Feminista pioneira de Curitiba, tinha 106 anos e era irmã da Dra. Wladyslawa Wolowska Mussi, uma das primeiras formandas em
Medicina no Estado, em 1932, e a primeira médica de SC
Faleceu em Curitiba no dia 9 de agosto (segunda-feira),
a Dra. Elvira Wolowska Kenski, a primeira mulher a ser diplomada em Odontologia no Paraná, em 1938. Estava prestes
de completar 107 anos (22 de setembro). Sua irmã mais velha era a Dra. Wladyslawa Wolowska Mussi, uma das primeiras
mulheres a ingressar e se formar em Medicina pela UFPR e que é considerada a primeira médica de Santa Catarina,
estado onde se radicou juntamente com o marido, o também médico Antônio Dib Mussi. A dra. Wladyslawa,
formada em 1932, faleceu em julho de 2012, a poucos dias de festejar os 102 anos de idade.
A morte da pioneira na luta pelos direitos das mulheres no
cenário paranaense gerou grande repercussão na Capital. O sepultamento ocorreu na tarde de 10 de agosto no Cemitério
Municipal São Francisco de Paula. O Conselho Regional de Odontologia do Paraná decretou luto de três dias
e emitiu nota lamentando a partida de uma mulher "à frente de seu tempo", que trabalhou até os 80 anos de idade.
O CRM-PR também se alinhou à corrente de solidariedade aos familiares e amigos da dentista, filha de poloneses
e que nasceu em Curitiba. Foi casada com o advogado Miecislao Napoleão Kenski e teve cinco filhos. Deixou ainda netos
e bisnetos.Uma experiência de trabalho
com um dentista, em 1926, quando tinha 12 anos, fez com que Elvira se apaixonasse pelo ofício. Dez anos depois ela
ingressava na curso de Odontologia da Faculdade do Paraná (ainda não federalizada), juntamente com a amiga Joana,
sendo então as primeiras mulheres nesse ramo, depois do incentivo da irmã mais velha, Wladyslawa, a esta altura
já formada em Medicina. Foi a primeira mulher a usar calça comprida na capital paranaense, como repetiu em várias
entrevistas que concedeu, uma delas ao jornal Bem Paraná, quando reforçou que a peça de roupa havia sido
adquirida em São Paulo, onde tinha ido participar de um congresso. O uso em Curitiba gerou grande alvoroço,
mas provocações, mas também abriu espaço para que outras moças aderissem à moda.
Nos anos 1930, Dona Elvira também participou
dos protestos que acabariam por estender o direito de voto ás mulheres: “Eu fui (nos protestos), claro. Era nosso
direito. Dizia que se fosse preciso, me vestia de homem para votar". Já formada e atuando na área com seu
próprio consultório – que herdara do dentista João Paul, seu mentor na atividade -, Dona
Elvira casou-se. Pouco tempo após o casamento, porém, precisou fazer algumas compras para dar continuidade ao
seu negócio. “Fui dar o cheque na loja e não aceitaram porque eu era casada. Então o meu marido
tinha de assinar o cheque embaixo, porque eu era mulher. Para que eu pudesse trabalhar, ele teve de ir num cartório
para me dar autorização para que eu pudesse exercer a profissão e trabalhar no consultório que
já era meu”, recordou na entrevista, citando que o marido, que trabalhou no Banco do Brasil e no Banco Central,
não se incomodava com a sua postura combativa. “Ele sabia que eu fazia tudo isso porque queria que a coisa fosse
para frente. E ele também era polonês, conhecia nossa história. Então também ajudava
ou ficava mudo enquanto a gente fazia as coisas”.
A irmã Wladyslawa, ou Dra. Wladys como era conhecida, também foi uma das pioneiras nos cursos
da área de saúde que na década de 1930 eram quase exclusividade para homens. Após obter seu título,
seguiu com o marido médico para trabalhar em Santa Catarina. Teve três filhos, um deles seguindo os passos na
Medicina, o cardiologista Mario Wolowski Mussi (CRM-SC 509). Antônio Dib Mussi, o marido, faleceu em março de
1959 no Imperial Hospital da Caridade, em Florianópolis, a mesma instituição onde a Dra. Wladys foi internada
em 10 de julho de 2012, após sofrer uma queda em casa. Faleceu no dia 14, devido a complicações pela
cirurgia. No dia 11 de agosto ela completaria os 102 anos de idade. Na passagem do aniversário de seu nascimento (111
anos neste 2021), a homenagem à memória da médica pioneira. A médica tinha se registrado em janeiro
de 1959 no Conselho de Medicina de Santa Catarina, obtendo o número 140.