Dr. Sivan Mauer discutiu o possível uso do lítio no tratamento da Encefalopatia Traumática Crônica (ETC); mesa contou ainda
com a presença dos psiquiatras Nassir Ghaemi e Bennet Omalu
No maior evento de Psiquiatria do mundo - o Congresso
Anual da Associação Americana de Psiquiatria (APA) -, ocorrido entre os dias 18 e 22 de maio na cidade norteamericana de São
Francisco, o médico paranaense Sivan Mauer (CRM-PR 19.196) participou de mesa redonda para discutir o possível uso do lítio
no tratamento da Encefalopatia Traumática Crônica (ETC), doença anteriormente conhecida como “demência pugilística” e que
ficou amplamente conhecida após o filme “Um homem entre gigantes” (Concussion, 2015). A ETC é uma doença degenerativa
do cérebro que pode ser desencadeada após repetidos traumas cranianos.
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para ampliarCongresso Anual da APA ocorreu na cidade de São Francisco, nos EUA (Foto: Arquivo pessoal)
Ao lado de seu orientador, o psiquiatra Nassir Ghaemi, e
do neuropatologista Bennet Omalu – que ficou conhecido por descobrir achados de ETC em jogadores de futebol americano da National
Football League (NFL) e ter estrelado o filme sobre o assunto -, Dr. Mauer discutiu as hipóteses levantadas pelo artigo que escreveu em conjunto com os outros dois médicos. Com o tema “Chronic
Traumatic Encephalopathy: Challenges for Psychiatry”, a mesa redonda ocorreu no dia 20 e contou também com a participação
da bióloga Amanda Woerman, professora da Universidade da Califórnia.“Publicamos esse artigo recentemente na revista Bipolar Disorder, no qual apresentamos uma
provável hipótese de tratamento e prevenção para uma doença que não possui nenhum tipo de tratamento até hoje”, explica o
Dr. Mauer. Ele avalia, ainda, que o assunto é especialmente interessante por levantar a possibilidade de atletas que praticam
esportes com contato físico e potenciais traumas cranianos desenvolverem a doença. O psiquiatra ressalta que, apesar de o
assunto ter ganhado notoriedade por acometer jogadores de futebol americano, há evidências de que a doença ocorra também em
jogadores de futebol, como o capitão da Seleção Brasileira na Copa de 1958, Bellini, morto em 2014.
clique
para ampliarDr. Sivan Mauer (esq.) e Dr. Nassir Ghaemi durante o evento da APA (Foto: Arquivo pessoal)
“O lítio pode ser uma saída para esses pacientes porque
há dados muitos robustos de que ele previne a demência, o suicídio e os transtornos de humor e impulsividade, características
marcantes dos pacientes com ETC”, pontua. O medicamento teria ação tanto em relação às características clínicas – tratamento
e prevenções primária (para que a doença não se instale) e secundária (para prevenir sintomas da doença já instalada) – como
em relação às fisiopatológicas.
Neste último caso, a substância pode interferir no desenvolvimento
da doença, inibindo tanto a proteína tau, que se desdobra de forma patológica e sofre agregações neurofibrilares nos pacientes
acometidos pela ETC, como, principalmente, na proteína GSK3 Beta, auxiliando na diminuição da proteína tau fosforilada.
Dr. Mauer ressalta que o estudo das propriedades
farmacológicas do lítio é foco de suas pesquisas desde 2014, quando, em revisão bibliográfica, em conjunto com Nassir Ghaemi,
identificou que mesmo doses muito baixas da substância podem ser efetivas na prevenção de demência e depressão. “O lítio é
a principal droga da psiquiatria. Ele é extraído de uma rocha chamada petalita, mas há também lugares em que a água é muito
rica nessa substância. Nesses locais, identificamos taxas menores de crime e suicídio na população”, comenta.
Formação
Formado em Medicina
pela PUCPR em 2002, Dr. Mauer é especialista em Psiquiatria com área de atuação em Psiquiatria da Infância e Adolescência.
É mestre em pesquisa clínica pela Boston University School of Medicine, doutorando em psicogeriatria no Instituto
de Psiquiatria da Universidade de São Paulo e professor colaborador da Universidade de Jundiaí na disciplina de Psicogeriatria.
Especialista em transtornos do humor, é editor de
psiquiatria no Brasil do site americano Medscape e integrante da Câmara Técnica de Psiquiatria do CRM-PR. Após morar
por três anos nos Estados Unidos, onde realizou mestrado e fellowship, Dr. Mauer foi convidado a atuar como professor
assistente (clinical faculty) na Tufts University School of Medicine, onde realiza a maior parte de seu
trabalho científico.