26/03/2021
Patologista e emergencista tiveram complicações pela Covid-19 e faleceram em intervalo de 24h, elevando a pelo menos 55 o n.º de médicos vitimados pela doença no PR. Dr. Chenso, da linha de frente, era professor, escritor, historiador e artista
A Medicina paranaense perdeu dois médicos com atuação em Londrina, em pouco mais de 24 horas, em decorrência de complicações decorrentes da Covid-19, com o que eleva a pelo menos 55 o número de profissionais vitimados pela doença no Estado. Faleceram o Dr. Ronaldo Dobner de Vasconcellos Barros (CRM-PR 9.230), especialista em patologia e patologia clínica/medicina laboratorial, e o Dr. Paulo André Chenso (CRM-PR 7.649), especialista em clínica médica/medicina de urgência, também professor, historiador e escritor, sendo autor de obras como “Manual para a vida” e “50 Anos do Curso de Medicina de Londrina”. As condolências da classe médica aos familiares e amigos.
Natural de Belo Horizonte (MG) e prestes a completar 64 anos de idade (em 6 de maio), o Dr. Ronaldo Barros faleceu na tarde de quarta-feira (24) em hospital de Londrina. Lutava contra um câncer e teve o quadro agravado por causa da Covid-19. O sepultamento ocorreu no início da tarde de quinta-feira (25) em Ibiporã, após velório restrito à família na capela 1 da Acesf. Tinha completado 40 anos de formação médica. O Prof. Paulo Chenso era natural de Centenário do Sul (PR) e tinha 69 anos de idade (completou em 29 de dezembro) e 41 de formação médica. Estava na linha de frente do combate à pandemia. Faleceu na noite de quinta-feira (25) depois de vários dias de internamento. A despedida ocorre na capela 1 do Cemitério Parque das Allamandas, em Londrina, com o sepultamento ocorrendo às 13h desta sexta-feira (26). Londrina tinha fechado a quinta-feira com 44,2 mil casos e 913 óbitos pela Covid-19.
Dr. Ronaldo Dobner de Vasconcellos Barros
Formou-se em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, em dezembro de 1981. Registrou-se inicialmente no Conselho de Medicina do Rio de Janeiro (n.º 385570), em março de 1982. Dois anos depois transferiu-se para o Paraná, indo se radicar em Londrina, onde exerceu a atividade em várias empresas. Era casado com a Sra. Márcia e deixa filhos.
O Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro emitiu nota de pesar: “A Faculdade de Medicina, consternada, comunica o falecimento do Dr. Ronaldo Dobner de Vasconcellos Barros, da turma formada em 1981, com marcante atuação na área de Patologia (Clínica e Laboratorial). Inquebrantável em sua luta pela vida, sempre cordial e muito estimado entre os seus pares, também sobressaía pela excelência profissional. Representou toda uma geração de médicos dignamente e de forma exemplar, manifestando-se fiel aos preceitos da Medicina. A Faculdade de Medicina expressa suas condolências à família e se solidariza com os amigos, colegas de turma e entes queridos pela perda inestimável”.
Também nas redes sociais houve muitas manifestações de pesar e solidariedade. Uma colega de formação registrou: ”Acabo de saber que nosso querido amigo Dr. Ronaldo Vasconcellos Barros descansou. Foi uma luta cruel contra um câncer pancreático e, por último, sequelas pulmonares da Covid. Oramos incessantemente, clamamos, unimos o grupo de amigos para interceder junto ao Pai. Deus, em Sua misericórdia, permitiu o descanso. Oro, agora, pela querida Márcia e seus filhos e demais familiares, para que sejam abraçados e consolados por Aquele que tudo sabe do Princípio ao Fim. Até breve, querido Rô. Fará muita falta nos próximos encontros da Turma da Faculdade.”
Dr. Paulo André Chenso
Graduado em Medicina pela Universidade Estadual de Londrina, em dezembro de 1980, além de História pela mesma escola em 2004, o Dr. Paulo era multifacetado. Era médico, professor, pesquisador, historiador, escritor, poeta, ilustrador e desenhista. Como profissional, atuou na Santa Casa e no Mater Dei, em Londrina, por 39 anos. Atualmente, trabalhava no Pronto Atendimento da Unimed. Deixa a esposa Mariângela Zuan Benedetti Chenso e filhos.
Como escritor, uma das obras do Dr. Paulo Chenso é o livro que retrata o cinquentenário de fundação do curso de Medicina da UEL (leia mais). Foi lançado em outubro de 2019, na Associação Médica de Londrina, em meio às comemorações alusivas ao Dia do Médico. Especialista em História da Arte, tinha lançado seu primeiro livro em 1998, “O navegante negro e a chibata”. Poucos anos depois publicou “Chopin não morreu de tuberculose”, obra em que refuta a hipótese de que a doença nos pulmões teria levado o músico a óbito. Foi autor ainda do famoso “Manual para a vida” e de "A cultura assassinada". O presidente da Unimed Londrina, Omar Taha, que tinha proximidade e atuou em muitos plantões com o Dr. Paulo Chenso, resumiu: “Ele tinha muitos predicados. Era um intelectual e escrevia muito bem. Pesquisava muito. Tinha uma verve de produção literária. Fez romances, contos e livros históricos. Ele era uma pessoa excepcional”.
A morte do ilustre médico teve ampla repercussão nas redes sociais, atestando o quanto era respeitado e admirado. Um amigo publicou: “Hoje amanheci de luto. Meu grande amigo Paulo André Chenso foi para casa do Pai. Meu amigo desde o cursinho. Trabalhamos juntos como professor toda a vida. Médico dedicado, historiador, professor, escritor, pesquisador, artista, pai exemplar, amigo inigualável, o Chenso não tem substituto, sempre foi único. Que Deus console a Mariângela, Marina, André e Paulinho, sua família amada e a nós, seus amigos, que teremos que nos acostumar com sua ausência física, pois sua lembrança permanecerá eternamente entre nós. Vá Chenso para casa do Pai. Seus sonhos, sua obra e toda sua vida estará para sempre na lembrança dos que te conheceram. Vá com Deus brother.”
Outro colega registrou: “Hoje perdemos mais um companheiro, parceiro de muitos plantões, Amigo Dr. Paulo André Chenso. Médico excepcional, profissional que lutou até o fim contra essa doença maldita Covid 19. Deixo aqui minha homenagem àquele que nunca mediu esforços para ajudar e salvar Vidas. Homem honrado, artista e amigo de todos sem distinção de classe. Está fazendo falta meu Amigo. Que o Papai do Céu te receba de braços abertos, e que conforte o coração de todos os familiares e amigos. Cumpriu seu Papel nesta Terra.”
Em outra mensagem, médico reforçou: “Que notícia triste. Perdemos um grande homem e exemplo de profissional e, sobretudo, um amigo, Paulo André Chenso, que me ajudou muito nos meus anos de Santa Casa e de faculdade. Que Deus console a família nesse momento difícil”. Outro completou: “Hoje perdemos um grande companheiro para a Covid, Dr. Paulo André Chenso. Homem honrado, digno, inteligente, humano demais. Um jeito todo seu de trabalhar, de atender. Ele brigava, reclamava, mas não sabia dizer não... sempre ganhava dele. Acolhia a cada um, sem distinção. Desses diferentes mesmo! Fez parte da minha história humana e profissional, com sua forma de tratar o outro, o próximo, com toda dignidade. Amava e respeitava a enfermagem, adorava cafés, confraternizações. Tinha muitos talentos. Nestes tempos, com todos os riscos, quis seguir atendendo e se dedicando (não seria diferente, sempre fez isso). Para ele, o Céu bem pertinho de Deus. Para nós, a saudade e as boas memórias... Trabalhei com ele na Iscal. A você, Chenso, a minha homenagem! À família, meus sinceros sentimentos e que Deus conforte os vossos corações.”
Em 2016, o Portal do CRM-PR reproduziu um artigo do Dr. Chenso, publicado moriginalmente no jornal Folha de Londrina, com o título "As portas de um hospital", onde descrevia a rotina de plantão hospitalar. Em homenagem ao médico, reproduzimos abaixo um trecho de seu artigo, cuja íntegra pode ser conferida aqui.
“As portas de um hospital são inferno e paraíso ao mesmo tempo. Ali choram parentes por seus entes queridos que se foram. Ali também, parentes riem e choram de alegria, por seus entes queridos curados, que vão para casa. Ora lágrimas de dor, ora lágrimas de alegria. Angústias esmagadoras, esperanças desesperadas agarram-se às macas ensanguentadas que correm pelos corredores do pronto-socorro, numa última tentativa de tocar o ente querido acidentado. Mas as portas, frias e sem alma, se fecham atrás deles, deixando na sala de espera três ou quatro corações disparados, apertados, dilacerados... Mas cheios de fé, de esperança que os médicos farão ‘algo’ para salvar a vida tão preciosa…”.