24/09/2012
Para onde está indo a Medicina?
Seria realista pensar que a incorporação das novas técnicas, com os avanços diagnósticos e terapêuticos, apon¬ta para um futuro
brilhante! Todavia, se a história nos ensina que o progresso não é constituído apenas de coisas boas, também nos alerta para
o peso das condições socioeconômicas, sobre o papel que, individualmente, devemos ter na sua realização.
Vivemos um tempo de aparente contradição: nunca a ciência médica teve tanta informação sobre o cuidar da saúde e como
capacitar seus iniciados; por outro lado, os desafios para propiciar acesso universal aos pacientes e treinamento de qualidade
aos médicos continuam quase insuperáveis.
No Brasil, as contradições são ainda mais injustas. A distância daquilo que se deveria garantir à população é cada vez
maior. Na área da saúde, se não bastasse a discussão sobre a dicotomia entre falta de recursos e capacidade de gestão, ainda
convivemos com medidas demagógicas sobre as reais necessidades da população.
Esse cenário se reveste de mais tragédia quando o governo, por visão equivocada e desconhecimento da experiência mundial,
propõe soluções que ignoram a realidade do trabalho na área da saúde.
É dos princípios da lógica clássica que de presunções erradas só serão possíveis conclusões equivocadas. Nos últimos meses
temos convivido com manifestações sobre a falta de médicos no Brasil. Se isso é uma afirmação parcialmente verdadeira, deveria
ser utilizada como instrumento de reflexão sobre outro fenômeno não menos verossímil: a concentração dos profissionais de
saúde em determinadas localidades e ausência em outras. A observação despretensiosa da realidade constataria que, mesmo em
locais de alta concentração de médicos, também há falta desses profissionais nas unidades de saúde.
Assim, impõe-se um olhar mais crítico sobre esse tema. Infelizmente, o mundo real não é tão simples, e é lamentável que
governantes desconheçam a história e as experiências de outros países e tentem inventar sua própria roda. Não há nenhum desdouro
em procurar novos caminhos, desde que não seja mais uma tentativa de reinventar a quadradura do círculo!
Artigo escrito por Bráulio Luna Filho, diretor 1º secretário do Cremesp.