05/07/2018
Formado pela UFPR em 1959, atuou em Santa Catarina e residia na Grande Curitiba desde a aposentadoria
O Conselho Regional de Medicina do Paraná registra com pesar o falecimento do médico Iran Domingos Pizzolatti Alves (CRM-SC 442) ocorrido nesta quarta-feira (4) no Hospital Santa Cruz, em Curitiba. Ele tinha 88 anos. O corpo foi velado na capela mortuária Perpétuo Socorro, em Campo Largo, com a cerimônia de despedida de familiares e amigos às 11h desta quinta (5).
Nascido em Araranguá (SC), em maio de 1930, formou-se em medicina pela Universidade Federal do Paraná, em 1959, tendo atuado por mais de três décadas nos municípios catarinenses de Iomerê e Joaçaba. Depois de se aposentar, voltou a Curitiba, onde se dedicou a escrever sobre literatura médica.Quando do lançamento, ele descreveu: “Araranguá era uma cidade pequena na época. A Faculdade de Medicina do Paraná era a única maneira de estudar. Eu precisava vir para cá. Como sempre trabalhei e remava com meu pai para conseguir peixes para a nossa alimentação, tinha um bom porte físico e passei no teste do exército como tipo A. Fiz de tudo para vir para Curitiba, mas queriam me enviar para o Batalhão da Guarda no Rio de Janeiro. Papai teve de conversar com muita gente até que conseguíssemos que eu viesse para Curitiba. Na época eu servia no Boqueirão e vinha de bonde para estudar no centro. Fiz curso de cabo, sargento e passei sempre nos primeiros lugares. Queriam que eu ficasse por lá, mas eu queria a Medicina.”
Antes de ingressar na faculdade, trabalhou como enfermeiro no hospital da Cruz Vermelha. “Eu trabalhava doze horas por dia e estudava na biblioteca. Quando pedi demissão, não me deixaram sair. Tive de fugir para poder estudar mais e prestar o vestibular para Medicina. Fiz o vestibular e passei em Química e Física, mas faltaram três centésimos para passar em Biologia. Então consegui um emprego na Saúde Pública e voltei a estudar. Passei em 55º lugar entre 1.500 candidatos. Hoje o vestibular é de cruzinhas, mas no meu tempo tinha provas escritas e orais, que dependiam muito até do humor do professor que nos avaliava no dia.”
As passagens relatadas com detalhes em cada um dos capítulos do livro citam, por exemplo, como o Dr. Iran usava fio de algodão para fazer suturas, água oxigenada para curar micoses e que trazem os “dizeres” de seu primeiro cartão de visitas: “Dr. Iran Domingues Pizzolatti Alves – Médico Operador – Clínica de adultos e crianças – Doenças de Senhoras”.
Uma reflexão do médico feita à época do lançamento da obra: “Naquele tempo, a Medicina era realmente Medicina. Fazíamos Medicina com o coração, ouvíamos atentamente as queixas, tomávamos suas dores e procurávamos de todos os meios para ajudá-lo a resolver seus problemas, nos tornávamos seu amigo, seu confidente. Hoje, quando converso com alguém e digo que era médico do interior, invariavelmente me perguntam qual era minha especialidade e eu respondo que quando me formei não existia Residência, e que eu fazia de tudo um pouco: clínica, cirurgia geral, obstetrícia, juntava casal e separava casal. Tínhamos de atender e resolver. Por isso os dizeres no meu primeiro bloco de receituário.”