Janeiro, onde residia e concentrou grande parte de sua carreira profissional. Um dos precursores do enfrentamento da epidemia de HIV e AIDS no país, teve destacada trajetória de vida e produção científica, com inestimável contribuição à saúde pública. Ia completar 67 anos no dia 15 de maio e contava com mais de 43 anos de formado.
Paranaense de Bandeirantes, o Dr. Alvaro Matida formou-se em dezembro de 1978 pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Atuou no Estado até 1985, quando se mudou para o Rio, sendo incorporado ao serviço público da Secretaria de Estado da Saúde. Foi o coordenador do Programa Estadual de Controle de DST/Aids até 1997, tendo se dedicado à construção da política da atenção integral às pessoas vivendo com HIV. Ainda atuou como secretário executivo da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), no período de 1997 a 2009, destacando-se pelo trabalho de estruturação da organização. Vinha atuando como assessor do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (CRIS/FIOCRUZ).
A morte do Dr. Alvaro teve ampla repercussão em todo país, com inúmeras manifestações de pesar e solidariedade de entidades como a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, Abrasco, Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro e Fiocruz, bem como de médicos e cientistas que trabalharam com ele. O Dr. Alvaro era especialista em Ciências Aplicadas à Saúde (1981) e Doutor em Saúde Pública - Epidemiologia Geral (2003), ambas titulações pela Escola Nacional de Saúde Pública Fiocruz.
Na homenagem prestada ao médico, a Secretaria de Saúde do Rio lembrou do trabalho pioneiro, “quando, antes das antes das possibilidades de tratamento, as ações engendradas por Matida estavam ancoradas no permanente esclarecimento sobre o novo agravo que acometia gravemente tantas pessoas, e, principalmente, estabelecendo diálogos com vários setores da sociedade para o enfrentamento de estigmas e preconceitos vivenciados pelas pessoas que viviam com HIV/AIDS”. Mais adiante assinalou que ele organizou a comissão estadual, instância que reuniu várias personalidades importantes da época, profissionais de saúde (principalmente dos hospitais universitários que naquele momento eram os únicos locais de atendimento) e organizações da sociedade civil que estavam se organizando também em torno do enfrentamento da epidemia.”
Para a Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS, o médico sanitarista deixa um legado inestimável para a saúde pública. “Foi uma pessoa muito generosa. Lutou para criar um programa de AIDS para o estado num período que quase ninguém na SES-RJ se importava com a epidemia. Depois, como secretário executivo da Abrasco se destacou na construção desta instituição. Uma grande perda”, lamentou o diretor-presidente da ABIA, Richard Parker. A entidade reforçou: “Um dos legados de Matida foi enxergar uma das muitas lições da epidemia de HIV/AIDS: para além de ser um agravo a ser enfrentado, é uma oportunidade de olhar para o outro e construir estratégias para o fortalecimento de laços solidários.”
O Ministério da Saúde, através do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), também emitiu nota de pesar, assinalando que o Dr. Matida “deixa um legado de dedicação no campo da saúde pública, onde identificou tendências para a transformação da realidade da saúde, assim como do cenário social do país. O DCCI se solidariza com a família e amigos, expressando os mais sinceros sentimentos e um profundo agradecimento pelas inúmeras contribuições de Alvaro Hideyoshi Matida”.
O colega médico Dr. Péricles Costa, que atuou no Estados do Rio, SC, SP e Paraná (CRM 19.912), também se manifestou: "Tive a felicidade de conhecer Alvaro Matida (Zé) em meados de 1980, quando trabalhou como sanitarista em projetos comunitários da Maré, no Rio de Janeiro. À época, com Joaquim Cardoso de Melo, seu compadre, desenvolvemos atividades de educação e saúde em escolas públicas deste Estado. Posteriormente, Matida implantou e coordenou o Programa de Aids da SES/RJ. Passados anos, transferiu-se para a Secretaria Executiva da Abrasco, onde desenvolvemos inúmeros projetos que muito contribuíram para a consolidação da nossa Associação. Nos últimos anos, a convite de Paulo Buss, atuou no Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz. Um amigo amoroso, gentil e, bem-humorado como ninguém, Zé espalhou alegria pela vida e nos deixa uma saudade sem fim."