22/07/2014

Pesar pela morte do escritor Rubem Alves

Tinha estreita relação com o CRM-PR, tendo prestigiado a posse de um de seus presidentes e gravado o vídeo motivacional “Vale a pena ser Médico”

O corpo do escritor e educador Rubem Alves foi cremado na tarde do último domingo, no Crematório Metropolitano Primaveras, em Guarulhos, na Grande São Paulo. Ele morreu às 11h50 de sábado (19) após nove dias internado com um quadro de pneumonia. O corpo foi velado no plenário da Câmara Municipal de Campinas, no interior paulista, cidade onde o escritor mineiro morava havia 42 anos. As cinzas deverão ser espalhadas sob um ipê amarelo, para atender a um desejo do escritor.

Além de escritor e pedagogo, Rubem Alves era poeta, filósofo, cronista, contador de histórias, ensaísta, teólogo, psicanalista e acadêmico. É considerado uma das principais referências no pensamento sobre educação e tem uma bibliografia que conta com mais de 160 títulos distribuídos em 12 países. Deixa legado de humildade e perseverança. Natural de Boa Esperança, no sul de Minas Gerais, completaria 81 anos no dia 15 de setembro.

clique para ampliar>clique para ampliarDr. Gerson e Rubem Alves, em 2007.
(Foto: CRM-PR)

Rubem Alves tinha estreita relação com o Conselho Regional de Medicina do Paraná, principalmente por sua amizade com o ex-presidente e atual conselheiro federal Gerson Zafalon Martins que, aliás, em 5 de julho, poucos dias antes do escritor adoecer, conversou longamente com ele por telefone. Conta Gerson que no dia 9, enviou email para relatar a cerimônia de batizado do netinho Francisco, realizado na chácara “de ipê amarelo” que o escritor visitou algumas vezes, na Grande Curitiba. Retribuía a mensagem – “de longe mando a minha bênção para o seu netinho. Toda criança é portadora de esperança. Abraço do Rubem”. Gerson acredita que o amigo não chegou a ver a correspondência eletrônica.

Rubem Alves está presente em destaque no vídeo institucional do CRM-PR "Vale a pena ser Médico", gravado há exatos 10 anos. No clipe, o escritor fala de sonhos, de esperança, de solidariedade e da responsabilidade da profissão. A participação de Rubem – autor dentre outros do livro “O Médico” – foi toda graciosa, em homenagem aos médicos e às futuras gerações de médicos. O escritor também esteve na sede do Conselho para prestigiar a mostra de charges e cartuns “Doutores do Humor” e para a posse de Gerson Zafalon na presidência da autarquia, em fevereiro de 2007, quando proferiu palestra e autografou livros levados pelos convidados.

"Uma perda inestimável", registrou o atual presidente do CRM-PR, Mauricio Marcondes Ribas, destacando o quanto Rubem Alves representa para a cultura do país. Também cita a sua estreita relação com a Medicina, incluindo sua atuação no campo da psicanálise. E cita o próprio escritor para referenciar este momento: "A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente".

Notícia do falecimento

O escritor Rubem Alves, de 80 anos, morreu no fim da manhã de sábado (19) em decorrência de falência múltipla de órgãos, segundo o Centro Médico de Campinas (SP). O educador deu entrada no hospital com quadro de insuficiência respiratória devido a uma pneumonia e estava internado desde o dia 10 de julho na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O óbito ocorreu às 11h50.

Na manhã deste sábado, o hospital havia enviado um boletim médico para informar que o paciente teve um agravamento da condição circulatória, e que caminhava para a falência múltipla de órgãos. Nos dias anteriores, Alves havia apresentado piora nas funções renais e pulmonar.

O corpo do escritor foi velado na Câmara de Vereadores de Campinas. Inicialmente, a previsão era que a cerimônia iniciasse às 18h, mas, segundo Marcos Nooper Alves, filho do educador, houve atraso na liberação do corpo. "Sempre foi um pai maravilhoso, sempre esteve ao lado da família, foi preocupado com os filhos, com os netos. O legado que ele deixa é o legado da simplicidade. Ter mostrado que com as coisas simples, com o vento, as árvores, a gente pode ser muito feliz", disse o filho, de 52 anos.

Intelectual respeitado

Alves nasceu no dia 15 de setembro de 1933 em Boa Esperança, no Sul de Minas Gerais, e morava em Campinas há décadas. Um dos intelectuais mais respeitados do Brasil, Alves publicou diversos textos em jornais e revistas do país e atuou como cronista, pedagogo, poeta, filósofo, contador de histórias, ensaísta, teólogo, acadêmico, autor de livros infantis e até psicanalista, de acordo com sua página oficial na internet.

Educado em família protestante, estudou teologia no seminário Presbiteriano do Sul. Tornou-se pastor de uma comunidade presbiteriana no interior de Minas e casou com Lídia Nopper, com quem teve três filhos, Sérgio, Marcos e Raquel. O autor afirmava que descobriu que podia escrever para crianças ao inventar histórias para a filha.

Em 1963, viajou para Nova York para fazer uma pós-graduação. Retornou à paróquia em Lavras (MG), no período da ditadura militar, e foi listado entre pastores procurados pelos militares. Saiu com a família do Brasil e foi estudar em Princeton, também nos Estados Unidos, onde escreveu a tese de doutorado, que foi publicada em 1969 por uma editora católica com o título de 'A Theology of Human Hope' (Teologia da Esperança Humana).

Retornou ao Brasil em 1968 e demitiu-se da Igreja Presbiteriana. No ano seguinte foi indicado para uma vaga de professor de filosofia na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Rio Claro (Fafi), atual Unesp, onde permaneceu até 1974.

No mesmo ano ingressou no Instituto de Filosofia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), onde fez a maior parte da sua carreira acadêmica até se aposentar no início da década de 1990. Em 1984 iniciou o curso para formação em psicanálise e teve uma clínica até 2004.

Escritor

O escritor dizia que com a literatura e a poesia começou a realizar seu sonho fracassado de ser músico. Citava como referências Nietzsche, T. S. Eliot, Kierkegaard, Camus, Lutero, Agostinho, Angelus Silésius, Guimarães Rosa, Saramago, Tao Te Ching, o livro de Eclesiastes, Bachelard, Octávio Paz, Borges, Barthes, Michael Ende, Fernando Pessoa, Adélia Prado e Manoel de Barros.

Entre as obras infantis dele estão "A volta do pássaro encantado" e "A pipa e a flor". Alves escreveu também sobre teologia, filosofia, educação, além de crônicas. É autor de "Tempus fugit", "O quarto do mistério", "A alegria de ensinar", "Por uma educação romântica" e "Filosofia da ciência", e diversos outros. Em 2009 ficou em 2º lugar do Prêmio Jabuti na categoria Contos e Crônicas, com o livro "Ostra Feliz Não Faz Pérola".

Educador

Sobre a paixão pela educação, escreveu: "Educar não é ensinar matemática, física, química, geografia, português. Essas coisas podem ser aprendidas nos livros e nos computadores. Dispensam a presença do educador. Educar é outra coisa. [...] A primeira tarefa da educação é ensinar a ver. [...] Quem vê bem nunca fica entediado com a vida. O educador aponta e sorri – e contempla os olhos do discípulo. Quando seus olhos sorriem, ele se sente feliz. Estão vendo a mesma coisa. Quando digo que minha paixão é a educação estou dizendo que desejo ter a alegria de ver os olhos dos meus discípulos, especialmente os olhos das crianças".

Em entrevista à Globo News em agosto de 2012, Rubem Alves defendeu que a educação no Brasil deveria passar por mudanças. “Na educação a coisa mais deletéria na relação do professor com o aluno é dar a resposta. Ele tem que provocar a curiosidade e a pesquisa”, disse.

A prova do vestibular também foi alvo de críticas à época. “Se os reitores das universidades fizessem o vestibular, seriam reprovados, assim como os professores de cursinho. Então, por que os adolescentes têm que passar?”, indagou.

Morte e religião

Em um texto biográfico no site oficial, o educador escreveu trechos sobre a morte. "Eu achava que religião não era para garantir o céu, depois da morte, mas para tornar esse mundo melhor, enquanto estamos vivos."

Nota na íntegra do hospital

O intensivista e cardiologista do Hospital Centro Médico de Campinas, Roberto Munimis, acaba de informar a rápida evolução no quadro do paciente Rubem Alves, que veio a óbito por falência múltipla orgânica, às 11h50 do dia 19 de julho de 2014. Rubem Alves deu entrada no Centro Médico de Campinas no dia 10 de julho de 2014 e desde então está na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por apresentar insuficiência respiratória devido a uma pneumonia.

Fonte: CRM-PR com informações do O Globo

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